Economia portuguesa abranda

Enquanto que a economia europeia continuou a demonstrar um forte dinamismo ao longo do ano 2000, a economia portuguesa deparou-se com uma situação de indefinição quanto aos ritmos futuros de crescimento. A insustentabilidade do modelo de crescimento económico português tornou-se evidente, nomeadamente através da desaceleração da taxa de crescimento da economia, pondo em causa o processo de convergência da economia portuguesa com as outras economias da zona monetária do Euro. A taxa de crescimento estimada para o PIB português, de 3,0% em 2000, acarreta uma forte divergência com o ritmo de crescimento da zona Euro, registando-se um gap de 0,4 pontos percentuais, o que tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento económico entre Portugal e a zona Euro, é bastante significativo.

 

É também de salientar que, decompondo a variação do PIB a preços constantes pelos diferentes sectores de actividade é discernível que apenas 9% do crescimento do produto se deve à evolução do VAB da indústria transformadora, enquanto que mais de 27% desse crescimento se deve à variação da actividade do comércio, restauração e hotelaria.

 

Apesar da redução no ritmo de crescimento da procura interna, a taxa de crescimento das importações mantém-se em níveis relativamente elevados, sobretudo quando comparada com a taxa de crescimento das exportações. Esta evolução do comércio internacional de bens e serviços provocou um aprofundamento do défice da balança comercial que atingiu mais de 12% do PIB. Esta situação, apesar de não ser por si mesma um problema especialmente grave (o défice da balança comercial pode perfeitamente ser financiado pela entrada de capitais quer em regime de IDE quer de investimento de carteira), é um claro indicador de problemas de competitividade dos produtos portugueses.

 

O problema da competitividade da economia portuguesa reside em grande parte num défice acentuado de produtividade face à média da UE, agravado pelo comportamento dos custos laborais ao longo dos últimos anos, evolução essa que apresenta taxas de crescimento substancialmente superiores às da produtividade.

 

A evolução dos custos salariais está intimamente ligada com a evolução do emprego. A economia portuguesa está a operar numa situação de pleno emprego, verificando-se assim uma forte pressão no sentido do aumento dos salários. O problema consiste no facto da população portuguesa mantém um perfil de qualificações extremamente reduzido, limitando a existência de possíveis ganhos de produtividade que compensem o “disparo” das remunerações.

 

A falta de qualificações é uma questão que não está só ligado ao pessoal produtivo das empresas. A ausência de quadros altamente qualificados ao nível da gestão de topo é, logicamente, outro problema que limita a introdução de técnicas e métodos de gestão de apoio ao incremento da produtividade do trabalho.

 

A pressão dos salários e a manutenção do consumo em níveis superiores aos recomendáveis, trouxe como consequência um forte aumento da inflação. Apesar da discutível medida de congelamento dos preços dos combustíveis, que reduziram artificialmente a taxa de crescimento do índice de preços no consumidor, a inflação apresentou uma tendência fortemente crescente, atingindo valores que já não eram registados na economia portuguesa há alguns anos.

 

Relativamente à evolução da indústria transformadora, esta manteve a desaceleração da taxa de crescimento da produção em volume, tendência essa que se regista há alguns anos. Segundo os dados do INE, a produção da indústria transformadora cresceu 0,4% em 2000, ou seja, 0,7 pontos percentuais menos do que em 1999.

 

Apesar da desaceleração do crescimento da produção em volume, a facturação da indústria transformadora apresentou uma taxa de crescimento superior à verificada em 1999. O volume de negócios deste sector foi, em 2000, superior em 8,6% ao registado em 1999. Este fenómeno de divergência entre a produção em volume e a facturação poderá indiciar ou uma melhoria do perfil qualitativo da produção nacional, ou um aumento dos preços provocado pelo aumento dos custos, nomeadamente os laborais e energéticos.

 

Os preços à saída da fábrica na indústria transformadora apresentaram em 2000 uma variação extremamente elevada,  aumentando  20,5% face a 99. É igualmente de salientar que as remunerações por trabalhador/hora registaram um crescimento de 9,5% face a 1999, a variação mais elevada deste indicador desde que foi iniciada a sua compilação.

 

Dos dados do comércio internacional, considerando os valores actualmente disponíveis, relativos ao período compreendido entre Janeiro e Novembro de 2000, destaca-se a manutenção de uma taxa de crescimento das importações elevada, atingindo os 15,4% em relação aos valores registados no mesmo período de 1999 e considerando os primeiros resultados de Janeiro e Novembro de 1999. As exportações apresentam uma taxa de crescimento inferior, de 12,8%, resultando num agravamento do défice comercial (+19,9%) e numa redução da taxa de cobertura das importações pelas exportações (61,6% em 2000 face a 63,0% em 1999). É igualmente de realçar que se assistiu a uma redução do peso do comércio intracomunitário no conjunto do comércio internacional português, quer do lado das exportações (79,6% vs. 82,8%), quer do lado das importações (73,9% vs. 76,9%).