O estudo EU Exports of Used Textiles in Europe’s Circular Economy, da Agência Europeia do Ambiente, que analisa os dados da UN Comtrade entre 2000 e 2019, revela que as exportações de têxteis usados (que incluem também vestuário) da UE aumentaram significativamente nos últimos 20 anos, de pouco mais de 550 mil toneladas em 2000 para quase 1,7 milhões de toneladas em 2019, «o que se traduz numa média de 3,8 quilogramas por pessoa em 2019», ou 25% dos cerca de 15 quilogramas de têxteis consumidos por ano e por pessoa na União Europeia (UE).
Em sentido contrário, o valor das exportações tem caído, de 0,76 euros por quilograma em 2000 para 0,57 euros por quilograma em 2019. O aumento dos volumes de exportação em conjugação com a queda de preços pode indicar uma procura estabilizada ou uma qualidade reduzida dos próprios têxteis ou ainda um mercado saturado, indica o estudo.
Em termos de mercados, ao longo das últimas duas décadas, cerca de 75% do volume total de têxteis usados da UE foram exportados a partir de apenas cinco países, que, refere o estudo, não só exportaram os têxteis que recolheram localmente, como também terão importado têxteis usados de outros países da UE, tornando-se em centros de importação e exportação.
Destino «altamente incerto»
«O destino dos têxteis usados exportados pela UE é altamente incerto. A perceção de que as doações de vestuário usado são um presente generoso para as pessoas que necessitam não corresponde completamente à realidade. O vestuário usado faz cada vez mais parte de uma cadeia de valor mundial de comércio especializado», destaca o estudo.
No início do século, África era o destino de 63% dos têxteis usados exportados pela UE, ficando a Ásia em segundo lugar. Mas este continente tem aumentado significativamente a sua quota nestes 20 anos e, em 2019, a Ásia importava já 41% dos têxteis usados, enquanto África reduziu para 46% a sua participação.
Comércio mais do que caridade
Como a quota das exportações para a Ásia tem vindo a aumentar, e se estima que os têxteis usados sejam sobretudo reciclados neste continente, os têxteis usados da UE parecem acabar cada vez mais como trapos usados em ambiente industrial. «Não é claro porque é que isto acontece e por isso é necessário mais investigação para perceber melhor a qualidade do que é exportado», afirma o estudo.
Já nas exportações para África, uma parte dos têxteis é reutilizada, mas uma quantidade significativa acaba em aterros legais ou ilegais, causando problemas ambientais.
«Por outras palavras, os têxteis recolhidos e exportados da UE são commodities, não caridade. Os têxteis podem ser doados a associações, mas são comummente comercializados por lucro em vez de doados diretamente aos indivíduos com necessidades e, de facto, o resultado não é forçosamente entendido como caridade pelos países que recebem os têxteis. É, contudo, difícil de saber com precisão o destino exato dos têxteis usados. Há ainda falta de transparência à volta da indústria global de têxteis usados, que é complexa, interligada e inadequadamente analisada», resume o estudo.