EUA compram mais às Honduras

As Honduras estão a reforçar a sua posição no sourcing de proximidade para a indústria americana, ocupando atualmente a segunda posição nas vendas de têxteis e vestuário realizadas sob acordos de comércio livre. Uma possível recessão e a inflação nos EUA estão, contudo, a ensombrar as perspetivas de futuro.

[©Asociación Hondureña de Maquiladores]

Nos primeiros oito meses do ano, as Honduras exportaram 2,23 mil milhões de dólares (cerca de 2,24 mil milhões de euros) de têxteis e vestuário para os EUA, dos quais 1,58 mil milhões de dólares foram vendidos sob acesso privilegiado proporcionado pelo acordo CAFTA-DR, o acordo de comércio livre dos EUA com os países da América Central e da República Dominicana, segundo os dados do Otexa, o gabinete de têxteis e vestuário dos EUA, citados numa análise realizada pelo Just Style. Os volumes exportados também subiram, somando mais 15,3%, para 87 milhões de metros quadrados.

O país surge apenas atrás do México, que ocupa a primeira posição, tendo enviado, entre janeiro e agosto de 2022, 4,3 mil milhões de dólares em exportações de têxteis e vestuário para os EUA.

As Honduras, que apesar das elevadas taxas de criminalidade mantêm uma democracia multipartidária, surgem na liderança das exportações sob o CAFTA-DR, à frente da Nicarágua (1,75 mil milhões de dólares), El Salvador (1,36 mil milhões de dólares), Guatemala (1,37 mil milhões de dólares), República Dominicana (522,7 milhões de dólares) e Costa Rica (42,6 milhões de dólares).

Atualmente, a indústria têxtil e vestuário é o principal sector exportador das Honduras, responsável diretamente por 7% do PIB do país e por dar emprego a 173 mil pessoas, de acordo com a Asociación Hondureña de Maquiladores (AHM), a principal associação da indústria no país. Indiretamente, os números são ainda mais elevados, com a indústria têxtil e vestuário a ser responsável por 29% do PIB do país e por mais 83 mil empregos indiretos em sectores adjacentes, como os transportes.

Há 19 grandes produtores de têxteis e vestuário no país, de um total de 273 empresas, segundo a AHM. Estas empresas estão no centro de um ecossistema que inclui 31 grandes empresas fornecedoras da indústria têxtil e vestuário, incluindo de maquinaria, botões, linhas, etiquetas, sacos de plástico, elásticos e fechos, que servem também muitas empresas estrangeiras.

[©Asociación Hondureña de Maquiladores]
«Com os EUA a tentarem importar bens mais perto de casa, tendo em conta os problemas de transportes e a inflação causada pela pandemia e alimentada pela invasão sangrenta da Ucrânia, o Banco Central das Honduras afirma que as importações dos EUA de todo o tipo de bens a partir das Honduras cresceu mais rápido do que o esperado no primeiro semestre de 2022, com mais 6,7% em termos anuais», aponta a análise do Just Style.

Em 2021, as exportações de têxteis e vestuário das Honduras aumentaram, em grande parte devido à maior procura dos EUA, com a AHM a assinalar um crescimento de 8,6% face a 2019, o ano anterior ao início da pandemia. Os produtos mais exportados incluem t-shirts, meias, sweatshirts e camisas de algodão, indica a associação ao Just Style.

Incertezas no futuro

Em sentido contrário, as Honduras são um importante comprador de fio aos EUA, com mil milhões de dólares de compras, equivalente a 23% do total de vendas de fio do país norte-americano, realça a AHM.

Os dados do representante do comércio dos EUA mostram que, em 2019, as Honduras importaram 719 milhões de fibras de algodão e sintéticas. De acordo com a AHM, isso tem sido impulsionado pelo crescimento na produção de tecidos, que está a permitir ao país da América Central atingir uma «integração vertical da sua indústria têxtil, que é uma parte essencial da relação comercial e estratégica entre as Honduras e os EUA».

As vendas das Honduras também têm sido reforçadas pela lei de zonas livres no país, que está a reforçar a competitividade da indústria têxtil hondurenha, acredita o presidente da AHM, Mario Canahuati. O regime dá às empresas dos sectores abrangidos vantagens fiscais durante 15 anos, com a possibilidade de renovar os benefícios por mais uma década. Reduz ainda os procedimentos administrativos para assegurar as aprovações operacionais de oito meses para apenas um, centralizando as operações burocráticas numa única instituição.

O país beneficia igualmente de portos abertos 24 horas por dia, sete dias por semana, que ficam relativamente perto dos EUA, sendo apenas necessários três dias de navegação para levar os contentores do porto principal das Honduras, Puerto Cortés, no mar das Caraíbas, para Port Everglades, Houston ou Miami.

[©Asociación Hondureña de Maquiladores]
Estas vantagens, salienta o Just Style, motivaram empresas como a Parkdale Mills, uma empresa americana sediada na Carolina do Norte, a anunciar planos para investir 150 milhões de dólares numa nova fiação em Villanueva, perto de Puerto Cortés. Outro exemplo é a grossista americana de vestuário SanMar, que em dezembro do ano passado revelou que iria aumentar as compras de produtos fabricados na América Central, em especial nas Honduras, até 2025. Este compromisso significa mais confeção nas Honduras, nomeadamente mais 4.000 empregos a tempo inteiro na Elcatex, uma produtora de vestuário sediada em Choloma, também próxima do principal porto das Honduras, que é parcialmente detida pela SanMar.

Mario Canahuati acredita que os investimentos na indústria têxtil e vestuário irão criar pelo menos 15 mil postos de trabalho no país nos próximos cinco anos. No entanto, o excesso de stocks, a provável recessão e elevada inflação nos EUA deverão ensombrar as Honduras. Em setembro, a Hanesbrands anunciou, para novembro, o encerramento da sua unidade produtiva Jasper, em Choloma, com a perda de 1.700 empregos diretos.

Outras empresas estão a pôr em pausa as suas encomendas, revela a AHM, mas o impacto nos números do segundo semestre nas exportações das Honduras só será conhecido no início do próximo ano.