ERT quer crescer fora do automóvel

O grupo empresarial de São João da Madeira tem a maior parte do seu volume de negócios concentrada no interior dos veículos, mas a ERT revela a ambição de crescer em áreas como a moda, o desporto e o lazer, especialmente nos mercados externos.

Fernando Merino

Termomoldados e laminados para aplicações no desporto, lazer, moda, calçado, têxteis-lar e construção são as propostas do Grupo ERT fora do universo automóvel. Estas representam, atualmente, cerca de 15% do volume de negócios do grupo, mas a ideia é fazer crescer este número, nomeadamente ao nível internacional. «Enquanto no automóvel é praticamente só exportação, na área não-automóvel o negócio é essencialmente nacional», explica Fernando Merino, diretor de inovação do Grupo ERT. Para mudar esta realidade, a empresa expôs recentemente em dois certames internacionais: em março esteve em Espanha e em maio na Alemanha. «O objetivo de ter participado nessas feiras é precisamente para que, no final de 2019, possamos estar a produzir já para mercados internacionais», assume.

Economia circular dá impulso

O reforço da aposta na economia circular poderá dar um impulso a este crescimento. Na última edição da Techtextil, em Frankfurt, o Grupo ERT mostrou o potencial dos resíduos de EVA (acetato-vinilo de etileno) e de couro. «Consumimos EVA na empresa para a produção de pantufas e chinelos. O que estamos a fazer com os resíduos é misturá-los e compactá-los. Depois, em alguns casos, transformamos em diferentes formatos, não necessariamente num produto. No fundo, passa a ser uma matéria-prima», revela ao Jornal Têxtil. Numa outra aplicação, a empresa está a usar os resíduos de EVA em pó para o revestimento sobre tecidos. Nesta área, a ERT apresentou um vestido, produzido juntamente com parceiros, a partir dos resíduos de EVA e de couro. «No caso do couro, temos um pedido de patente. A forma como se obteve o material necessário para fazer o revestimento é inovadora», garante o diretor de inovação.

«O mercado agora está mais atento e mais interessado em produtos circulares e na sustentabilidade. Nós temos, de facto, muitos resíduos. Eles já tinham destino, não tinham era valorização. Agora passam a ter uma valorização porque o mercado está desperto. As grandes cadeias de moda, como a H&M, a Puma, a Adidas, estão à procura de novas propostas, de novos materiais, de fornecedores que queiram resolver os seus problemas de resíduos – elas próprias estão interessadas em pôr no mercado produtos que têm conceitos de sustentabilidade. No fundo é puxar aqui por uma cadeia em que todos ganham com isso», indica Fernando Merino. Ainda muito recente, esta área está em fase de apresentação ao mercado. «Tivemos muitos contactos e há muito interesse», assegura.

Inovações em curso

No projeto de inovação onde está inserida a reutilização de resíduos de EVA, que está ainda em curso, faz parte também o estudo de diferentes propriedades para o desenvolvimento de um componente para o sector automóvel. No fundo, resume o diretor de inovação, consiste na ideia de «ter um monomaterial com diferentes gradientes de elasticidade, ou seja, um material mais rígido e mais elástico em diferentes partes da mesma peça».

Com os ciclos de investimento ajustados aos ciclos de inovação, não está para já no horizonte do grupo ERT, que em Portugal emprega cerca de 500 pessoas, alocar recursos para a expansão ou diversificação da produção. «Quando este ciclo de inovação que estamos a percorrer tiver terminado, aí decidimos se fazemos investimentos com o objetivo de industrializar os produtos», conclui Fernando Merino.