Estas são as próximas inovações nos materiais

Sustentabilidade, performance e circularidade são algumas das tendências que deverão marcar o desenvolvimento de novos materiais para a indústria da moda no resto de 2021 e no futuro, de acordo com 10 dos principais especialistas e atores do sector.

Unifi [©Unifi]

Mesmo durante a pandemia, a inovação nas matérias-primas para a indústria da moda continuou a bom ritmo. Desde alternativas sustentáveis, como a introdução de fibras recicladas e ingredientes de base biológica, a melhorias ao nível da performance, o vestuário e o calçado estão a reduzir o seu impacto no ambiente ao mesmo tempo que aumentam a exigência em relação aos benefícios, incluindo durabilidade e controlo de temperatura.

O Sourcing Journal questionou 10 executivos da indústria sobre os maiores desenvolvimentos que viram no último ano e sobre as inovações a ter em conta no resto deste ano e no futuro.

PrimaLoft [©PrimaLoft]
Para Mike Joyce, CEO da PrimaLoft, o grande destaque vai para o surgimento de alternativas às fibras sintéticas, como poliéster e polipropileno, obtidas a partir do petróleo. «Estamos a começar a ver alguns materiais promissores sem petróleo a emergir, que podem tornar-se verdadeiros substitutos para os sintéticos atuais. Avançarmos para soluções sem petróleo e até carbono negativas é uma empreitada enorme que pode começar a ter um impacto positivo significativo na indústria têxtil, e no nosso planeta, nos próximos anos», acredita.

Amanda Parks, cientista de moda e diretora de inovação na Pangaia, aponta a «Kintra Fibers, pelo desenvolvimento de uma alternativa sintética de base completamente biológica e biodegradável» como a maior inovação no ano passado. «Desenhar para a funcionalidade e o fim de vida, a começar pela estrutura molecular, é toda uma nova forma de pensar os materiais na indústria da moda», considera. Para o futuro, Amanda Parks afirma que «vou estar atenta a evoluções na produção biológica e dar uma maior atenção a matérias-primas como os sistemas de agricultura regenerativa e os resíduos como uma commodity de elevado valor».

O CEO da Unifi, Eddie Ingle, confirma que «este ano, os produtos e soluções circulares assumiram o papel principal como os mais recentes desenvolvimentos nos objetivos de sustentabilidade». Segundo indica, «os programas de recolha têxtil da Unifi criaram soluções de economia circular que nos ajudaram a criar um sistema para captar e reciclar os resíduos têxteis em artigos de primeira qualidade, que podem ser triturados e reciclados novamente. Estamos empenhados em levar estes programas para o próximo nível ao reimaginarmos o ciclo de vida dos têxteis do futuro para o bem do amanhã».

Importância da performance

Na W.L. Gore & Associates, a meta é «inovar para a sustentabilidade e a performance», salienta Achim Loeffler, diretor de negócio para tecidos de consumo da empresa. «O nosso compromisso para reduzir a nossa pegada e perseguir novas funcionalidades exige que exploremos continuamente os avanços nos materiais para o nosso negócio. Isso inclui a exploração de novos materiais para o nosso portefólio de tecidos de consumo que sejam fabricados sem PFCs preocupantes para o ambiente, capazes de fornecer uma performance fiável para o consumidor e com uma baixa pegada ambiental», resume.

Na marca sueca de streetwear sustentável Dedicated «temos seguido de perto os desenvolvimentos nos liocéis, já que são os tecidos com a menor pegada de CO2», revela o CEO Johan Graffner. «Agora há grandes desenvolvimentos em liocel de algodão pós-consumo e este já está disponível em empresas como a Lenzing, a Renewcell e a Södra Skog. É um ótimo passo para chegar mais longe na circularidade», acrescenta. Graffner indica ainda que «há muitos tecidos novos feitos de resíduos da produção de alimentos, como os produtos lácteos, grãos de café, casca de banana e laranja, etc. Agora queremos ver se esses tecidos evoluem em qualidade, função e, sobretudo, preço, para que possam ser soluções sérias para a utilização no mercado de massa».

OrthoLite [©OrthoLite]
René Bethman, diretor de inovação da Vaude, destaca igualmente a economia circular e a produção de biossintéticos com novas funcionalidades e sem comprometer a performance, «como na nossa poliamida de base biológica». «Graças a uma plataforma de reciclagem molecular recentemente implementada, podemos usar resíduos de pneus como matéria-prima para criar vestuário de outdoor durável – a alocação segue o princípio do equilíbrio de massa –, colocando-nos um passo mais perto na nossa jornada de economia circular», refere.

Para Cindy McNaull, diretora de desenvolvimento de negócio da Cordura, «o maior desenvolvimento em materiais que vimos até agora este ano envolve o nosso trabalho com o cânhamo, que tem valor tanto nas nossas coleções de malhas como de denim. O cânhamo oferece, como benefícios, uma maior resistência à abrasão, à rotura e ao rasgo – três qualidades que se alinham com a plataforma de performance duradoura da marca Cordura». Quanto aos próximos tempos, «acredito que vamos ver a emergência de cada vez mais produtos “duráveis emocionalmente”, que incluem sustentabilidade e encorajam a cultura de passar as peças para familiares mais novos, a reutilização e a promoção do design circular», enumera Cincy McNaull.

Também Rob Faulken, vice-presidente de inovação da OrthoLite, elogia um material “feito em casa”, no caso a tecnologia O-Therm, «que é o primeiro e único aerogel com espuma de poliuretano do mundo que consegue um isolamento sem comparação e proporciona conforto todo o dia, performance e uma proteção ao frio sem paralelo na planta do pé», assevera, acrescentando que no resto do ano «a indústria deve manter a atenção numa nova tecnologia inovadora de espuma sustentável que a OrthoLite vai introduzir para o calçado».

HeiQ [©HeiQ]
O mesmo faz Carlo Centoze, CEO e cofundador da HeiQ, que destaca a tecnologia antiviral HeiQ Viroblock. «Um novo desenvolvimento inovador é o HeiQ XReflex, uma tecnologia de barreira radiante para materiais mais finos, mais leves e mais quentes, que tem sido entusiasticamente recebida por várias marcas que desejam ter um impacto sustentável forte», resume.

Por último, Jamie Bainbridge, vice-presidente de desenvolvimento de produto da Bolt Threads, considera que «o maior desenvolvimento em materiais não é um único material, mas a compreensão de que temos de criar e usar materiais renováveis e baixar os impactos à medida que a moda se move para um futuro mais sustentáveis». Por isso mesmo, «a inovação em que a indústria se tem de focar agora é como começamos a cumprir a promessa da circularidade para retomar estes materiais e construir a infraestrutura para o fazer à escala [industrial]», conclui.