Fitecom fecha a torneira do desperdício

A produtora de lanifícios prepara-se para implementar o projeto de uma nova ETAR, que vai permitir recuperar a água e reduzir ainda mais o consumo de água da Fitecom nos processos de acabamento de tecidos.

João Carvalho

O projeto está já em fase avançada de estudo e, de acordo com o CEO da Fitecom, João Carvalho, «não está implementado ainda devido à história da pandemia senão já o tínhamos a funcionar». Quando estiver pronto, irá permitir recuperar «cerca de 60% da água dos efluentes da tinturaria e ultimação», revela ao Jornal Têxtil.

Atualmente, a produtora de lenifícios já recupera as águas dos serviços de aquecimento e arrefecimento, assim como as dos últimos enxaguamentos, com as quais faz os primeiros enxaguamentos. «Tudo isso é recuperado desde sempre, praticamente. Agora vamos recuperar águas de processo, descolorá-las e voltar a usar», explica João Carvalho. Um processo que «não é nada fácil», mas a especialista em tecidos laneiros tem «as coisas, em termos de estudo, já bastante avançadas».

Com um consumo que ronda os 600 mil litros por dia, o objetivo será «reduzir para os 250 mil litros de água por dia», aponta o CEO da Fitecom.

Investimento verde

Este projeto faz parte de um pacote mais alargado de investimento que inclui também um parque fotovoltaico que «alimentará, durante o dia, cerca de 80% das nossas necessidades de energia», adianta João Carvalho. Em conjunto, os dois projetos implicam um investimento «na ordem dos dois milhões de euros», indica.

E tal como aconteceu com a nova ETAR, também o parque fotovoltaico atrasou devido à pandemia e às suas consequências. «Tivemos uma redução drástica de encomendas e, como tal, reduzimos também nos custos», admite.

O ano de 2020 foi «muito difícil, tivemos uma quebra muito grande das vendas, acima dos 40%», confessa o CEO. Dificuldades que se prolongaram em 2021, com a expectativa de um regresso à normalidade para 2022, altura em que a especialista laneira deverá recuperar para um volume de negócios semelhante ao de 2019, que rondou os 15 milhões de euros.

O que não quer dizer que não esteja a sentir retoma. «Há uma recuperação, mas na têxtil é muito lenta. Há um ano estávamos a apresentar a coleção online, mas, de facto, neste mundo das lãs, o online não é fácil», reconhece.

Por isso mesmo, a Fitecom deixou o formato online de lado e apostou na apresentação física da coleção para o outono-inverno 2022/2023, na qual reforçou a presença de laminados e da sustentabilidade, nomeadamente, neste último caso, com uma linha batizada Oxygen que é fabricada com poliéster reciclado, lã portuguesa e lã cardada da África do Sul proveniente de rebanhos livres. «O feedback que temos tido é positivo e, a não ser que haja um retrocesso na luta contra a pandemia – esperemos que não –, penso que as coisas vão voltar ao normal», considera João Carvalho, que destaca que «nas últimas três coleções tem-se sentido uma pressão cada vez maior no sentido do ecológico. O mercado começa a pedir e, de certa forma, até a exigir». Como tal, a empresa tem ainda na sua oferta propostas tecidas com lãs portuguesas e tingidas sem corantes nem amaciadores. «No fundo, aquilo que utilizámos foi, basicamente, o detergente para a lavagem e nada mais do que isso», refere.

Regresso às feiras internacionais

No segundo semestre de 2021, a produtora de lanifícios voltou em força às feiras profissionais, com presenças que se estenderam da França à Alemanha, passando por Itália e pelo Reino Unido, para garantir o contacto direto com os clientes. «A Fitecom tem um mercado alargado, com cerca de 500 clientes, sendo os quatro principais mercados – que se encontram todos mais ou menos ao mesmo nível – a França, a Inglaterra, a Espanha e a Alemanha. Todos eles ultrapassam os 2 a 3 milhões de euros por ano», elucida o CEO.

Em desenvolvimento está o mercado americano, Canadá e EUA, com a empresa a dever ainda rumar ao sul, um projeto de expansão que ficou parado, mas que «será para retomar», anuncia João Carvalho, que coloca como objetivo para a Fitecom «em 2025 estarmos a faturar na ordem dos 25 milhões de euros».