Em 2021, a A. Ferreira & Filhos – que divide a sua atividade entre as mantas, a produção para a marca própria de vestuário infantil Wedoble e a produção de camisolas em malha para homem, senhora e criança em private label – registou um crescimento de 25% face a 2019 e de 30% face a 2020, para um valor superior a 5 milhões de euros, mas 2022 tem trazido novos desafios. «Este ano está a ser muito mau porque não há material», afirma o administrador Noël Ferreira.
A somar à subida constante dos preços, «pior é não haver. Fios que normalmente demoram uma semana a chegar, porque são de stock service, agora já temos prazos de meio ano», admite o administrador. «Por exemplo, um fio 80% lã/20% poliamida, antes demorava uma semana – pedíamos numa quinta-feira, chegava cá na quarta-feira seguinte. Agora não, são cinco meses, ou seja, encomendamos agora para chegar depois das férias, em setembro ou outubro», exemplifica.
Os motivos para esta escassez são ainda obscuros, mas Noël Ferreira avança com algumas hipóteses. «Não tenho nenhuma informação em concreto da boca dos fornecedores, mas acho que devem ter falta de matéria-prima. Além disso, há mais procura, eles estão a vender mais – se nós estamos a comprar algo mais do que o habitual, porque estamos a produzir mais, há mais empresas que estão a produzir mais também e rapidamente os fornecedores ficam com o stock esgotado», aponta o administrador, que acrescenta que, em alguns casos, «temos fios que subiram o preço em 40%», o que tem levado a empresa a aumentar os preços ao cliente entre 10% e 20%.
Uma realidade que alterou as perspetivas da A. Ferreira para 2022. «Estávamos a pensar que íamos ter um ano bom, mas vai ser mau porque nos falta o material», confessa Noël Ferreira. Além disso, a inflação que se regista atualmente deverá levar a uma redução das compras. «Se os preços sobem, o consumidor vai retrair-se», explica ao Jornal Têxtil.
Por outro lado, o aumento com os custos do transporte, por exemplo, está a alimentar a tendência de regresso da produção para a proximidade dos mercados de consumo. «Há muita gente que se deslocou da China para cá, muitos clientes a nível europeu», reconhece Noël Ferreira. Nos têxteis-lar, «a Turquia é o nosso eterno rival. Os turcos dão-nos dez a zero em capacidade, não em qualidade», admite.
Sustentabilidade e inovação
A empresa, que esteve presente na Guimarães Home Fashion Week com bons resultados, estará agora presente na edição especial da Heimtextil, em junho. «Para a a Homania [a marca própria nos têxteis-lar] a Heimtextil não nos interessa, porque não estamos interessados em investir na marca, mas é um cartão de visita, um rosto, para o private label. É bom para ver se conhecemos novos clientes e é bom porque a parte das mantas e das almofadas é algo que queremos muito», revela o administrador.
A A. Ferreira, de resto, tem apostado em produtos com maiores credenciais de sustentabilidade, com certificações como o GOTS e, em breve, GRS, para os fios reciclados, assim como em projetos de investigação, nomeadamente com a Universidade do Minho. «Um dos projetos é uma camisola especial, desenvolvida com a Fibrenamics, para proteção e o outro projeto tem a ver com arquitetura», desvenda Noël Ferreira.
Os investimentos mais recentes contemplam ainda novos equipamentos, quer para modernização da produção, quer para poupança de água. «São máquinas de lavar novas em que podemos interferir muito concretamente no ciclo de lavagem e adequar com mais precisão àquilo que necessitámos», justifica o administrador.
A A. Ferreira avançou igualmente no universo online, tendo criado um showroom virtual para mantas. «A funcionar só por si não, mas é bom para trabalhar como complemento», considera Noël Ferreira, que refere que, nesta área dos têxteis-lar, «não há vendas online, até porque não existimos como marca e para vender B2B os clientes não vão nisso».