O estudo publicado pela APT sobre a liberalização do comércio mundial de têxteis e vestuário continua a provocar o debate sobre o futuro da ITV nacional. O Departamento de Estudos do CENESTAP teve acesso a uma cópia da versão integral do estudo, no qual se procurou efectuar um diagnóstico estratégico da ITV portuguesa bem como apresentar recomendações quanto às estratégias a seguir.
Segundo o D.E. do CENESTAP o estudo agora publicado, apesar de não ser o primeiro a versar sobre o tema do impacto da liberalização do comércio mundial de têxteis e vestuário traz consigo aspectos positivos, nomeadamente do ponto de vista do diagnóstico estratégico da ITV portuguesa.
A elaboração deste estudo veio mais uma vez relançar o debate sobre as estratégias que a ITV deve seguir para poder enfrentar a revolução que se aproxima, com a liberalização do comércio mundial de têxteis e vestuário em 2005. Deste ponto de vista, o estudo em si é mais uma pedrada no charco para alertar os empresários para a necessidade de apostar claramente em factores dinâmicos de competitividade, evitando a lógica da concorrência pelo preço em produtos não diferenciados.
A detecção dos pontos fortes e pontos fracos do sector em Portugal é coincidente com a opinião da maioria dos analistas do sector, nomeadamente quando se considera que apesar dos custos de mão obra em Portugal apresentarem uma forte tendência para o aumento, a produtividade em valor ainda se encontra em patamares algo distantes dos correntes para a ITV da União Europeia.
Contudo, salienta-se o elevado esforço no sentido da modernização produtiva do sector em Portugal, que pode contar com mais de 545 milhões de contos de investimento apoiado por vários instrumentos de política industrial e regional no período entre 1989 e 2000. Segundo a KSA a produtividade média estimada para o sector têxtil situa-se em 87% do valor mais elevado, apresentado pela Alemanha, Itália e Estados Unidos. No vestuário Portugal detém uma produtividade que se coloca a 83% dos melhores resultados, que neste caso são obtidos pela Itália e Estados Unidos, não se percebendo contudo se estes dados se referem à produtividade em volume ou em valor. De facto, o CENESTAP, a partir de dados da OCDE obtém um indicador para a produtividade em valor para o sector têxtil português que é de apenas 48% do valor para os Estados Unidos. Para o sector do vestuário o valor obtido pelo CENESTAP é de 34% do valor da produtividade dos EUA. Ressalta igualmente o facto de segundo o estudo da APT, o Paquistão deter um nível de produtividade média superior em três pontos percentuais ao apresentado por Portugal. Como o estudo não apresenta a forma de cálculo deste indicador torna-se impossível aferir da sua aderência ou não à realidade.
O estudo levanta igualmente uma questão muito importante, nomeadamente quando se afirma que o maior impacto da liberalização ainda está para chegar. De facto, salienta-se que actualmente ainda estão por integrar mais de 66% do total de importações da UE, sendo de realçar que no caso do vestuário ainda falta integrar 92% das importações. Uma das dúvidas que se coloca ao analisar o estudo é o facto de, na opinião do D.E. do CENESTAP, a avaliação quantitativa do impacto da liberalização se basear em larga medida em factores explicativos puramente qualitativos. Neste aspecto, a opção por uma análise econométrica, baseada nas elasticidades estimadas do mercado e nos valores históricos para os fluxos de comércio internacional, de acordo com a maior parte da literatura existente sobre o assunto, poderia ser, do ponto de vista técnico, mais adequada.