Estará Londres fora de moda?

O aumento dos custos e a perda de talentos foram alguns dos temas que assombraram a passerelle da última semana de moda de Londres. De acordo com alguns analistas, o Brexit pode estar a deixar o Reino Unido fora de moda.

A marca de calçado de luxo Malone Souliers foi uma das mais de 100 empresas de vestuário e acessórios que participaram na semana de moda de Londres, decorrida de 15 a 19 de setembro. Avaliando as palavras do diretor-geral, tudo corre bem nos negócios da Malone Souliers, analisa o Evening Standard.

«Os clientes continuam a chegar até nós, mesmo depois do Brexit, e não vejo qualquer mudança», declarou o diretor-geral da Malone Souliers, Roy Luwolt.

Entretanto, o diretor criativo da Burberry, Christopher Bailey, reconheceu também que o potencial comercial do Reino Unido pós-Brexit é «enorme».

Contudo, para as marcas britânicas de menor escala e sem apoios, há sérias preocupações sobre como o Brexit poderá afetar a indústria de moda do Reino Unido, avaliada em 66 mil milhões de libras (aproximadamente 75 mil milhões de euros).

Custos em subida

Ainda que o influxo de turistas internacionais atraídos pela volatilidade da libra tenha impulsionado as vendas, o aumento dos custos está a prejudicar muitas marcas.

Ashish Gupta afirmou que a sua marca, Ashish, «teve uma quebra de mais de 20% nos lucros no mês que se seguiu ao Brexit porque a moeda desvalorizou e os custos aumentaram».

Já Jamie Wei Huang, fundador da empresa de moda contemporânea com o mesmo nome, admitiu que «o custo de estar neste negócio está a aumentar». Para Huang, a maior preocupação é o aumento dos custos de importação, pois a maioria dos tecidos são provenientes da Europa.

Clio Peppiatt, cujas roupas chamaram a atenção de nomes como Lena Dunham e Lady Gaga, admitiu também que o aumento dos custos de produção pode significar um aumento dos preços, o que por seu turno pode comprometer futuras as encomendas.

Talentos em risco

Há, ainda, outro motivo de preocupação. Numa indústria dependente das tendências globais, o fluxo de talento é vital.

A maioria das empresas asseverou que o Brexit ainda não afetou as decisões de recrutamento e expansão, mas algumas enfatizaram que garantir funcionários pode vir a ser mais difícil nos próximos anos.

À semelhança da indústria britânica, o sector da moda aguarda ansiosamente mais esclarecimentos sobre a salvaguarda dos cidadãos da União Europeia (UE) que trabalham em fábricas, estúdios de design e lojas britânicas.

Luwolt, da Malone Souliers insistiu que a sua empresa continuará a «incentivar o talento internacional, apesar das políticas que possam surgir do Brexit».

A verdade é que, por enquanto, o sector de moda britânico está de boa saúde.

As vendas de vestuário de senhora cresceram 1,3%, para os 27,3 mil milhões de libras, no ano passado e deverão alcançar os 28,7 mil milhões em 2021, de acordo com o grupo de pesquisa Mintel.

Caroline Rush, diretora-executiva do British Fashion Council tem também vindo a discutir as implicações do Brexit com o governo britânico e espera criar a primeira estratégia industrial para a moda no decorrer de 2018.