Em estado de alerta

Depois das tropas terem deposto o presidente hondurenho, o dono de uma empresa têxtil, Roberto Cardona, observa os seus teares a produzir malha para t-shirts e preocupa-se com o facto dos clientes poderem retirar as encomendas se a crise se aprofundar. O maior exportador da América Central para os Estados Unidos, as Honduras enfrenta um cada vez maior isolamento internacional após o golpe de Estado de 28 de Junho que depôs o presidente Manuel Zelaya. «As grandes marcas protegem com cuidado a sua imagem e a decisão óbvia para os clientes será recorrer a locais onde os custos podem não ser tão baixos mas onde se possa assegurar maior estabilidade política», afirmou Cardona, cuja fábrica produz para os produtores de roupa interior Hanesbrands e Jockey International. Os líderes de negócio no sector de produção das Honduras, que anteriormente apoiavam convictamente Zelaya, começaram a ficar alarmados com a sua cada vez maior aliança com o presidente venezuelano Hugo Chavez e com aquilo que o Supremo Tribunal do país determinou que eram tentativas ilegais para aumentar os limites dos mandatos presidenciais. Mas desde o golpe, governos de todo o mundo isolaram as novas autoridades hondurenhas, culminando com a Organização dos Estados Americanos a suspender as Honduras do organismo a 4 de Julho e a levantar a hipótese de estabelecer sanções económicas. Cerca de 20 mil postos de trabalho nas fábricas na cidade de San Pedro Sula que fazem de tudo, desde vestuário de design a cintos de segurança para automóveis, perderam-se no último ano devido à quebra na procura norte-americana. Este número pode crescer se a crise política se agravar. No negócio têxtil, a produção pode mover-se facilmente de país para país numa questão de semanas. «Os nossos clientes nos EUA estão a preparar planos de contingência no caso das Honduras, por causa desta situação, ficar sem electricidade, água ou as pessoas não puderem ir trabalhar», disse Cardona. Os sindicatos nas empresas públicas de água e electricidade apoiam fortemente Zelaya: desde o golpe de Estado, as instalações são guardadas por soldados e muitos funcionários têm marchado nas ruas. O Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento Inter-Americano suspenderam os empréstimos às Honduras após o golpe, o que pode também afectar as empresas, revelou Heather Berkman do Eurasia Group. Daniel Facusse, um magnata têxtil que lidera a associação nacional da indústria, afirmou que permitir que Zelaya permanecesse no poder seria pior para a indústria privada e os principais empresários estão prontos a aguentar até às próximas eleições, programadas para Novembro. Facusse faz parte de um grupo de homens de negócios e políticos que deverão viajar até Washington para se encontrarem com representantes dos EUA a fim de apresentar a posição do governo interino e tentar evitar as retaliações económicas dos EUA. Os trabalhadores, por seu lado, têm receio que a espera torne ainda mais complicado superar o já de si difícil ambiente económico. As Honduras são o terceiro país mais pobre do hemisfério, logo a seguir ao Haiti e à Nicarágua. Blanca Calix, que desde o início do ano já foi despedida duas vezes de uma empresa de produção de t-shirts, foi recontratada como trabalhadora temporária para que os seus patrões pudessem evitar pagar os benefícios a que tinha direito. Agora trabalha como cozinheira num hospício para manter os seus dois filhos, dois irmãos e a avó que vivem numa cidade a 4 horas de autocarro e mais 3,5 horas a pé de San Pedro Sula. «As Honduras dependem da produção que enviam para os EUA, não temos capacidade para sobrevivermos sozinhos», conclui Calix.