Especulação ameaça Garment District

Situado em Manhattan, bem no coração de Nova Iorque, o Garment District pode estar em risco de desaparecer, com os proprietÁrios dos imóveis a quererem duplicar os preços das rendas, colocando, assim, em risco a indústria local. Estilistas, donos de ateliers e aprendizes de costura estão, por isso, revoltados e querem chamar a atenção para a importância deste bairro. Nanette Lepore desdobra-se em vÁrias funções, inspeccionando os sapatos que acabou de receber e trabalhando nos últimos pormenores da sua colecção Outono-Inverno, detendo-se, aqui e ali, em algumas peças. A estilista de Paris Hilton ou ainda da “desesperada” Eva Longoria não tem um único minuto a perder. No entanto, aceitou abrir o seu estúdio de criação e os seus ateliers à imprensa para falar da tragédia do Garment District». A criadora estÁ instalada na 35.ª Rua, no coração do famoso Garment District, e vê com angústia os proprietÁrios dos imóveis do quarteirão a tentarem duplicar os valores da renda das cerca de 200 empresas de confecção que ocupam a Área. Como revela, pouco importa se estes produtores podem ou não pagar, pois os particulares e os arrendatÁrios de escritórios aceitarão praticamente qualquer valor, jÁ que o Garment District fica bem no centro de Manhattan. Uma localização imbatível. Nos seus três pisos, Nanette Lepore tem 120 profissionais: nove modelistas e quatro assistentes agitam-se à volta de grandes mesas verdes. HÁ também cinco responsÁveis de corte, 25 pessoas nas diversas mÁquinas e cerca de 15 estilistas no estúdio de criação. Os rolos de tecido amontoam-se em cima das mesas, assim como os botões e fechos, guardados em recipientes de plÁstico. Chris Stoia, elemento de ligação com a produção, mostra os pequenos desenhos colados na parede. Uma tarefa que repete todos os meses. Os empregados ficam assim a saber, com um único olhar, os estilos do mês, as quantidades necessÁrias e as empresas que os produzem. Os 25.000 assalariados nova-iorquinos da indústria têxtil e do vestuÁrio hÁ muito que jÁ não se ocupam de colecções como as de Jones New York, Liz Claiborne e outras que, entretanto, se mudaram para a Ásia. Mas 90% da produção de Nanette Lepore ainda é feita em Nova Iorque, numa dúzia de ateliers vizinhos. A criadora quer um desenho de um napperon, porque isso lhe deu uma ideia de bordado para um vestido», explica Chris Stoia. Mandamos fazer os bordados nos ateliers em New Jersey e o modelo foi cortado em Nova Iorque». Estes pequenos vestidos amarelos, com preços de loja entre os 200 e os 400 euros, são suficientemente caros para permitir uma produção nova-iorquina. Nanette Lepore diz conseguir assim uma sensação de controlo fantÁstica». Se um desenho tem algum pormenor que não funciona bem, rapidamente ela corrige. Se os comerciantes pedem uma reposição, ela pode entregÁ-la rapidamente. Deste modo, a indústria nova-iorquina é um pequeno nicho ao serviço dos criadores. Quando Nanette Lepore aumentar a sua rede de lojas, com a abertura de uma boutique em Londres, todo o Garment District vai beneficiar. Tony Singh, o proprietÁrio da Four Seasons Fashion, partilha da mesma opinião. O atelier da empresa, localizado umas ruas mais à frente, tem cerca de 50 assalariados e é capaz de fornecer num curto prazo as encomendas de 500 a 1.000 peças dos seus 10 clientes habituais, grandes criadores americanos. Aí, os vestidos a 900 euros sustentam desde os costureiros aos controladores de qualidade. Bud Konheim, o CEO da empresa Nicole Miller, também defende com unhas e dentes o know-how local. Nos escritórios da Nicole Miller, na “Fashion Avenue”, não encontrarÁ computadores», adverte. Somos da velha escola». A criadora, antiga aluna da parisiense Chambre Syndicale de la Haute Couture, acredita que os seus melhores figurinos se desenham à mão. Os seus modelos, de uma elegância rebelde», são de seguida enviados para os ateliers em frente, a um minuto e meio». é assim que a empresa Nicole Miller (com 90 funcionÁrios) alimenta com novidades uma vez por mês as suas nove lojas próprias e as 1.200 lojas que compram os seus modelos na América, e serve ainda os seus clientes do Dubai, América Latina e Ásia. A pouco a pouco, a empresa expande-se internacionalmente e acabou de apresentar a sua colecção em Paris. Uma forma de trabalhar que pode estar em risco se os preços das rendas e das propriedades em Manhattan continuarem ao ritmo da especulação imobiliÁria, tornando-se incomportÁveis para estas pequenas e médias empresas.