Antecipando-se às exigências que serão determinadas pela União Europeia, o decreto 2022-748 AGEC (Anti-gaspillage pour une économie circulaire, a designação que agrupa as leis de antidesperdício para uma economia circular) determina que os consumidores em França têm de ter acesso a informação ambiental, no idioma local, que revele como a peça foi fabricada, com que materiais e quão fácil é de reciclar, explica Debbie Shakespeare, diretora sénior de sustentabilidade e conformidade da Avery Dennison, num artigo publicado pelo Just Style.
«Grandes marcas de moda que vendem para o país têm agora de cumprir um novo protocolo para a etiquetagem ambiental, tornando a informação sobre as qualidades e características ambientais de um produto disponíveis para o consumidor no ponto de venda e no pós-venda. Isto abrange a reciclabilidade do produto, a rastreabilidade dos têxteis e a presença de microfibras sintéticas», refere Debbie Shakespeare, que sublinha ainda que «alegações ambientais como “eco-friendly” e “biodegradável” estão proibidas na informação do produto», mostrando como «os reguladores esperam acabar com o greenwashing no sector da moda em termos globais».
Para já a legislação só se aplica aos maiores players da moda que vendem em França, isto é, com um volume de negócios acima dos 50 milhões de euros, mas nos próximos dois anos irá gradualmente alargar-se às marcas e retalhistas com um volume de negócios superior a 10 milhões de euros. «Os que têm um volume de negócios abaixo dos 10 milhões de euros não têm de cumprir, mas isto irá, sem dúvida, mudar no futuro», acredita a diretora sénior da Avery Dennison.
Legislação aperta em todo o mundo
A legislação francesa mostra o que deverá surgir no futuro na Europa e até noutros continentes. A estratégia europeia para os têxteis sustentáveis e circulares estabelece uma visão e ações concretas com o objetivo de assegurar que, até 2030, os produtos têxteis colocados no mercado da UE estão pensados para serem duráveis e recicláveis, produzidos o mais possível com fibras recicladas, sem substâncias nocivas e fabricados em respeito pelos direitos sociais e ambientais.
«Ainda nada está definido, mas pensa-se que a UE pretende implementar o passaporte digital do produto para os artigos têxteis, possivelmente já em 2025, com o objetivo de rastrear a composição, credenciais ecológicas e jornada de produção de cada produto», indica a diretora sénior da Avery Dennison.
Nos EUA há igualmente avanços nesse sentido, nomeadamente na Califórnia e em Nova Iorque. «Para se preparem para estas mudanças próximas, as marcas de moda mais vanguardistas estão a explorar a tecnologia de etiquetagem digital e a organizar grandes quantidades de dados sobre o sourcing, produção e cadeia de aprovisionamento para os tornar facilmente acessíveis aos consumidores e reguladores através de plataformas na nuvem fáceis de usar», esclarece Debbie Shakespeare, que dá conta que a Avery Dennison está já a fornecer etiquetas inteligentes de conservação de têxteis que podem ser ligadas online aos passaportes digitais dos produtos.
Vantagens do digital
Tendo em conta o desafio que a indústria da moda tem para ser menos poluente, nomeadamente ao nível da produção e descarte – anualmente, a produção de vestuário supera os 100 mil milhões de peças produzidas, sendo que 92 milhões de toneladas acabam em aterros e, só na Europa, cada pessoa gera 15 quilos de resíduos têxteis por ano –, as novas leis francesas «vão certamente dar início a uma revolução ecológica muito necessária», afirma Debbie Shakespeare.
«A moda reconhece agora o papel que a transparência da cadeia de aprovisionamento vai ter a apoiar estes modelos de circularidade e a reduzir as montanhas de resíduos têxteis que são produzidas. Assim que os gémeos digitais ou os passaportes digitais do produto se tornem rotineiros e compreendidos, os consumidores terão acesso direto à informação adequada que precisam para tomarem decisões ambientais conscientes sobre as suas compras», considera.