Composta por crianças nascidas entre 2010 e 2025, a Geração Alpha define-se como a primeira a ser nativa digital, com os dispositivos móveis e as redes sociais omnipresentes na sua vida quotidiana. São também, segundo um artigo do Sourcing Journal, mais conscientes e focados nas questões da sustentabilidade e da inclusão, áreas onde a moda tem vindo a dar passos nos últimos anos.
O sociólogo Mark McCrindle, que terá cunhado a expressão Geração Alpha, estima que nasçam semanalmente 2,5 milhões de Alphas em todo o mundo, com a geração a dever atingir uma população de 2 mil milhões até 2025.
O mercado de vestuário de criança é já enorme, devendo ter atingido 260,6 mil milhões de dólares em 2021, de acordo com o Imarc Group. Este número deverá crescer para 352,4 mil milhões de dólares até 2027. De acordo com o Imarc Group, o vestuário premium de alta qualidade está a estimular o crescimento, com os consumidores a procurarem assegurar o máximo de conforto e segurança para os seus filhos. O estudo também destaca tendências emergentes como a combinação de estilos entre pais e filhos ou, em alguns casos, mini versões de vestidos que imitam os usados por celebridades.
A popularidade de plataformas digitais como o Roblox e jogos como o Minecraft e o Fortnite levaram muitos retalhistas e marcas a investirem no metaverso. Walmart, Nike, Tommy Hilfiger e Vans têm já presença no Roblox, uma plataforma que, destaca o Sourcing Journal, apresenta um grande potencial de crescimento para a indústria da moda de uma forma diferente, com a empresa que a explora a indicar que 67% dos utilizadores tinham menos de 16 anos em 2021.
De acordo com o Morgan Stanley, a moda digital deverá ganhar destaque e influenciar as tendências de moda, podendo representar cerca de 50 mil milhões de dólares até 2030. Este vestuário digital pode ter muitas montras, sobretudo à medida que os consumidores da Geração Alpha envelhecem com as atuais plataformas que utilizam.
Mais do que sustentabilidade
A Geração Alpha tem também um lado mais altruísta e procura fazer a diferença no mundo, pelo que as suas marcas favoritas refletem isso, aponta a Wunderman Thompson. Das 4.000 crianças entre os 6 e os 16 anos que entrevistou, 66% afirmaram querer comprar marcas que têm um impacto positivo no mundo.
«De todas as questões que podem moldar os valores das crianças de hoje, o ambiente e a sustentabilidade são as principais», indica Hugh Fletcher, diretor de marketing da Wunderman Thompson Commerce. «A geração de Greta Thunberg e das greves climáticas à escola está já a dizer aos mais velhos de forma clara e audível – o ambiente é importante para nós e exigimos ações para salvaguardar o futuro», acrescenta.
«A mensagem mais importante é mais profunda do que alardear as credenciais verdes para atrair os miúdos», ressalva Hugh Fletcher. «Significa que os Alphas querem estar envolvidos em questões que lhes interessam. A sustentabilidade é certamente uma parte disso, mas o cenário maior é que os Alphas dificilmente veem as coisas que compram como simples produtos e os locais onde as compram como linhas de produção industrial. As indicações é que eles vão querer saber as histórias por detrás do que compram e envolver-se a um nível mais profundo», explica.
Sem barreiras
Se as gerações anteriores servirem de referência, o futuro da moda pode ser neutro em termos de género.
Em outubro de 2021, a Califórnia foi o primeiro estado norte-americano a exigir que os retalhistas com mais de 500 funcionários na região tivessem uma secção neutra em termos de género para puericultura e brinquedos. A lei, que deverá entrar em vigor em 2024, não abrange vestuário. Mas, sublinha o Sourcing Journal, ilustra a mudança de mentalidade que está a acontecer e o seu impacto nas tendências de comércio e no que os consumidores estão a exigir.
A PacSun, sediada na Califórnia, lançou a marca neutra em género PacSun Kids em 2021, tendo aberto a primeira loja própria em novembro do ano passado. «O mercado de criança está saturado com marcas que servem especificamente meninos ou meninas, mas poucas marcas desenham, vestem e comercializam explicitamente propostas neutras em género e com uma mentalidade completamente inclusiva», justificou Brieane Olson, presidente da PacSun, na altura do lançamento da marca. «Queremos que as crianças tenham a liberdade para se expressarem enquanto indivíduos, vestirem-se como se sentirem melhor e serem elas próprias», acrescentou.
A inclusão, no geral, está a tornar-se uma necessidade crescente dentro do espaço do vestuário de criança, com a plataforma de informação sobre consumo Getwizer a dar conta que apenas 50% dos pais classificariam o tamanho dos filhos como “regular”. A outra metade diz que são ou altos (24%), pequenos (13%) ou tamanho grande (11%).
«As crianças enfrentam muitas coisas diferentes quando vão para a escola. Como é que faço amigos? Como é que lido com as redes sociais?», destaca Meghan Roach, CEO e presidente da Roots, uma marca canadiana que lançou a One Collection, pensada para todos os géneros e tamanhos. «Queremos que elas se sintam confortáveis na sua própria pele e confortáveis na roupa que lhes oferecemos», resume.