A tecnológica fundada pelo empresário português José Neves continua a aprimorar a oferta e a procurar ganhar a confiança dos clientes, quer os consumidores diretos, quer o número crescente de marcas que recorre aos seus conhecimentos para vender online.
«A ideia nunca foi construir um site – o site é a pontinha do icebergue. A plataforma é que é o foco», sublinhou Fernando Martins, head of product na Farfetch, durante a sua intervenção da última Ignite Session promovida pela Fibrenamics. «A plataforma é, sobretudo, um conjunto de serviços modulares, com muita informação por trás e tecnologia toda construída in house», incluindo as diferentes apps, explicou ao Portugal Têxtil. É esta plataforma que serve o marketplace pelo qual a Farfetch é mais conhecida em todo o mundo, que agrega mais de 600 boutiques e de 300 marcas em todo o mundo, mas também os clientes da Black & White Solutions, como o Harrods. «E está também a alimentar a Store of the Future e todo e qualquer negócio nosso ou de terceiros que, no futuro, possa precisar de uma plataforma de luxo», adiantou.

Num negócio como o das vendas online, a entrega tem-se tornado um elemento diferenciador, já que os consumidores querem, cada vez mais, receber as suas compras em tempo recorde. Embora tenha garantido que «temos bem afinado o processo até ao fim», o head of product considera que há sempre espaço para melhorar. «O nosso desafio é que não somos nós que fornecemos o produto, são os nossos parceiros que preparam as encomendas», pelo que o resultado final dificilmente é o mesmo. «Não há dois parceiros que enviem a encomenda da mesma forma», assumiu.
Mas a experiência de compra tem vindo a ser melhorada, quer com entregas rápidas, que em algumas cidades permite que cheguem no mesmo dia, e até, em alguns sítios, em apenas 90 minutos, à investigação de novas tecnologias ou serviços que possam satisfazer as novas exigências dos consumidores, nomeadamente em parceria com start-ups envolvidas no programa de aceleração de negócios emergentes Dream Assembly.

«Trabalhamos com várias start-ups com ideias incríveis», afirmou, dando como exemplo a ideia, de duas irmãs paquistanesas, de ter pessoas espalhadas pelo mundo que vão a uma loja experimentar a roupa selecionada pelo consumidor online para que este possa ver como fica o tamanho e o fit numa “pessoa real” com as suas medidas. «Há uma que oferece a possibilidade de que uma pessoa, ao visitar o site, olhe para a listagem de produtos e se veja a si própria a usar aquelas peças todas», exemplificou.
Sustentabilidade na mira
No marketplace, a Farfetch está a responder à maior consciência ambiental e social dos consumidores com duas iniciativas. A Second Life é a mais recente e vai permitir que os clientes da plataforma vendam, numa primeira fase, as suas bolsas em bom estado para que sejam revendidas.
«A Second Life é apenas o princípio», apontou, ao Portugal Têxtil, Fernando Martins. «Nós já vendemos vintage há muitos anos e isto tornou-se natural. Em vez de fazermos sourcing de artigos vintage a terceiros, fazemos junto dos nossos próprios clientes. E com isto fechamos o ciclo», acrescentou.

Na prática, as clientes da Farfetch irão enviar a sua bolsa, que será analisada e cotada. Se a cotação for aceite, a cliente irá receber crédito na Farfetch e a carteira será revendida juntamente com os outros produtos vintage.
Uma segunda iniciativa, batizada Positively Farfetch, pretende dar maior visibilidade a produtos ou processos de produção mais sustentáveis. «Temos muito para cima de 3.000 marcas no nosso site, das de nicho às mais conhecidas. E temos muitas marcas realmente especiais, que encaixam no nicho da sustentabilidade, sendo que esta pode ser animal, ambiental ou social, ou seja, marcas que não usam peles de animais, que não fazem testes em animais, que têm cuidado com a poluição que causam ao ambiente, que usam, por exemplo, algodão reciclado, ou estão envolvidas no comércio justo», enumerou o head of product da Farfetch.
Lançada há cerca de um mês, a iniciativa irá permitir que o consumidor tenha acesso a uma listagem com todos os produtos que cumpram estas condições e, em breve, os produtos sustentáveis terão um filtro próprio.
Contudo, realçou Fernando Martins, «não quer dizer estas marcas tenham processos sustentáveis end-to-end. Quer dizer que há uma parte da sua cadeia de valor que está apoiada em processos sustentáveis. Nesta fase é isso que estamos a fazer». A análise é efetuada pela plataforma Good On You, uma das start-ups que a Farfetch apoiou no âmbito da Dream Assembly na primeira edição, que determina o nível de sustentabilidade das marcas.

«Graças a esta iniciativa, que há de continuar e vai sempre melhorar, vamos dar a devida visibilidade a estas marcas que tanto merecem», resumiu Fernando Martins.
O marketplace conta ainda com uma iniciativa de personalização de produtos com uma vertente “feito por encomenda” que será alargada e permite fazer a produção à medida dos pedidos, sem desperdícios.
Quanto ao futuro da Farfetch, Fernando Martins acredita que o caminho será semelhante ao que tem vindo a ser traçado nos últimos anos e que levou a empresa ao estatuto de “unicórnio” (com uma avaliação superior a mil milhões de dólares). «É a aposta na escala e no crescimento», afirmou o head of product, que refere que os resultados obtidos no último trimestre estão em linha com os resultados previstos. «Os nossos investidores estão perfeitamente alinhados connosco e com a nossa estratégia de longo prazo. O que nós fizemos em 10 anos… Os próximos 10 vão ser muito melhores de certeza», concluiu.