Estados Unidos à procura de soluções

O medo de mais ataques terroristas na América, a guerra no Afeganistão e o ambiente instável em muitos países muçulmanos estão a levar a que alguns empresários de vestuário repensem nas suas estratégias – e quem deverá tirar mais partido destas reestruturações deverá ser o México e os países da Bacia do Caribe. Responsáveis pela produção nas passadas seis semanas têm analisado as suas redes de produção, para determinar o quanto dependentes estão das fábricas no Paquistão, Indonésia e outros países que poderão ser abalados pela corrente crise, para assim procurarem fornecedores alternativos e assegurarem o stock nas lojas e uma estabilidade dos lucros. Até agora, os executivos afirmaram que as mercadorias continuavam a fluir das fábricas estrangeiras para os Estados Unidos, com pequenos atrasos consequência do aumento de monitorização do Serviço Alfandegário. Não se está a dar um cancelamento maciço de encomendas de nenhuma parte do mundo. “A Penney como regra geral está a tomar uma atitude de esperar para ver”, afirma Peter MacGrath, presidente de compras na J.C. Penney Co., «nós ainda temos produtos a serem fabricados no Paquistão, Turquia, Indonésia e em outros países que eu descreveria como áreas sensíveis. Ainda não tomámos nenhuma decisão para alterar a situação das coisas». Se os ataques aéreos no Afeganistão destruírem embarcações dos vizinhos paquistaneses ou se os esforços de Osama bin Laden em alimentar a fúria anti-americana nos muçulmanos ao redor do mundo, se provarem como sendo prejudiciais para as fábricas de outros lugares, a Penney estará pronta para reagir já que «é grande o suficiente para trazer mercadoria de 60 países», afirma MacGrath. «Nós temos pessoas no terreno em 23 países. Ser capaz de mudar não será problemático para nós», argumenta. Muitas firmas americanas, estão no entanto a ter o cuidado de espalharem as suas encomendas por diversos sítios, para aumentar as suas possibilidades de receber mercadoria a tempo no caso de existir uma ruptura. «Em vez de darmos o programa a um só fornecedor, estamos a dá-lo a dois calculando que se alguma coisa correr mal, um deles irá conseguir, mesmo se o outro ficar preso», explicou Jim Gutman, presidente da Pressman Gutman, uma “converter” sediada em Nova Iorque que negoceia especialmente em tecidos asiáticos. As preocupações dos importadores não estão limitadas ao Paquistão que partilha uma grande fronteira com o Afeganistão. Gutman fez notar que ele compra algum tecido no Uzbequistão, que também faz fronteira com o Afeganistão. Outros empresários expressaram preocupações acerca da produção no Bangladesh que fabrica têxteis e vestuário com fios paquistaneses, tal como a maioria dos países muçulmanos do Médio Oriente, onde os civis ergueram a sua voz contra as linhas de conduta americanas. Recentes demonstrações na Indonésia também causaram algumas preocupações. «Entre os nossos clientes importadores, há uma preocupação primordial com as potenciais rupturas de fornecimento», atenta a consultora Mary O’Rourke, sócia no Jassin-O’Rourke Group, que segundo esta fez com que algumas empresas dos Estados Unidos a olhassem com mais atenção a possibilidade de produzir no México e nas nações da Bacia do Caribe. «Não é que toda a gente esteja a retirar a sua produção dos mercados externos, mas há certamente o começo de uma deslocalização de uma parte da produção», adianta. «Eu vejo esta atitude como um seguro de produção. Estão a passar alguma produção para o México e para os Países da Bacia do Caribe. Há alguns importadores a fazer coisas que não faziam há 10 ou 15 anos, tal como comprometer 60% de uma encomenda num fornecedor central na China ou na Índia e planeando fazer os outros 40% regionalmente». Para além disso ela adiantou que, com muitos retalhistas a tornarem-se cada vez mais apreensivos com o recente abrandamento no consumo, as empresas de vestuário estão a encontrar algumas vantagens na produção local. Tom Haugen, director executivo da Li & Fung Trading Lda, um fornecedor de vestuário valendo 4.5 biliões de dólares (990 milhões de contos), com sede em Kowloon, Hong Kong, afirmou acreditar que as preocupações imediatas com a economia fizeram com que muitas indústrias se atrasassem nos seus compromissos de produção. «Ouvem-se rumores, mas ainda não existe nenhuma acção de mudança concreta de produção para outros locais», afirma Haugen, «as pessoas ainda estão a tentar digerir tudo o que isto significa. Estão a tentar entender como esta situação vai afectar as suas vendas. As decisões têm sido diferidas. As pessoas estão a atrasar a tomada de decisões e consequentemente as suas viagens de compra». Enquanto a indecisão pode ser uma motivação para os compradores atrasarem as suas viagens, o medo é outro motivo. Os ataques terroristas e os conselheiros de viagens do departamento de estado deixaram os executivos americanos apreensivos no que diz respeito a viajar para o estrangeiro. Enquanto a sua empresa está confiante em continuar a produzir na Indonésia, Haugen diz que «como americano, eu não iria para lá neste momento. Não por pensar que existe um grave problema, mas se o seu carro der uma curva errada e for de encontro a um pequeno problema, pode tornar-se num grande problema». Dada a relutância dos compradores americanos em viajar para o estrangeiro, Li & Fung está a mandar mais pessoal para visitar os clientes nos EUA. «Nós esperamos ter mais pessoal a visitar os nossos clientes americanos mais frequentemente e estamos a tentar trabalhar mais com a videoconferência. Internamente essa é provavelmente a maior mudança», afirma Haugen. A segurança nas viagens também está na mente de Isaac Dabah, presidente e chefe executivo da Gloria Vanderbilt Apparel Corp., sediada em Nova Iorque, que produz vestuário no Sri Lanka, Ásia e em algumas partes do Médio Oriente, e no México. Apesar de ter afirmado não estar preocupado com as remessas desses locais serem interrompidas, Dabah admite uma relutância em enviar os seus próprios empregados para as fábricas para verificar o funcionamento e a qualidade. «É difícil, eu não tenho problemas em ir mas não posso dizer às pessoas para irem», argumenta. Uma forma que a Gloria Vanderbilt encontrou para tornear este problema é ter os seus próprios empregados a tempo inteiro no país estrangeiro. A empresa abriu a sua própria fábrica no Jordão há um ano. Preocupações com a instabilidade no estrangeiro levaram algumas firmas a pensar na colocação da produção na Bacia do Caribe, uma região à qual a América estendeu os benefícios comerciais desde há um ano. «Já havia muito interesse nos países da Bacia do Caribe, não só pela economia, mas também pelas vantagens de rapidez associadas. O que fez com que haja um grande interesse por esta região», adiantou. Guiados por razões logísticas e motivações patrióticas, alguns na indústria pensam se será lógico para as empresas de vestuário depender da produção americana, que foi por todos abandonada durante décadas. O consultor Emanuel Weintraub, apoia a posição assumida por muitos na industria, afirmou que este objectivo era irreal. «Made in America não será viável, pois nós abandonamos completamente uma grande parte da nossa indústria de vestuário que seria um esforço brutal só para recuperá-la», afirma, «e mesmo depois de o conseguir, o custo do produto perante o resto do mundo tornaria o produto não-competitivo. O consumidor hoje em dia não procura preços mais altos no vestuário. Eles procuram preços deflacionários, que é o que está a acontecer». Bruce Raynor, presidente da União do Têxtil e Vestuário, UNITE, discorda e diz que as companhias devem voltar à produção nos EU. «Há imensos fornecedores com a capacidade e competência técnica para fazer frente às necessidades dos retalhistas e das companhias de vestuário». Enquanto a corrente crise faz com que a