A inovação é um mantra repetido pelas empresas diariamente. Só que, muitas vezes, essa mesma inovação não vinga no mercado. Este foi um dos temas debatidos durante a conferência Impulse, organizada pela Fibrenamics, a plataforma tecnológica da Universidade do Minho para o desenvolvimento de produtos inovadores com base em fibras.
«Muitas inovações ou têm financiadores ou as empresas não têm capacidade de os comercializar. O desenvolvimento é o que me custa menos. O que custa é vender o produto. Nós não sabemos embrulhar a peça», reconheceu Alberto Figueiredo, presidente da Impetus. A empresa especialista em roupa interior, que tem colaborado com a Fibrenamics em vários projetos, avalia bem os projetos antes de avançar para o mercado. «Temos que ser realistas e não investir só por causa dos fundos. A razão tem que ser muito bem ponderada. Hoje, o tempo e a tecnologia voam», explicou o empresário.
A Impetus tem sido das maiores parceiras da plataforma e um dos produtos em destaque da empresa é o Protechdry, roupa interior ultra-absorvente e anti-odor. Alberto Figueiredo está atualmente a analisar um projeto para um pijama que mantém a temperatura constante durante a noite.
A transferência de conhecimento para o mercado, aliás, é uma questão central não só para as universidades, mas também para as empresas, até porque, mesmo que um produto seja inovador isso não garante que tenha sucesso junto dos consumidores.
«As empresas têm que se habituar a resolver os problemas» que existem no mercado, afirmou Mário de Araújo, professor catedrático jubilado da Universidade do Minho. Paralelamente, Elisabete Ferreira, da J. Walter Thompson Intelligence, de estratégia e comunicação, defendeu que qualquer negócio deve «começar por analisar o mercado, andamos para trás».
Já Vladimiro Feliz, diretor da área de smart cities e ICT do CEiiA – Centro para a Excelência e Inovação da Indústria Automóvel garantiu que entre as prioridades da organização que integra está «conhecer as tendências de ponta do mercado e tentar chamar a jogo os players nacionais. E fazemos isto em plataformas como a Fibrenamics».
Doutorados nas empresas
O debate, que teve lugar em Guimarães, analisou também a presença de doutorados nas empresas, que, segundo o professor Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra, é sinal de desenvolvimento de um país. Só que em Portugal apenas 1% dos doutorados estão a trabalhar em ambiente empresarial.
«Temos alguns doutorados na empresa que trazem mais-valias, é uma colaboração que tem vindo a crescer no relacionamento com a indústria e a academia», salientou Susana Silva, Innovation Project Manager do grupo Amorim.
A Fibrenamics trabalha desde 2011 na ligação entre a inovação e as empresas. Em declarações ao Portugal Têxtil, Raul Fangueiro, coordenador da plataforma, destacou a mais recente iniciativa da plataforma, batizada Green (ver Inovação pinta-se de verde).
«Percebemos que a economia circular e o desenvolvimento sustentável são muito importante para o futuro», explicou Raul Fangueiro. E por isso a aposta é em tecnologias e produtos que desenvolvam esta área.
A Fibrenamics criou uma comunidade com quatro pilares fundamentais: identificação de novas oportunidades de inovação; geração de conhecimento a partir da ciência e tecnologia; transferência para as empresas e para a sociedade; criação de novos negócios, spin offs e cadeias de valor associada a essa inovação.
A plataforma tem vários eventos previstos para os próximos meses, nomeadamente sobre sustentabilidade, materiais para a área da defesa e ainda congressos sobre fibras.