As importações americanas de vestuário baixaram 24,4% em quantidade e 11,9% em valor em comparação com janeiro e fevereiro de 2022, de acordo com os números do gabinete de têxteis e vestuário (Otexa) dos EUA, analisados por Sheng Lu, professor associado de Estudos de Moda e Vestuário na Universidade do Delaware, num artigo publicado pelo Just Style. Ajustados sazonalmente, os dados revelam uma descida de 3,4% em volume e de 7% em valor em fevereiro face a janeiro.
«Em todo o país, as importações totais de produtos por parte dos EUA caíram 2,2% em fevereiro de 2023 em termos anuais, refletindo um abrandamento do crescimento económico e a redução do entusiasmo dos consumidores pela compra de bens», escreve Sheng Lu.
A confiança dos consumidores americanos, contudo, subiu em fevereiro (para 73,5 pontos, num índice que assume como valor de referência 100) e atingiu o nível mais elevado nos últimos seis meses. Já o índice de vendas a retalho das lojas de vestuário, que mede os gastos em vestuário dos consumidores, manteve-se relativamente estável em cerca de 116 pontos em 2023.
Nearshoring promissor
As importações americanas de vestuário provenientes da China têm vindo a cair acentuadamente, com as empresas a manterem a estratégia de reduzir a exposição ao Império do Meio. As importações da China desceram 35,5% em quantidade e 29,7% em valor, uma queda proporcionada pela falta de confiança das empresas após as restrições impostas pelo país no âmbito da pandemia e pelo aumento das tensões políticas entre os dois países.
Quem mais beneficiou desta redução das compras à China foram países asiáticos como o Bangladesh, Índia, Indonésia e Vietname, que nos primeiros dois meses do ano registaram uma subida das compras de vestuário por parte dos EUA de 1,5%, 0,8%, 0,3% e 0,2%, respetivamente. No total, agregando os números de janeiro e fevereiro de 2023, cerca de 72,2% das importações de vestuário dos EUA foram provenientes de países asiáticos.
Neste cenário, o nearshoring do Hemisfério Ocidental é promissor, mas refere o professor, há questões que têm de ser ultrapassadas. «À primeira vista, as importações de vestuário dos EUA do Hemisfério Ocidental ganharam quotas de mercado adicionais nos primeiros dois meses de 2023 (de 11,9% para 13,5% em quantidade), incluindo de membros do acordo de comércio livre CAFTA-DR», que envolve os países da América Central e a República Dominicana, com um aumento de 7,8% para 8,7% em quantidade, salienta Sheng Lu.
«Como resultado, as importações de vestuário dos EUA de muitos países asiáticos sofreram um declínio mais significativo durante o recente abrandamento económico. Por outras palavras, continuamos sem saber se as empresas americanas de moda estão a transferir encomendas da Ásia para o Hemisfério Ocidental ou, em vez disso, a usar o nearshoring como parte das suas estratégias de diversificação de sourcing. Por outro lado, uma estratégia de longo prazo mais eficiente para expandir o sourcing de vestuário dos EUA do Hemisfério Ocidental é diversificar a oferta de produto e permitir que as fábricas de vestuário na região acedam a matérias têxteis necessárias mais facilmente e a um custo mais baixo», conclui Sheng Lu.