Dinâmica inovadora toma conta da Mundotêxtil

O projeto Terry Planet gerou uma série de novos produtos que foram incorporados na oferta da Mundotêxtil, quer com fibras mais amigas do ambiente, quer com estruturas mais leves, mas fomentou especialmente a inovação que já se fazia dentro de portas, que deverá resultar em mais novidades.

Ana Vaz Pinheiro, Raul Fangueiro e João Bessa

Pure, Natural, Reborn, Airy e Everlasting são os nomes que consubstanciam a mais recente oferta da Mundotêxtil, resultante dos três anos de investigação e desenvolvimento no âmbito do projeto Terry Planet. Concretizado em parceria com a Fibrenamics e contando com a colaboração das empresas Sasia e Tearfil, o projeto foi apresentada no passado dia 2 de novembro naquele que constituiu o primeiro Innovation Open Day da empresa especializada em felpos, que incluiu ainda a apresentação de um vídeo dos trabalhos realizados à escala laboratorial e industrial.

«Explorámos vários caminhos diferentes em relação à sustentabilidade, desde fibras naturais com menor impacto ambiental na sua produção do que o algodão até à procura de estratégias para a valorização de resíduos da própria produção da Mundotêxtil, que permitissem que fossem reutilizados na conceção de felpos, até ao estudo da própria engenharia estrutural na forma como os felpos são tipicamente construídos, para tentarmos perceber de que forma poderíamos ou aumentar a durabilidade dos mesmos e, de uma forma indireta, isso contribuir também para um menor consumo de matérias-primas, ou tentar reduzir a quantidade de matéria-prima virgem para a construção desses felpos, sem obviamente perder de vista aquilo que é o seu desempenho funcional, quer do ponto de vista mecânico, quer do ponto de vista da gestão da humidade e das propriedades de absorção, que são as características mais importantes nesta tipologia de produto», explicou, ao Portugal Têxtil, João Bessa, diretor de I&D da Fibrenamics.

Pure descreve uma toalha fabricada com fibras 100% aloé vera, que conferem um toque macio e respirabilidade e são ainda biodegradáveis e recicláveis, enquanto Natural resume um conceito de utilização de fibras naturais ou derivadas de polímeros naturais na composição – cânhamo, bambu e liocel. Já a toalha Reborn é produzida com 50% de algodão reciclado e 50% de resíduos de algodão da Mundotêxtil, encaminhando-a para uma economia mais circular.

João Bessa

A nível das estruturas, a Airy permite uma redução de 50% da matéria-prima usada em comparação com a produção convencional de felpo sem afetar o aspeto, o toque ou a capacidade de absorção da toalha e a Everlasting resulta de uma alteração da estrutura que permite reduzir em 8% a matéria-prima usada e aumentar em 20% a durabilidade do produto, sem afetar nem o toque, nem a absorção.

Mercado aprova

O projeto contou com uma ligação forte entre as diferentes equipas de trabalho, tanto na Fibrenamics, mais ao nível da identificação das linhas de inovação, como na Mundotêxtil, onde os produtos foram desenvolvidos a nível industrial.

«Essa simbiose foi muito importante para, no fim, podermos ter um conjunto de produtos, por um lado inovadores, com base em diferentes princípios, em diferentes caminhos para a sustentabilidade, mas também um conjunto de produtos que, de facto, possam ser industrializáveis e que a Mundotêxtil possa colocar no mercado», afirmou João Bessa.

Ana Vaz Pinheiro

Estes artigos tinham já sido apresentados na edição especial da Heimtextil, em junho passado, e os primeiros indícios apontam para bons resultados também ao nível da comercialização.

«Apresentámos os protótipos na Heimtextil e enviámos também para os nossos principais clientes, para que eles os pudessem avaliar, porque, no fundo, todos estes projetos só fazem sentido se conseguirem chegar ao mercado. E temos registado uma boa aceitação. Aliás, já temos encomendas para o Pure e o Reborn», revelou, ao Portugal Têxtil, Ana Vaz Pinheiro.

Mas não foi só isso que a Mundotêxtil ganhou com o projeto, salientou a administradora. «Estes projetos são extremamente importantes para criar uma dinâmica inovadora dentro da empresa, que muitas vezes já existe, como é óbvio, mas que tem de ser fomentada por pessoas que venham de fora e que trazem outro tipo de conhecimento. Para além de conhecermos melhor o produto, a maneira como o fazemos, é importante termos sempre parceiros, como a Fibrenamics, que nos permitam questionar maneiras de fazer diferente, maneiras de fazer melhor», destacou.

Próximos passos

Embora o Terry Planet tenha terminado, a investigação deverá prosseguir, até porque, segundo Raul Fangueiro, presidente da associação Fibrenamics, muitos caminhos foram abertos. «Conseguimos dar os primeiros passos na questão dos resíduos e da economia circular, que podem agora alavancar uma estratégia bastante mais alargada», assegurou ao Portugal Têxtil. «Há outra vertente importante, e que a nós, Fibrenamics, também nos diz muito, que é a questão da performance. Ou seja, temos de conseguir ligar estas duas vertentes: a sustentabilidade e o desempenho dos próprios materiais, dos felpos», considera.

Raul Fangueiro

A utilização da nanotecnologia será também uma possibilidade. «A nanotecnologia é incontornável na utilização deste tipo de soluções e, portanto, podemos utilizar, por exemplo, fibras à escala nano para melhorar a absorção, para melhorar o toque, para melhorar a durabilidade. Por outro lado, há outra vertente ainda, que tem a ver com a

Mariana e Miguel Silva (Sasia)

relação do produto com o utilizador, a forma como interagimos com o produto. Ele pode-nos dar muito mais do que apenas a sensação de que está a absorver humidade, que tem um toque agradável – pode indicar a nossa temperatura corporal, a temperatura que o meio tem naquele momento, que tipo de produto podemos utilizar numa determinada situação. Temos que saber utilizar esta questão da performance e vir à nanotecnologia para incorporar essas funcionalidades no material, mas não descurar a questão da sustentabilidade. Acho que o que nos vai ligar no futuro, nesta área e noutras também, é esta integração da sustentabilidade e do desempenho dos produtos», acredita o presidente da Fibrenamics.

Já num futuro mais imediato, avançou Ana Vaz Pinheiro, há ideias que surgiram durante as reuniões para o desenvolvimento do projeto que «estão a começar a ser trabalhadas. O mais importante nestes projetos é que estejam alinhados com a estratégia da empresa. Muitas vezes, estes projetos são feitos de forma desgarrada e que nada tem a ver com aquilo que temos traçado em termos estratégicos para a empresa. Não posso adiantar muita coisa, mas estamos a estudar muito a questão da parte da sustentabilidade, da mecânica de fazer as toalhas e os atoalhados de felpo. Essa é a parte que nos preocupa mais e, por isso, temos aí já outros projetos», concluiu.

Raul Fangueiro, Rita Costa, Vânia Pais e João Bessa (Fibrenamics); José Lima, Helena Vaz Pinheiro, José Pinheiro, Cátia Pinto e Ana Vaz Pinheiro (Mundotêxtil)