O Grémio de Industrias de la Confeccion de Barcelona inaugurou este novo milénio com uma jornada sob o lema «Catalunha, Espanha, União Europeia nos próximos dez anos», com a consciência da necessidade de desenvolvimento e adaptação do sector textil-confecção aos desafios e dificuldades que se avizinham. Para este evento foram convidadas quatro personalidades da área económica, social, formativa e de comunicação, que esboçaram um contexto geral desta década que se aproxima, na qual o sector terá que se desenvolver.
Juan Rosell, presidente do Fomento del Trabajo Nacional, enveredou por uma perspectiva empresarial para os próximos dez anos, realçando a boa performance económica do país, relativamente a quase todos os sectores, referindo o próprio sector têxtil que apresenta melhorias significativas desde há dez anos atrás. Não deixou de abordar a Ronda do Milénio, realizada em Seattle, salientando que a União Europeia não deve capitular perante os Estados Unidos, e referiu a adaptabilidade e flexibilidade como dois conceitos que qualquer empresa deverá ter em conta nos desafios do mercado externo. Rosell aproveitou também para recordar que as empresas devem aproveitar esta boa conjuntura económica para arriscar mais, aproveitando para investir, sobretudo em infra-estruturas, em inovação tecnológica, em desenvolvimento e internacionalização. Neste contexto da adaptação ao novo decénio, a necessidade de uma revolução tecnológica é uma realidade, e nesse sentido Juan Aguilar, presidente do Grémio de Indústrias de la Confeccion de Barcelona, lembra que as estruturas empresariais espanholas ainda não se encontram preparadas para esta conversão, um processo que se apresenta vertiginoso já no inicio da década, não precisamos de esperar por 2010. Segundo Aguilar, outra importante tarefa a ter em conta envolve as unidades produtivas e os operários, na medida em que se devem modificar os hábitos de trabalho, de modo a conseguir uma resposta cada vez mais eficiente aos mercados. Sendo a revolução tecnológica um handicap que as empresas do sector terão que ultrapassar nestes anos vindouros, Salvador Maluquer, vice-presidente executivo da Associação Industrial Têxtil do Processo Algodoeiro, salienta que as empresas que melhor enfrentarão os desafios são as que melhor efectuem esta evolução, desde o conhecimento à inovação. Esta última será fulcral pois toda a empresa capaz de descobrir um produto novo lucrará não só pelo valor acrescentado implícito, assim como pela inexistência de concorrência, o que não consistindo um fenómeno novo, não deixará de ser real, pelo menos no curto prazo.
Relativamente a previsões, Maluquer adianta importantes alterações nos anos imediatamente anteriores a 2005, quando se dará a total abolição do Acordo Multifibras, em que se assistirá a uma aceleração das colocações de capital e a um aumento da capacidade produtiva dos países actualmente com limitações, o que implicará uma pressão acrescida sobre a Europa e os Estados Unidos. No que se refere à futura existência de um mercado único, não obstante o fracasso da ronda de Seattle, Juan Aguilar realça a perspectiva de um intercambio comercial mundial mais justo, onde seja patente um maior equilíbrio entre Estados Unidos e a Europa, lembrando que o sector têxtil será um dos mais negligenciados. Antoni Argandoña, professor do I.E.S.E., acrescenta que a ampliação do mercado será positiva, mas convém não esquecer que apenas sobreviverão as empresas que saibam criar nichos de mercado. Referiu que a transferência de parte do processo de produção para terceiros continuará justificando-se por estes serem onde a realização de determinadas fases é mais conveniente. No sector têxtil, o sub-sector da confecção apresenta a particularidade de ser mão de obra intensiva, e a dimensão das empresas está condicionada por uma série de factores, nomeadamente a facilidade relativa de entrada no sector, já que o investimento por posto de trabalho não é elevado, a inexistência de economias de escala produtiva e uma organização empresarial bastante descentralizada. Assim sendo, o principal desafio encontra-se na formação destes trabalhadores e na sua adaptação ás inovações tecnológicas.
Juan Aguilar acrescenta ainda que se não se dinamizar a cadeia de produção o sector continuará a apresentar uma imagem obsoleta, pouco apelativa a novas gerações. Ainda no que se refere aos trabalhadores, Salvador López, secretário geral da Fiteqa-Cataluña, reafirma a necessidade de investir na formação, mas refere a importância de evitar viver com incertezas e instabilidade laborais, sem esquecer a necessidade de salários mais altos e maior flexibilidade no horário de trabalho, o que implica que os empresários sejam mais gestores e menos técnicos.
Relativamente ao ultimo elo da cadeia têxtil, a distribuição, são esperadas as maiores transformações, não só ao nível das novas tecnologias, mas também na proliferação de novos canais de distribuição, como as grandes superfícies ou os «franchisings», que confirmaram a ideia que o consumidor final muda de hábitos no momento de escolher onde comprar.
A euforia de fusões nestes grandes grupos é um evidente sinal da boa resposta deste sector. Neste sentido, Xavier Olivé, presidente da BBDO, também presente na jornada, refere que o consumidor deste novo século procurará as grandes marcas que se identifiquem com os seus ideais de vida, sendo estas marcas muitas vezes fruto de fusões de grupos, e será infiel por natureza, pois serão inúmeras as inovações, os novos produtos e os novos canais, onde se salienta a Internet. De qualquer modo, Olivé lembra que faltam pelo menos cinco a sete anos para chegarmos á sociedade interactiva, pelo que se pode antever que os novos sistemas de venda continuarão a conviver com os tradicionais, e acrescenta que o que assegurará a sobrevivência das empresas de confecção será o investimento numa marca forte, altamente reconhecida.