Neste artigo de opinião, David Birnbaum, autor do The Birnbaum Report, uma newsletter mensal destinada à indústria do vestuário, escreve que a inovação traz um padrão contínuo de mudanças, onde cada mudança sucessiva gera mais mudança. Quanto maior a inovação, maior o número de mudanças e maior o seu impacto. A maior parte dessas mudanças é imprevisível, porque a inovação revela as falhas que existem noutras áreas aparentemente não relacionadas, as quais passam a poder ser ultrapassadas. O computador pessoal foi desenvolvido para calcular, no entanto, poucos entre nós utilizamos os nossos computadores para fazer cálculos. Na realidade, para um grande número dos utilizadores, o computador é visto como uma máquina de dactilografia mais eficiente ou um armário de arquivo melhor e mais compacto. Estas mudanças levaram-nos ao escritório sem papel, que por sua vez destruiu o mercado das máquinas de escrever e limitou seriamente o mercado dos armários de arquivo. Em última análise, acabou por reduzir a procura pelo escritório dedicado, originando o escritório em casa. Da mesma forma, a internet foi desenvolvida para permitir que os investigadores nas universidades comunicassem facilmente de um local para outro e, sem dúvida para uma minoria, este continua a ser o seu objectivo primordial. No entanto, para a maioria dos utilizadores, a internet substituiu o telefone, a televisão, a enciclopédia, o leitor de CD e DVD, o cinema e, possivelmente, até mesmo o livro. Para alguns viciados em jogos, a internet substituiu a própria experiência da vida real. A internet criou líderes sectoriais em indústrias que há dez anos nem sequer existiam, como o eBay, o Google e o Facebook. Ao mesmo tempo, a internet destruiu completamente sectores tradicionais, como a comunicação por fios ou a publicação e retalho de livros e música. Também destruiu por completo o conceito de direitos de autor. Tudo mudanças imprevisíveis. Impacto no sector do vestuário No sector do vestuário, temos ainda de aceitar, e aproveitar, as inovações da internet. Efectivamente, ficamos assustados, e com razão, porque se a experiência recente servir de guia, as mudanças causadas pela internet podem vir a resultar no desaparecimento das nossas empresas e, consequentemente, do nosso trabalho. No entanto, sem ter a pretensão de prever o futuro, pode-se afirmar com confiança que o futuro do sector de retalho de vestuário global será em grande parte baseado na internet e muito diferente da indústria que a precedeu. O seguinte é apenas um cenário possível. O actual sector do retalho de vestuário baseado em lojas tem falhas fundamentais. É muito difícil a entrada, sendo necessário um investimento substancial de capital e, por isso, apenas um conjunto muito restrito de produtos pode ser vendido numa loja. Uma vez dentro do sector, é muito difícil permanecer, porque pela sua natureza, o sector está em constante estado de consolidação. O resultado é que muitas pessoas com produtos potencialmente comercializáveis têm poucas oportunidades de vender esses produtos. A maior falha potencial é que, à medida que o grupo de lojas de retalho se torna cada vez maior, pode estar a fornecer cada vez menos valor aos seus clientes. Entre as principais desvantagens das lojas convencionais, salientam-se: o elevado custo de entrada, as limitações de produtos e a constante consolidação. Elevado custo de entrada A loja de retalho exige um esforço substancial de capital inicial; Rendas elevadas. Quanto melhor a localização, maior é a renda; Mão-de-obra intensiva; Elevados custos de decoração e manutenção; Grande inventário de abertura. Produtos limitados A loja está circunscrita geograficamente. Os seus clientes estão limitados aos que estão dispostos a deslocar-se até à loja. Quanto mais especial o produto, mais limitada é a base de clientes, sendo menos provável que o produto consiga ser vendido numa loja. Consolidação constante Para aumentar as vendas, a empresa tem de aumentar a sua base de clientes através da abertura de novas lojas. A empresa de retalho possui um elevado número de custos conjuntos que estão a cargo do grupo como um todo, mas que podem ser divididos pelo número de lojas do grupo. Quanto mais espalhado, menor o custo para cada filial, nomeadamente ao nível de design e outras áreas de pré-produção, publicidade e promoção e logística e distribuição. Aumento nas poupanças dos custos conjuntos, com a adição de cada nova filial. Embora a adição da loja n.º 2 possa não gerar negócios suficientes para tornar essa loja rentável, a adição da mesma loja no mesmo local, gerando o mesmo volume de negócio, poderia ser rentável se fosse a loja número 1.000. Na segunda parte deste artigo, são analisadas as hipóteses de evolução do retalho tradicional e do retalho on-line.
