EUA: A estranha lógica do comércio de vestuário

A eliminação das quotas em 2005 deveria ter originado um aumento no volume de vestuário importado pelos EUA, fundamentalmente com origem na China. Mas, de acordo com os últimos dados governamentais norte-americanos, as coisas não evoluíram propriamente desta forma. No presente estudo publicado originalmente pelo just-style.com, David Birnbaum analisa a lógica e a razão, segundo a sua própria perspectiva, da indústria de vestuário. Existe algo na indústria de vestuário que desafia a lógica e torna ridícula qualquer tentativa de encontrar uma explicação racional. Por exemplo, quando os profissionais do sector se sentaram pela primeira vez para prever os efeitos da eliminação das quotas, todos concordaram que a lógica ditava dois pontos: 1. O novo mercado livre vai aumentar o volume de vestuário importado para os EUA, e 2. As importações dos EUA com origem na China vão aumentar de forma implacável. Mas algo aconteceu. Mais uma vez a lógica e a razão foram esquecidas. Primeiro, é necessário assegurar que nada de errado existia na lógica inicial. As importações unitárias deveriam aumentar. O final das quotas deveria originar a redução dos preços FOB porque os custos associados às quotas iriam desaparecer e o mercado liberalizado deveria resultar em maior concorrência entre os fornecedores. As regras da oferta e da procura ditam que preços menores originam maior procura. A China deveria dominar o mercado internacional de vestuário. O vestuário «Made in China» foi o mais significativamente restringido pelas quotas. Como resultado o preço FOB chinês aumentou ao ponto de serem 30% superiores à média mundial, mas mesmo assim os clientes fizeram fila para comprar o vestuário chinês. O final das quotas deveria reduzir os preços FOB dos artigos fabricados na China. A procura deveria aumentar significativamente e a China tomaria conta do mercado mundial de vestuário. Mas os acontecimentos não seguiram a lógica e, no segundo semestre de 2005, começaram a emergir tendências preocupantes. As importações unitárias não aumentaram de forma significativa como esperado. Efectivamente aconteceu o contrário. As importações mensais aumentaram em relação ao registado em 2004, no entanto, a taxa de aumento estava em queda. Em Dezembro de 2005, as importações registaram uma taxa de crescimento nula. As importações da China não aumentaram de forma implacável. Efectivamente, também neste caso foi registado o contrário. Na segunda metade de 2005, as importações de vestuário chinês começaram a evidenciar uma tendência negativa em relação aos meses homólogos de 2004. No entanto, a existência de razões adequadas para justificar estas aparentes anomalias foi assegurada. Eis a lógica encontrada por detrás destas tendências: 1. As importações unitárias não dispararam conforme previsto porque os importadores e os fornecedores foram lentos a adaptarem-se ao paradigma do novo mercado livre. Em vez disso, segundo os profissionais do sector, 2006 traria os esperados aumentos significativos das importações. 2. As importações com origem na China não aumentaram de forma implacável como esperado porque o perverso governo dos EUA impôs quotas de salvaguarda e embargou as principais categorias em Julho. Em 2006, os peritos da indústria previram que quando estes produtos saíssem do embargo, todos iriam assistir à conquista do sector de vestuário pela China. Agora que 2006 já chegou, nós sabemos a pontuação: Irracionalidade do raciocínio da indústria de vestuário: 2 Lógica e razão: 0 O governo norte-americano já lançou os dados preliminares para o mês de Janeiro de 2006. Conforme se apresenta no gráfico seguinte, os EUA importaram apenas 3% mais vestuário em Janeiro de 2006 do que em Janeiro de 2005. A tendência que começou em Julho de 2005 está a manter-se de forma consistente contrariando toda a lógica e a razão. A mesma tendência tem-se verificado em praticamente todos os produtos estratégicos, com as t-shirts de algodão (categorias OTEXA 338/339) a registarem a maior quebra. O padrão repete-se nas outras significativas categorias de produtos de importação, nomeadamente: camisas em tecido de algodão (340), calças em tecido de algodão (347/348) e roupa interior (352/652). A situação em relação à China é ainda mais grave. Conforme mostra o próximo gráfico, as importações norte-americanas de vestuário com origem na China têm registado uma tendência negativa desde Julho de 2005. Em Junho de 2005 os EUA importaram 159% mais peças do que em Junho de 2004. Em Dezembro este indicador baixou para os 53% e em Janeiro de 2006 atingiu os 10%. Mas,o que significa isto? A lógica e a razão ditaram que as coisas não iam funcionar desta forma. Deve existir uma razão para estes acontecimentos invulgares… No caso da falta de exportações chinesas, a questão torna-se ainda mais confusa. Estas são algumas das explicações que se apresentam: 1. Toda esta confusão é resultado das quotas de salvaguarda. As importações norte-americanas da China registaram uma quebra após Junho de 2005 porque as principais categorias de produtos foram embargadas. Esta lógica poderá explicar a quebra registada na segunda metade de 2005. No entanto, Janeiro de 2006 foi o início de uma nova era de quotas, por isso as importações previamente embargadas de produtos fabricados na China (t-shirts, calças em algodão e fibras não-naturais e roupa interior) deveriam ter regressado ao normal. Na realidade, em Janeiro de 2006 estas importações registaram uma quebra superior a 73% em relação a igual período de 2005. 2. Janeiro de 2005 foi um mês singular, o primeiro mes em mais de 40 anos que foi efectivamente isento de quotas alfandegárias. Os importadores e os retalhistas apressaram-se para beneficiar do novo ambiente internacional. Este raciocínio pode ser lógico, mas não corresponde aos factos. Tradicionalmente Janeiro sempre registou um maior volume de importações seguido de quebras nos meses de Fevereiro e Março. No entanto, 2005 foi uma excepção. No ano passado o pico foi registado no mês de Fevereiro. 3. Janeiro de 2006 foi simplesmente uma aberração. Fevereiro deverá regressar ao normal. Este não parece ser o caso. O governo norte-americano publica dados diários sobre a utilização da quota, e os dados das importações com origem na China não demonstram qualquer melhoria durante o mês de Fevereiro. 4. Nós não sabemos o que está a acontecer. Considerando todos os elementos disponíveis, é demasiado cedo para chegar a qualquer conclusão sobre estas hipóteses. No entanto, tendo por base a lógica e o raciocínio, a explicação número quatro aparenta ser a mais acertada.