O comércio global de peles, avaliado anualmente em mais de 22 mil milhões de dólares por anos (cerca de 18 mil milhões de euros), está a sofrer com a decisão da Dinamarca de pôr fim à vida de 17 milhões de visons, depois de terem sido detetados surtos de Covid-19 em centenas de quintas que descobriram uma nova mutação nos mamíferos.
Esta problemática fomentou a escassez repentina de peles, já que a Dinamarca era a maior fornecedora de visons da Europa, a par da Lituânia. Como consequência, verificou-se uma subida de 30% nos preços na Ásia, provocada pela insuficiência de peles no mercado, revela a Federação Internacional de Peles (IFF), noticia a Reuters.
Com esta reviravolta no mercado de peles, todas as atenções estão voltadas para a Finlândia, onde um milhão de visons e 250 mil peles de raposa estão à disposição de vários compradores como é exemplo a Coreia, a China e os EUA. A casa de leilões Saga Furs indicou ter realizado a primeira venda internacional após o abate massivo de visons na Dinamarca dia 15 de novembro numa transmissão live. Um programa de vendas disponibiliza pele de vison da Europa e da América do Norte como “Pearl Velvet” e “Silverblue Velvet”, além da oferta de “Silver Fox” (raposa cinzenta), “White Finnraccoon” (guaxinim branco) e zibelina russa.
Como resultado da crise pandémica, a Saga Furs que, no ano passado ultrapassou o rival norte-americano NAFA, estima vender todas as peles, comparativamente com uma retoma de 55%, até ao momento, em 2020. «O mercado vai fortalecer, um aumento nos preços vai ajudar os nossos negócios em geral», refere Magnus Ljung, CEO da Saga Furs relativamente sobre sector que, durante anos, vivenciou uma queda nos preços. «Já recebemos mais pedidos de raposas. Se as pessoas derem pela falta do vison, podem considerar o uso de algo mais», explica o CEO.
Helene Valade, diretora de sustentabilidade da LVMH, assegurou que o grupo de luxo francês obtém peles através da Finlândia. A proprietária da Louis Vuitton, Dior e Fendi, que depende de agentes intermediários para licitar, assegura estar a usar apenas vison, raposa e guaxinim 100% certificados.
A procura por peles tem vindo a descer já desde 1950, à exceção de um aumento registado entre 2000 e 2013, quando os uso de pelos e peles era muito utilizado nas passerelles de moda pela indústria de luxo, descreve Lise Skov, uma académica que investigou a indústria de peles dinamarquesa.
Em termos comparativos, uma pele de vison típica foi vendida, em leilão, por mais de 90 dólares em 2013, um valor muito superior aos 30 dólares por pele registados no ano passado. A procura também se ressentiu com uma queda global no comércio de peles para pouco menos de 60 milhões de peles no ano passado, face aos mais de 80 milhões atingidos em 2014.
Espera-se ainda, segundo a Euromonitor, que o valor das peles, quer seja naturais como sintéticas caiam 2,6% durante o ano atual.
O fim da pele?
Uma empresa dinamarquesa pertencente aos criadores que venderam 25 milhões de peles de vison no ano passado, o equivalente a 40% do total das vendas globais, está a considerar vendar marca própria e outros ativos, apesar de ter anunciado que iria pôr fim às operações no prazo de dois ou três anos.
Os ativistas que lutam pelos direitos dos animais esperam que o desastre dinamarquês, que teve repercussões políticas no país, acabe com a indústria de peles e que a procura por artigos desta tipologia e que recorra a este segmento de mercado despareça à semelhança do que acontece nalguns países e estados que já proibiram quintas produtoras de peles, como a Grã-Bretanha, Áustria, Holanda, França, Noruega, Israel e Califórnia.
Segundo PJ Smith, diretor de política de moda da Humane Society International, as marcas que ainda usam peles verdadeiras vão deixar de o fazer muito em breve, seguindo as pisadas da Gucci, Prada e Armani.
Enquanto isso não acontece, Lauge Christensen, acredita que as marcas de moda na Europa estão preocupadas em não conseguirem encontrar uma qualidade semelhante às peles de vison dinamarquesas. «Um dos maiores desafios do ponto de vista da marca é que as qualidades dinamarquesas exclusivas vão desaparecer da coleção e não podem ser adquiridas noutro lugar», indica o CEO da Kopenhagen Fur.
Seguida pela Rússia, a China é a maior compradora de peles dinamarquesas, uma vez que os próprios visons dos respetivos países são considerados de qualidade inferior comparativamente aos mamíferos criados na Europa, onde os padrões de criação são, por norma, mais elevados. «Não escolheríamos peles chinesas por causa da má qualidade», assume Zhang Changping, proprietário da chinesa Fangtai Fur ao salientar já ter comprado peles suficientes, pelo menos, para o primeiro semestre de 2021. Zhang Changping acrescenta também que na eventualidade da Dinamarca deixar de ser fornecedora de peles visons, optaria pela Finlândia como segunda opção.
Niccolò Ricci, diretor-executivo da italiana de luxo Stefano Ricci, que possui muitos clientes na Rússia e no Leste Europeu, espera que os preços dos visons aumentem 50% e que as marcas «sofisticadas» como a sua vão continuar a querer peles de alta qualidade, principalmente de fornecedores dos EUA.
«A verdadeira escassez poderá vir em 2022, mas até lá esperamos que os produtores de visons no Canadá, Polónia, América e Grécia aumentem a produção para substituir a produção dinamarquesa», avança Mark Oaten, CEO da IFF. A Rússia e a China também devem aumentar a produção.
«As pessoas também vão olhar para outros tipos de pele. A raposa é muito popular para adereços, nas parkas, por exemplo. A pele selvagem também se está a tornar mais popular, assim como a chinchila», resume o CEO.