El Corte Portugués

Quem observa a quantidade de produtos portugueses expostos no “El Corte Inglés” não pode evitar ser assaltado pela dúvida se o gigante espanhol do retalho não tem feito mais em prol do “made in” Portugal do que todos os megalómanos programas sob a chancela do Estado, no âmbito ibérico. Falar de um Portugal “fornecedor” da insígnia espanhola é, todavia, redutor, pela própria palavra em si, mesmo com a benesse de 70% dos produtos serem comprados a empresas portuguesas- o que inclui o “made in” Portugal sob diferentes etiquetas do próprio “El Corte Inglés” ou de grandes marcas internacionais. Mas falar das dezenas de marcas portuguesas que aí pululam e se vendem que nem pãezinhos é outra história. Uma história à qual o recém-estreado “El Corte Inglés” de Vila Nova de Gaia veio acrescentar um importante novo capítulo. «As principais marcas de vestuário portuguesas estão aqui presentes», afirma Pedro Gil Vasconcelos, director do departamento de Relações Externas, ao Portugal Têxtil. Com efeito, nos 42 mil metros de superfície de venda é possível encontrar todos os “estados” da moda portuguesa de vestuário. Exemplificando: quem procura pronto-a-vestir feminino de design moderno e qualidade irrepreensível encontra a Lanidor, quem prefere neste segmento um estilo mais clássico e sofisticado tem a Lamia; os mais desportistas podem surfar na vasta oferta da Onda e os amantes da aventura navegar com a Quebramar; os admiradores do estilo british desportivo chique vão deleitar-se com a Lion of Porches; os executivos bem trajados vão sucumbir à miríade de camisas da Victor Emmanuel, e optar pelas propostas da River Woods para os momentos de lazer; a camada juvenil, adepta do fast fashion, pode consumir Salsa sem restrição, enquanto que a camada infantil, em importante etapa de crescimento, deve preferir a vitamínica Laranjinha; e ninguém vai certamente resistir, para os interiores, aos ímpetos certeiros da Impetus. Mas há muitos, muitos mais exemplos que ficam por revelar para deixar algum prazer ao descobrir. O novo “El Corte Inglés” abriu também as portas às marcas portuguesas de calçado. Entre as várias propostas destacam a arte e engenho de Miguel Vieira e Luís Onofre, que superam com distinção a prova de português nos grandes armazéns espanhóis. Prova superada também para os têxteis-lar nacionais de marca. Todos os cépticos que nada de bom agoiravam para a estratégia de marca lançada por algumas das melhores empresas de têxteis-lar vão ter que engolir em seco. Com efeito, é entre uma Armani Casa e uma Gant Home que se encontra uma casa portuguesa: Home Concept. Com um bem conseguido, e bem sucedido, conceito global de têxteis para o lar destinado a um segmento médio-alto, a marca da António de Almeida & Filhos, que estreou, há cerca de um ano atrás, o seu conceito de loja shop-in-shop em 5 “El Corte Inglés” de Espanha, chega agora pela mão do mesmo parceiro ao seu país de origem. Para além da sua importância como montra da excelência das marcas portuguesas de vestuário, calçado e têxteis-lar para a região do Norte de Portugal, o “El Corte Inglés” de Vila Nova de Gaia representa a concretização de um sonho para várias gerações de famílias portuguesas que durante os últimos 30 anos percorreram religiosamente os cerca de 100 a 200 quilómetros que as separavam do “El Corte Inglés” de Vigo, com uma oferta que enchia os olhos ao mesmo tempo que esvaziava os bolsos. Em abono da verdade, pode dizer-se que as críticas quanto à escolha de Vila Nova de Gaia como porto do “El Corte Inglés” do Norte choveram em chão molhado. Em particular, tal como sublinha o responsável pelas relações externas, há que referir o seu importante papel «na requalificação deste espaço urbano». Sem esquecer o valor do seu investimento- 215 milhões de euros- e os postos de trabalhocriados – 1.900. Em todo o caso, os eventuais obstáculos que seja preciso transpor para chegar ao novo templo do consumo nortenho são plenamente recompensados pelo prazer de aí comprar. O “El Corte Inglés” de Vila Nova de Gaia, com os seus amplos corredores, luminosidade natural, decoração clean mas com laivos de sofisticação, serviço impecável e oferta pensada ao pormenor, é um convite irresistível ao consumismo sem moderação. «Uma aposta ganha», conclui Pedro Gil Vasconcelos.