A atual pandemia mostrou a importância da indústria têxtil e vestuário europeia, com muitas das suas empresas a converterem, ou a aumentarem, a produção de equipamentos de proteção individual (EPIs) para responderem às necessidades. «Mas este papel estratégico vai além dos eventos passados, já que, sem materiais têxteis, não podem ser construídos automóveis, vestuário, máquinas ou edifícios», afirma a Euratex em comunicado.
Os últimos meses, contudo, destacaram a necessidade para toda a fileira e para a sua cadeia de valor de proceder «a um processo de renovação e entrar no futuro mais competitivo e verde», reforça a confederação. «A indústria têxtil está pronta para este desafio e desenvolveu uma estratégia de recuperação», garante.
Medidas consistentes
O plano da Euratex, revela a confederação, exige recursos «consideráveis» e um conjunto de medidas «coerentes», tanto no curto prazo como a nível estrutural. «A Europa deve apoiar a importância estratégica do sector têxtil e vestuário europeu, promover o desenvolvimento de um ecossistema integrado na UE e nos seus países vizinhos, investir em inovação e formação e transformar a circularidade numa fonte de competitividade», refere.
No âmbito desta estratégia, a Euratex desenvolveu cinco iniciativas, abrangendo desde os equipamentos de proteção individual à reciclagem têxtil.
A segunda iniciativa está relacionada com a disponibilidade e qualificação de mão de obra. «A força de trabalho [da indústria] têxtil e vestuário está a envelhecer, com 35% a ter mais de 50 anos. As PMEs devem melhorar a qualificação da sua atual mão de obra para responder a uma indústria em rápida transformação e atrair jovens trabalhadores e profissionais com boas qualificações», considera a Euratex.
O investimento em têxteis inovadores e sustentáveis através de parcerias público-privadas constitui a terceira proposta da Euratex, que acredita que a medida pode «acelerar a investigação, inovação, testes-piloto e demonstração em áreas críticas», de que são exemplo a manufatura e as cadeias de aprovisionamento digitais.
A Euratex está igualmente a propor a criação de cinco centros de reciclagem têxtil na Europa, próximos de polos têxteis e de vestuário, para permitir, dessa forma, «fazer matérias-primas através da recolha, seleção, processamento e reciclagem de resíduos têxteis pós-produção e pós-consumo», adianta.
Por último, a confederação condena o bloqueio de bens nas fronteiras, algo que «não deve acontecer no futuro», acreditando que é fundamental assegurar o comércio livre e justo para as empresas. Como primeiro passo, a Euratex aponta a promoção da integração do ecossistema pan-euromed e a exploração de oportunidades de mercado resultantes dos acordos de comércio livre da União Europeia.
«Esta crise mostrou a importância da nossa indústria e agora, mais do que nunca, é essencial desenvolver a competitividade do ecossistema europeu. O pacote “Next Generation EU” [o pacote de medidas da UE com dotação de 750 mil milhões de euros] pode ter um papel importante e apoiar a indústria têxtil e de vestuário no seu renascimento», assegura Alberto Paccanelli, que foi reeleito presidente da Euratex.
Recuperação a curto prazo
Além desta estratégia, a Euratex revela no documento The European Textiles and Apparel Industry in the Post Corona Era – Proposals for Recovery , a necessidade de medidas imediatas para ajudar a recuperação da indústria, até porque um estudo recente da confederação mostrou que mais de metade das empresas inquiridas antecipava uma queda na produção e nas vendas superior a 50%. Entre as medidas propostas constam o acesso a curto prazo a liquidez, a rápida reabertura de lojas e empresas, contratos públicos direcionados, mercados e cadeias de aprovisionamento a funcionar bem e o fim do peso da regulamentação adicional.
Em relação aos mercados, a Euratex pede para que, internamente, sejam mantidas, sempre que possível, as operações industriais e relacionadas durante a crise do novo coronavírus e, internacionalmente, alerta que «a UE deve ser particularmente cuidadosa com a implementação de restrições às exportações/importações, já que podem encorajar retaliações futuras dos parceiros mundiais e vai definitivamente interromper as cadeias estratégicas de aprovisionamento no sector têxtil e vestuário».
De acordo com a Euratex, a indústria têxtil e vestuário europeia é atualmente composta por cerca de 160 mil empresas, que empregam 1,5 milhões de pessoas e que, em 2019, exportaram mais de 61 mil milhões de euros.