Giatex quer mudar paradigma da água

Com um investimento superior a 23 milhões de euros, o projeto português Giatex, que inclui 13 empresas de diversos subsectores da ITV, promete revolucionar a gestão da água no processamento de têxteis e vestuário.

O Giatex – Gestão Inteligente de Água na ITV foi apresentado publicamente por José Morgado, diretor do departamento de Tecnologia e Engenharia do CITEVE, no final de 2021, no evento Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial, promovido pelo IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação.

«A indústria têxtil e, em específico, os processos em húmido, maioritariamente os de enobrecimento têxtil, nomeadamente a tinturaria, estamparia e acabamentos, são os principais consumidores de água ao nível da manufatura dos produtos têxteis», afirmou José Morgado, adiantando que, «de acordo com os dados disponíveis, estima-se que a média de consumo de água ronde os 148 litros por quilo de produto processado. O consumo de grandes quantidades de água, a que se associa a energia gasta para o seu aquecimento e arrefecimento, levanta sérios problemas ao nível da sustentabilidade e viabilidade económica das empresas do sector têxtil. Por esta razão, as empresas têxteis nacionais, mais especificamente as empresas de enobrecimento, têm-se deparado com a necessidade recente de alterar e adaptar os seus processos de forma a garantirem a gestão do recurso água. É com este objetivo – minimizar e gerir inteligentemente o consumo de água na ITV – que surge o projeto Giatex», justificou, citado pelo Jornal Têxtil.

Com um investimento total de 23.473.077 euros, o projeto é liderado pela Adalberto, a que se juntam mais 12 empresas da indústria têxtil e vestuário – Acatel, Albano Morgado, Crispim Abreu, Domingos de Sousa, Fitecom, JF Almeida, Rifer, Riopele, Somelos, Tinamar, Tintex e Valérius – assim como empresas de outras áreas, nomeadamente de auxiliares químicos, e entidades do sistema científico e tecnológico, incluindo a Universidade da Beira Interior, o Inesc-Tec, o Inegi, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a Universidade do Minho, incluindo com o 2C2T – Centro de Ciências e Tecnologias Têxteis, e a associação Fibrenamics. O CITEVE é o coordenador científico.

José Morgado [©IAPMEI]
«Ao nível das empresas, 13 são da área têxtil, representativas das várias tipologias de processos de enobrecimento têxtil, nomeadamente rama, fio, tecido, malha, peça confecionada, que transformam fibras que vão desde o algodão à lã, sintéticas e misturas, bem como empresas de têxteis-lar, empresas de vestuário moda e empresas de têxteis técnicos», destacou José Morgado.

13 unidades-piloto

Com o objetivo de criar ferramentas e sistemas de apoio à decisão para que as empresas de enobrecimento têxtil tenham informação que lhes permita a gestão inteligente da água de forma a reduzir ao máximo a sua utilização e melhorar a qualidade global dos produtos processados, o Giatex apresenta como estratégia o estudo dos processos em húmido e definição de possíveis medidas/estratégias de redução de água, I&D em estratégias inteligentes de recirculação de água para reaproveitamento nos processos existentes, em tecnologias de enobrecimento com menores consumos de água e em tecnologias diferenciadoras e sinérgicas de tratamento de águas residuais, o desenvolvimento de sistemas de sensorização e monitorização online e o desenvolvimento de uma ferramenta de apoio à decisão sobre o destino final a dar à água resultante de cada etapa do processo de enobrecimento.

«Ao nível dos objetivos específicos do projeto, temos a implementação in situ de 13 unidades-piloto, aplicadas a cada uma das tipologias das empresas do consórcio e que integram todas as soluções desenvolvidas ao longo do projeto, e desenvolvimento de uma ferramenta de inteligência artificial que permitirá a implementação de um novo paradigma na gestão da água, mais económico, mais sustentável e mais inteligente, que servirá como plataforma de controlo do processo, uma vez que reúne todos os dados adquiridos em tempo real e fornecerá indicação ao responsável da produção sobre a prática mais adequada para a gestão da água», revelou o diretor do departamento de Tecnologia e Engenharia do CITEVE.

Estes objetivos traduzem-se no desenvolvimento de vários

[©IAPMEI]
produtos, processos e serviços, nomeadamente: sistemas de monitorização e controlo; metodologias de recirculação de água; tecnologias de enobrecimento têxtil mais limpas e menos dependentes do recurso água; tecnologias de tratamento de águas residuais; e ferramentas de inteligência artificial facilitadoras de um novo paradigma na gestão da água.

«Com a realização deste projeto preveem-se ainda pelo menos cinco artigos científicos e dois pedidos de patente, pelo menos mais 62 novos postos de trabalho e 13 cursos de formações de especialização em três áreas distintas», apontou José Morgado, que salientou que «este é um projeto diferenciador porque pretende contribuir para uma estratégia de ciclo fechado em que toda a água utilizada é reaproveitada e reintroduzida no processo. Com isto, não só beneficiarão as empresas têxteis, mas também as empresas de desenvolvimento de novos químicos auxiliares e ainda empresas desenvolvedoras de equipamento, tratamentos de água, membranas, filtros, etc.». Além disso, «a gestão da água permitirá produtos de melhor qualidade, com um custo produtivo mais baixo e uma menor pegada carbónica», acrescentou.

Aliás, está previsto o aumento de 3,36% no rácio valor acrescentado bruto (VAB)/valor bruto de produção (VBP) e «uma redução no consumo de água de, no mínimo, 20 metros cúbicos por tonelada de produto processado», que se traduz numa redução de 15% no consumo de energia e emissões de CO2 equivalente. Antevê-se ainda um efeito de escala resultante do conhecimento produzido neste âmbito. «Facilmente se prevê que este conhecimento possa ser escalado para mais de duas centenas de empresas do sector têxtil», concluiu José Morgado.

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