Familitex prepara-se para o melhor ano de sempre

Em franca recuperação do embate da pandemia no ano passado, a produtora de malhas começou o ano em força e tem a expectativa de acabar 2021 com o melhor volume de negócios da sua história. Internacionalização, sustentabilidade e tecnologia são alguns dos vetores de crescimento da Familitex.

Paula Oliveira

«O ano passado foi muito difícil», afirma Paula Oliveira, responsável do departamento de vendas da Familitex. «Nunca fechámos totalmente, fizemos um layoff parcial, mas tivemos uma quebra na faturação. Descemos na faturação, descemos no lucro, foi um ano bastante difícil», explica ao Portugal Têxtil.

A empresa baixou o volume de negócios para cerca de 19 milhões de euros, «o que não era expectável. O início do ano começou muito bem, comprámos mais teares… A perspetiva era melhorar, mas foi algo que nos saiu completamente das mãos», confessa Paula Oliveira. Ainda assim, «fizemos todos um esforço, patrões e funcionários, e conseguimos acabar o ano sem os prejuízos que, infelizmente, alguns colegas do sector tiveram», acrescenta.

A mudança de ano trouxe vida nova para a Familitex. «Este ano está fantástico, o melhor de sempre até agora e esperamos fechar o ano com a faturação mais alta de sempre – a ideia é ultrapassar os 25 milhões de euros», prevê a responsável do departamento de vendas.

A receita para isso é «muita vontade e muita resiliência» e o facto de «a equipa estar toda motivada», acredita Paula Oliveira, sobretudo numa altura em que as matérias-primas estão a colocar desafios adicionais à atividade. Apesar de contar com um «armazém gigante», a escassez de matérias-primas tem-se revelado um entrave. «Nunca sabemos quando vamos receber os contentores de fio, porque há atrasos, os preços estão constantemente a subir, quer da matéria-prima, quer dos transportes, e isso culmina numa instabilidade gigante. Já não conseguimos fixar preços, temos de andar constantemente a revê-los. Os clientes têm sido muito compreensivos e juntos tentamos chegar sempre ao melhor consenso para nenhuma das partes perder», indica.

Sustentabilidade como premissa

Na coleção para o outono-inverno 2022/2023, que a empresa apresentou na Première Vision Paris, as matérias-primas sustentáveis são uma aposta, desde os reciclados, aos orgânicos.

«Tentamos sempre aliar a inovação às fibras que estão a ser mais solicitadas e trabalhadas pelos nossos clientes», assegura Ana Costa, do departamento de design da Familitex. O objetivo é ainda «fazer uma coleção bastante diversificadas – gostamos sempre de, nas coleções, mostrar aquilo que os nossos teares são capazes de fazer e as suas potencialidades», aponta, salientando os interlocks e os jacquards. «Temos agora jogo 40 que faz uns interlocks fantásticos para desporto», acrescenta Paula Oliveira.

A Familitex, que emprega cerca de 100 pessoas, está também a instalar progressivamente o sistema da Smartex para evitar o desperdício na produção da malha, estando atualmente implementada em 20 teares, «mas vai passar para 25», anuncia a responsável do departamento de vendas. «Reduz drasticamente o defeito porque, por muito bons operadores de teares que tenhamos, há sempre algo que falha ao olho humano», explica Paula Oliveira, que assume que a tecnologia «tem funcionado extremamente bem».

Investir para colher

Os investimentos na empresa têm sido constantes, sendo o mais recente em seis teares. «O nosso investimento também é no grupo, na tinturaria, porque apesar de ter já um bom parque de máquinas, estamos a melhorar quer a nível de maquinaria, quer a nível de infraestruturas», salienta a responsável do departamento de vendas. Este acesso ao serviço da Barceltinge, que resulta da compra e reestruturação da antiga Luís Simões, tem permitido à Familitex «expandir o negócio também pelas malhas acabadas», refere Paula Oliveira.

Além da tinturaria Barceltinge, o grupo Familitex contempla ainda a Serkut, um armazém de malhas acabadas com stock service. «Como unidade produtiva muito grande – neste momento estamos com mais de 90 teares circulares –, por vezes é-nos muito difícil aceitar encomendas pequenas, porque a nível produtivo implica paragens nos teares, afinações diferentes, perde-se tempo e nós precisamos das máquinas sempre a trabalhar para rentabilizá-las ao máximo. A Serkut permite dar resposta a esses clientes que precisavam de quantidades mais pequenas. Temos um catálogo de cores bastante vasto, com boa qualidade e disponível para entrega imediata», resume a responsável do departamento de vendas.

Com a Europa como principal mercado, a Familitex tem aberto igualmente algumas portas no Norte de África, nomeadamente na Tunísia e Marrocos, sobretudo através de marcas europeias. Os EUA e a América Latina são os próximos alvos na internacionalização. «Antes da pandemia, a nossa intenção era ir à Première Vision em Nova Iorque, começar a abordar mais o mercado da América e até da América Latina. Agora está tudo em stand-by, vamos ver como é que corre o próximo ano e depois pensamos nisso», afirma. «Para o ano, se conseguirmos ter um novo mercado na América era muito bom, mas com calma, porque não queremos arriscar os clientes que já temos. O plano é crescer e solidificar, acima de tudo, de forma sustentável, com meios e bons profissionais», conclui Paula Oliveira.