Nascida em 1971 no seio da empresa familiar Têxtil Manuel Gonçalves (TMG), fundada em 1937, que atua também na área da moda, desporto e vestuário técnico, a unidade de negócio TMG Automotive dedica-se ao desenvolvimento e produção de interiores poliméricos para a indústria automóvel, fornecendo grandes OEMs (Original Equipment Manufacturers) há mais de 50 anos, numa lista de clientes que começou com a sueca Saab e inclui atualmente, entre outros, Volvo, Jaguar, Porsche, Mercedes-Benz, BMW, Nissan, Opel e Volkswagen.
«A importância de trabalhar com os construtores de automóveis é poder trabalhar três anos antes do veículo ser lançado no mercado, o que significa muita inovação, muitas novidades, muito mais foco no valor do que no preço», afirmou Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, durante a visita às instalações da empresa em Vila Nova de Famalicão, enquadrada na 10.ª Convenção Europeia do Têxtil e Vestuário, dando conta que a TMG Automotive contabiliza 56 patentes registadas, várias das quais em conjunto com construtores automóveis como a BMW, a Mercedes, a Toyota e a Volvo. Contudo, acrescentou, «também é muito importante trabalhar com os fornecedores Tier 2, porque nos dão volume e as fábricas adoram volumes». Para a CEO, «é muito importante não ter os ovos todos no mesmo cesto».
Nas instalações da TMG Automotive II, é o futuro que orienta a evolução, com os equipamentos mais modernos de revestimento com PVC, lacagem e gravação a darem forma a uma oferta que vai ao encontro das grandes tendências mundiais.
«No mercado automóvel, temos de olhar para as tendências e perceber aquilo que nos trazem em termos de oportunidades», explicou Isabel Furtado. No caso da mobilidade, exemplificou, há uma tendência para veículos autónomos ou com assistência na condução, «o que significa que as pessoas vão passar mais tempo no carro sem conduzir, pelo que tem de ser mais confortável», salientou a CEO, confidenciando que «a BMW disse-me: comece a olhar para o carro do interior para o exterior e não do exterior para o interior». A forma, aliás, como as mulheres habitualmente veem os automóveis, ao contrário dos homens, apontou Isabel Furtado. E como cada vez mais as mulheres compram o seu próprio carro, «isso é muito interessante em termos das mudanças nos materiais do interior dos carros».
Uma segunda grande tendência prende-se com a organização das grandes cidades, com o espaço de estacionamento a competir com a necessidade de mais espaço para habitação, levando a mais serviços de partilha de veículos automóveis e, consequentemente, a maiores exigências nos materiais ao nível da higiene e características de autorreparação. Já a terceira grande tendência, a redução de emissões, traduz-se numa necessidade de reduzir o peso dos veículos.
«Quando olhamos para a TMG Automotive, estas três tendências – há muitas mais – têm de estar na nossa mente todos os dias. Por isso decidimos que gostaríamos de entrar noutro tipo de oferta, uma variedade maior de interiores. Temos os têxteis, com que nascemos em 1937. Por isso, por que não criar sinergias e pedir às nossas pessoas do têxtil – porque trabalhávamos em unidades autónomas – para nos ajudarem a desenvolver coisas novas para o automóvel?», sublinhou Isabel Furtado.
A TMG Automotive tem, por isso, estado a trabalhar no desenvolvimento de novos produtos, mais funcionais e sustentáveis. Materiais reciclados e polímeros biodegradáveis são algumas das matérias-primas que a empresa está a integrar nos interiores de automóveis, assim como materiais inovadores como o grafeno, o basalto açoriano e fibras de carbono, que se destacam por propriedades funcionais como antibacterianas ou resistência à chama.
«Tem havido muita pressão sobre os construtores automóveis para serem sustentáveis» e, respondendo a essa exigência, a TMG Automotive tem, nos últimos sete anos, implementado medidas que lhe deverão permitir atingir emissões líquidas zero em 2039 e deixar de usar combustíveis fósseis já em 2026, realçou a CEO.
Expectativas cumpridas
A visita à empresa, que foi acompanhada por vários participantes internacionais na Convenção da Euratex, impressionou Dirk Vantyghem, diretor-geral da confederação europeia do têxtil e vestuário. «Fiquei muito impressionado, em termos gerais, pelo foco na qualidade e pelo foco na inovação, pela vanguarda de todo o processo de produção, em combinação com a liderança muito clara da administração da empresa», asseverou ao Portugal Têxtil.

Ainda neste âmbito, Dirk Vantyghem destacou que «é completamente encorajador ter uma mulher com uma liderança tão forte», em referência a Isabel Furtado. «Ela sabe tudo e, mais do que isso, penso que tem uma visão para o futuro na direção da sustentabilidade, para como as tendências de mercado estão a desenvolver-se a longo prazo. É encorajador ver estes exemplos. Só podemos esperar que haja mais empresárias têxteis que se imponham, que possam crescer e possam ter tanto sucesso como a TMG está a ter», realçou.
Os têxteis técnicos são, de resto, uma área que o diretor-geral da Euratex acredita ser muito importante para a indústria europeia, até porque, na moda, a concorrência asiática é mais forte, considera. «Os têxteis técnicos são uma parte importante da indústria têxtil europeia. Têm que ser impulsionados pela inovação, tal como vimos [nesta visita], têm de ter um maior valor acrescentado», indicou Dirk Vantyghem.
Um exemplo da indústria portuguesa que não desiludiu o diretor-geral da Euratex, apesar das elevadas expectativas que já tinha. «Sabia que havia uma indústria têxtil forte e vibrante em Portugal. E sei que o governo, pelo menos pelo que diz, tem tentado apoiar a inovação e a transição para a sustentabilidade. Por isso, as minhas expectativas eram bastantes elevadas, mas foram correspondidas», garantiu.