O desporto esteve na origem da Fradelsport e, gradualmente, a empresa está a regressar às suas raízes, depois da incursão pela produção de máscaras sociais e equipamentos de proteção individual (EPIs) para contornar a crise provocada pela pandemia. «Numa fase inicial tivemos uma certa indecisão sobre o que havíamos de fazer. Entretanto, olhámos para o mercado e surgiu esta oportunidade de converter a produção. Numa primeira fase começámos a trabalhar em EPIs descartáveis, inicialmente sem certificação, mas depois certificámos no CITEVE. Fomos pioneiros e andamos a trabalhar nestes dois meses muito nesta área», contou o administrador Paulo Reis durante a visita, ontem de manhã, do presidente da câmara de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, sob a iniciativa Roteiro pela Inovação de Famalicão.
A transformação não foi difícil, garantiu o administrador. «A maior dificuldade foi entendermos o mercado, os produtos, os fornecedores. A parte produtiva em si, porque trabalhamos numa área de desporto com muitos produtos e somos flexíveis na produção, foi fácil», afirmou.

Só em máscaras, uma área em que tem quatro modelos para adultos e dois para criança certificados, a Fradelsport produziu, nos últimos dois meses, cerca de 400 mil unidades, incluindo para exportação, para países como França e Alemanha. Contudo, a manutenção desta linha de negócio é ainda uma incógnita. «A curto prazo sim, a médio/longo prazo temos que analisar bem o mercado. As importações vão ditar muito o futuro deste negócio, porque, no fundo, o mercado ajusta-se ao preço», acredita.
A produção deste tipo de artigo, «no último mês, representou 90% da produção», revelou, ao Portugal Têxtil, Paulo Reis, mas «agora o mercado parou e estamos com cerca de 10%», acrescentou.
Itália e Espanha lideram procura
As cerca de 60 pessoas a quem a Fradelsport dá emprego – que inclui a confeção Mónica Daniela, que faz parte do grupo – mantiveram-se sempre ao serviço e estão agora a trabalhar na produção de artigos de desporto, cuja procura está a voltar, sobretudo impulsionada por grandes clubes internacionais. «Itália e Espanha são os mercados que estão a fazer pedidos. Trabalhávamos Suíça, Inglaterra, França e Alemanha, mas esses estão parados», indicou o administrador.
Especializada na sublimação de material desportivo, a empresa espera no final de 2020 manter a faturação de cerca de 2 milhões de euros de 2019, depois dos planos de crescimento para este ano terem sido gorados pelo Covid-19. «Felizmente, os números destes três meses, o valor bruto, foram bons», reconheceu Paulo Reis. Este ano «tinha um objetivo, íamos com certeza aumentar em 50% o volume de negócios num espaço de um ou dois anos. Ainda tenho esse objetivo, mas ficou adiado. Vamos precisar de dois ou três anos», admitiu.

No imediato, a Fradelsport está ainda a trabalhar nos contactos angariados na última edição da ISPO Munich, que tinham ficado em stand-by no início do processo. «Eles compreendem, passaram pelo mesmo, muitos deles fecharam, mas as amostras, as previsões que tinham, tudo mudou completamente», explicou Paulo Reis, que está ainda a equacionar a presença na feira de desporto de Munique no próximo ano. «A ideia é voltar, mas temos que pensar em que moldes. Se temos agora contactos para trabalhar, mais vale continuar com estes e trabalhá-los de maneira diferente», apontou ao Portugal Têxtil.
Para Paulo Cunha, presidente da câmara de Vila Nova de Famalicão, a «capacidade de iniciativa» da Fradelsport «permitiu uma perceção atempada dos tempos que iriamos viver e encontrou o seu caminho, dentro ainda deste sentido amplo do têxtil, embora também com uma relação com o desporto. Se viéssemos a esta empresa há quatro meses, o portefólio seria completamente distinto do que é hoje, mas isto é sinal que as empresas em Famalicão e os nossos empresários, os nossos trabalhadores, têm uma enorme capacidade de adaptação».