Fibras mais caras afetam sourcing

O valor das matérias-primas está a subir, em resposta a uma maior procura do mercado, e os efeitos deverão fazer-se sentir ao longo de toda a cadeia de aprovisionamento da moda, devendo levar marcas e retalhistas a aumentar os preços para os consumidores.

[©Pixabay]

Todos os índices de referência para o algodão subiram no último mês, notícia o Sourcing Journal. A Cotton Incorporated refere na sua análise mensal que, desde o início de março, os contratos para julho do New York ICE aumentaram para mais de 0,90 dólares por libra (cerca de 1,64 euros por quilo), em comparação com 0,78 dólares por libra. De acordo com o relatório da Cotton Inc, as mais recentes negociações estão a ser efetuadas por valores próximos de 0,88 dólares por libra.

O Cotlook A Index mostra que os preços médios mundiais subiram para 0,95 dólares por libra no início de maio, em comparação com cerca de 0,85 dólares no início de abril. O Departamento de Agricultura dos EUA reportou que o algodão americano rondou uma média de 0,8403 dólares por libra na semana terminada a 6 de maio. Um valor mais baixo do que os 0,8492 dólares na semana anterior, mas que representa um aumento considerável face aos 0,5002 dólares registados na mesma altura no ano passado.

A Cotton Inc revela que embora os níveis dos stocks e os rácios de utilização devam baixar na próxima colheita, as primeiras previsões do Departamento de Agricultura dos EUA sugerem que a oferta irá continuar elevada.

«Mesmo com grande oferta na atual colheita, os preços têm subido consistentemente», aponta o relatório da Cotton Inc. «A divergência entre a oferta e a procura e os preços tornam um desafio fazer previsões com base nos fundamentos do mercado. Um fator que parece correlacionado com o movimento de preços é a evolução da relação comercial entre os EUA e a China», acrescenta.

Sintéticas também aumentam

A produtora de fibras celulósicas Lenzing anunciou que o volume de negócios no primeiro trimestre, terminado a 31 de março, cresceu 4,9%, para 489,3 milhões de euros, atribuível sobretudo ao forte aumento da procura por parte da China e a consequente subida dos preços da viscose.

[Lenzing AG/Markus Renner – Electric Arts]
Os preços para a viscose tradicional continuaram o seu dinamismo positivo desde o final de 2020, assinalou a empresa, tendo aumentado 33,8% desde o início do ano. As subidas de preço no mercado de dissolução de polpa de madeira apoiaram o desenvolvimento dos preços da viscose. Os preços das fibras especiais obtidas a partir de polpa de madeira, que também se desenvolveram de forma mais estável nos últimos trimestres, beneficiaram desta evolução.

«Num ambiente de crescente procura, este aumento é atribuível a uma escassez no mercado, que foi causada, entre outras coisas, por baixos níveis de inventário e baixa produção local na China, e, em determinadas alturas, por baixas importações devido a estrangulamentos na logística mundial», justificou a Lenzing, citada pelo Sourcing Journal.

No poliéster, o gabinete de estatística do trabalho dos EUA revelou no Producer Price Index que os preços das fibras sintéticas aumentaram 6,1% em abril comparativamente a março e 9,1% face ao ano anterior.

A Unifi, produtora de fios convencionais e reciclados de poliéster e poliamida, adiantou, na comunicação dos resultados do terceiro trimestre, que espera que as pressões inflacionárias atuais recorrentes das flutuações das matérias-primas sejam maioritariamente compensadas por um ajuste dos preços de venda.

A empresa antecipa que os lucros antes de juros, taxas, depreciações e amortizações (Ebitda) fiquem entre 12 e 14 milhões de dólares no ano fiscal atual. Este intervalo tem em conta os aumentos recentes, a nível mundial, dos preços das matérias-primas que irão impactar adversamente o lucro bruto devido a um inerente atraso de resposta nos ajustes aos preços de venda.

Já os preços da lã australiana apresentaram uma tendência de queda na primeira semana de maio, de acordo com a Australian Wool Innovation (AWI), O sector da lã merino evidenciou as maiores descidas de até 0,47 dólares, destacou a AWI.

O indicador de referência EMI (Eastern Market Indicator) terminou a semana num valor, em dólares, inferior em 2,6%, fechando em 10,19 dólares por quilo.

Efeitos no retalho

As marcas estão também a sentir o impacto do aumento dos custos. O CEO da Wolverine, Blake Kreuger, afirmou que a empresa deverá fazer aumentos «seletivos» em produtos na segunda metade de 2021 devido aos incrementos registados na cadeia de aprovisionamento e na logística, assim como nos preços da borracha, algodão, couro e outros materiais.

[Australian Wool Innovation]
«Se for necessário, vamos fazer alguns aumentos seletivos de preços, achamos sinceramente que o consumidor está atualmente à espera disso», admitiu Kreuger. «Não houve muita resistência aos aumentos dos preços da indústria que foram passados quando os vinculámos diretamente às tarifas dos últimos 18 meses a dois anos. Por isso, pensamos que o consumidor está preparado para esperar subidas de preços de alguns produtos», reconheceu.

Já o CEO da Delta Galil, Isaac Dabah, assegurou, de um ponto de vista da produção, que «os preços dos tecidos estão a subir modestamente, sobretudo na categoria de denim, que depende de tecidos com base em algodão».

No fim da cadeia de aprovisionamento, os preços do vestuário no retalho aumentaram, em valores ajustados sazonalmente, 0,3% em abril, depois de terem baixado nos dois meses anteriores, e 1,9% em termos não ajustados face ao mesmo mês de 2020, indicou a BLS no seu Consumer Price Index.

Os preços cresceram 1,3% no vestuário de homem no ano passado, uma subida impulsionada sobretudo pelo aumento de 2,3% nos preços da categoria de calças e calções de homem.