Euratex cria centros de reciclagem na Europa

A confederação europeia de têxteis e vestuário anunciou a iniciativa conjunta ReHubs que tem como objetivo criar cinco centros de processamento de resíduos têxteis a nível europeu. Bélgica, Finlândia, Alemanha, Itália e Espanha afiguram-se como os candidatos prováveis à sua instalação.

Sasia [©CMVNF/Diana Correia]

O aumento da quantidade de têxteis recolhidos – que passou de 2 milhões de toneladas em 2014 para 2,8 milhões de toneladas em 2019 e, em menos de quatro anos, deverá atingir um valor entre 4,2 e 5,5 milhões de toneladas – vai tornar-se, segundo a Euratex, um enorme desafio ambiental e económico, «a não ser que a Europa crie um sistema de grande escala e coordenado para recolher, selecionar e reciclar todos os fluxos de  resíduos têxteis até 2024».

Para transformar «o problema dos resíduos têxteis numa oportunidade», a Euratex está a lançar uma iniciativa conjunta para criar ReHubs, isto é, centros europeus de reciclagem de têxteis.

«Criar os ReHubs perto das zonas de têxteis e vestuário da Europa vai oferecer o benefício da economia circular, permitindo o upcycling de resíduos têxteis, enquanto possibilita uma gestão completamente nova, coordenada e de grande escala de fluxos de materiais», explica em comunicado.

De acordo com o documento disponibilizado pela confederação, a UE produziu aproximadamente 5,8 milhões de toneladas de têxteis e importou cerca de 6,5 milhões de toneladas em 2019. Tendo em conta que exportou cerca de 1,6 milhões de toneladas, o consumo aparente pode ser estimado em cerca de 10,7 milhões de toneladas, ou 24 quilos per capita. «Apenas cerca de 2,8 milhões de toneladas foram recolhidas na Europa, enquanto mais de 4 milhões de toneladas desapareceram em incineradores ou aterros juntamente com outros resíduos», aponta a Euratex.

A maior parte dos têxteis recolhidos é vestuário, 65% dos quais permanecem na Europa. Desses, cerca de 50% a 60% ainda podem ser reutilizados, 10% a 15% são convertidos em produtos de baixo valor, como panos de limpeza, 10% são incinerados ou colocados em aterros e os restantes 15% a 30% são reciclados.

«Do ponto de vista ambiental e económico, é uma perda simplesmente enviar para o estrangeiro ou incinerar mais de 4 milhões de toneladas de matérias-primas», salienta a confederação.

Aproveitar as oportunidades

Por isso mesmo, a capacidade destes cinco centros de reciclagem de tratar grandes volumes deverá criar economias de escala, justificando os custos das atuais tecnologias de reciclagem, assim como o investimento em novas soluções, como a reciclagem química ou térmica. «Isto vai gerar novas matérias-primas para as cadeias de valor têxteis, que são compostas sobretudo por pequenas e médias empresas (ciclo fechado da fibra à fibra), e para a simbiose com outras indústrias europeias (como a automóvel e outras)», indica.

[©Pxfuel]
Com base na indústria existente, tanto de reciclagem como têxtil e de vestuário, a Euratex está a apontar a Bélgica, a Finlândia, a Alemanha, Itália e Espanha como «candidatos ideais» a acolher os centros. «Estes cinco ReHubs iniciais vão, contudo, operar de forma transfronteiriça e beneficiar muitos outros países europeus a curto e médio prazo», sublinha.

A longo prazo, espera a Euratex, e com a superação dos desafios em termos de investigação e desenvolvimento, os ReHubs poderão não só responder ao problema dos aterros e da incineração, «mas irão criar uma oportunidade para a Europa reforçar a sua autonomia de matérias-primas e fornecer um ecossistema saudável de reciclagem na Europa».

Além disso, estes centros vão gerar novos empregos, com as estimativas a apontarem para que possam ser criados cerca de 20 postos de trabalho por cada 1.000 toneladas de têxteis recolhidos, selecionados e reciclados, antecipando a possibilidade de haver mais 120 mil empregos.