Farfetch namora China

A retalhista online que liga os consumidores a mais de 500 boutiques e 1.500 designers à volta do globo tem novos escritórios em Xangai e Hong Kong e mostra que os seus tentáculos digitais chegaram em força à China.

Desde o nascimento da Farfetch, deixou de ser necessário acumular milhas para comprar em boutiques de luxo de Londres, Lisboa ou Los Angeles – a startup possibilitou que tudo isso acontecesse mediado por um telemóvel ou computador com acesso à Internet, analisa o South China Morning Post.

Um vestido Stella McCartney à venda em Londres e um par de óculos de sol Mykita vendidos em Roma conectam-se via Farfetch e, entre cliques, podem morar nos guarda-roupas dos amantes de moda.

Fundada pelo empresário português José Neves, a Farfetch tem um modelo de negócio diferente dos principais retalhistas online, tais como Net-a-Porter ou Shopbop. O portal não tem stock: antes fornece aos clientes os meios necessários para que estes se conectem e percorram as coleções das melhores boutiques em todo o mundo e, de seguida, façam a encomenda. A Farfetch lida com a transação, disponibilizando o pagamento via Alipay na China e, depois disso, as lojas individuais responsabilizam-se pela entrega.

A fórmula provou ser um sucesso. Atualmente, a China tem um peso de 12% nos negócios da Farfetch, algo que o empresário português admite ser uma gota no oceano, dado o número de clientes de luxo do país. Contudo, com os novos escritórios em Xangai e Hong Kong e uma nova aplicação móvel na China, José Neves acredita que o negócio ganhará contornos ainda mais definidos no horizonte de compras dos consumidores chineses.

«O ADN entre nós e a Net-a-Porter é completamente diferente. A Net é editorialmente orientada e aconselha os clientes sobre como se devem vestir; a nossa posição é sobre fazer curadoria aos curadores e reunir na mesma plataforma diferentes pontos de vista sobre a moda», explica José Neves. «Providenciamos uma plataforma para que as melhores lojas e marcas possam falar com o cliente de luxo», acrescenta.

A carteira da Farfetch apresenta números redondos: 500 lojas, 100 marcas e 1.500 designers estão representados no website, o que dá ao cliente a sensação, considera o empresário português, de viajar pelo mundo. «Fizemos uma comparação com três websites de luxo – um de um portal de comércio eletrónico e dois de grandes armazéns – e percebemos que 88% a 92% do produto disponível na Farfetch não estava disponível nesses sites», revela.

José Neves cresceu imerso na moda, mas a primeira paixão foi pelos computadores e, na universidade, quando tinha 19 anos, lançou uma empresa de desenvolvimento de software que trabalhava com pequenas confeções e estúdios de design. Em 1996, mudou-se para Londres para lançar uma marca de calçado, a Swear, acabando por lançar igualmente uma boutique multimarca batizada B Store.

A ideia era fundir moda e tecnologia. A Net-a-Porter tinha provado que havia mercado para a moda de luxo online e José Neves estava ciente de que o eBay e o Alibaba não seriam capazes de oferecer o mesmo nível de curadoria de moda.

O empresário convenceu então 25 boutiques a abraçarem o seu conceito, começando com a Maria Luisa em Paris, a Feathers em Londres e com o designer Henrik Vibskov. «Foi um desafio», recorda José Neves. «Como podíamos atrair talentos quando não tínhamos compradores e compradores quando não tínhamos nenhum produto para vender?». Neves conseguiu encontrar as respostas para estas questões e lançou a Farfetch, em outubro de 2008 (ver Historial de luxo).

Apesar de ter sido difícil conseguir financiamento nos anos seguintes – os grandes investidores chegaram em 2010 –, a crise financeira fez com que as boutiques repensassem a sua estratégia, numa altura em que o comércio eletrónico começava a ganhar terreno. «Por isso, tiveram tempo para ouvir-nos, algo que talvez não acontecesse se os seus negócios estivessem a crescer desmesuradamente», considera Neves.

Atualmente, a Farfetch está ligada a lojas nos EUA e na Europa, bem como a algumas no Brasil, Singapura, Malásia e Japão e, ainda no início de maio, voltou a arrecadar financiamento – 110 milhões de dólares (ver Farfetch volta a somar).