Digitalização na indústria a diferentes velocidades

Empresas do têxtil, vestuário e calçado, como a Tintex, Hall & Ca e Abílio P. Carneiro & Filhos, estão a fazer investimentos para a transição digital, num caminho sem volta que está a ser percorrido de forma desigual pela ITVC, como foi constatado na apresentação do Digi4Fashion.

Alexandre Carneiro, Ana Paula Dinis, Luís Figueiredo, Paulo Gonçalves, Ricardo Silva e João Nuno Oliveira [©Digi4Fashion]

A transparência e a eficiência foram os conceitos que orientaram os investimentos realizados pela Tintex na área da digitalização, num percurso que a empresa especialista em tinturaria e acabamentos têxteis deverá prosseguir. «O próximo passo é ter uma maior eficácia», apontou Ricardo Silva, administrador da empresa, durante a sua intervenção na sessão de apresentação do projeto Digi4Fashion, que teve lugar ontem no CITEVE. «O foco é o que posso fazer dentro de portas para que produzir o mesmo produto possa custar menos», acrescentou.

Na Hall & Ca, que trabalha em exclusivo para as suas marcas próprias Laranjinha e Snug, foi a parte comercial que recebeu mais investimento ao nível da digitalização. «As nossas vendas no canal online, no espaço de três ou quatro anos, tornaram-se no equivalente ao nosso terceiro mercado, com um crescimento de 70% a 80% ao ano», explicou, por seu lado, Luís Figueiredo, administrador da empresa, que esteve na conferência também como representante da ANIVEC, que integra o consórcio de cinco parceiros que estão a dinamizar o Digi4Fashion, juntamente com a APICCAPS, a ATP, o CITEVE e o CTCP.

Já na Abílio P. Carneiro & Filhos, a robótica no chão de fábrica é uma realidade há seis anos, a que se juntou, mais recentemente, investimentos para reduzir o número de amostras produzidas, incluindo «design 3D, impressão 3D e digitalização com scanners», exemplificou o administrador Alexandre Carneiro.

Várias empresas nacionais das indústrias têxteis, vestuário, calçado e marroquinaria (ITVC) têm investido na transição digital dos seus negócios, mas as associações assumem que o ritmo a que o estão a fazer é muito díspar. «Há uma maior consciencialização, mas há empresas a correr em pistas diferentes. No geral, estamos atrasados, embora haja empresas avançadas neste processo», indicou Luís Figueiredo.

«O grande desafio é pôr toda a máquina a pensar digital», acrescentou Ana Paula Dinis, diretora-executiva da ATP.

Motivo pelo qual «o desafio do diagnóstico é fundamental», acredita Paulo Gonçalves, responsável de comunicação da APICCAPS.

Por onde começar?

É exatamente por este diagnóstico que Helena Moura, diretora de transição digital no CITEVE, acredita que as empresas – no caso, as pequenas e médias empresas – devem começar os seus esforços de digitalização, que podem ser apoiados pelo Digi4Fashion – Polo de Inovação Digital da Moda.

«O primeiro passo é fazer um roadmaping digital», indicou, para avaliar o nível de maturidade da empresa e o seu posicionamento no mercado e, com base nessa informação, estabelecer um plano à medida de cada um.

Helena Moura [©Digi4Fashion]
Esta é uma das áreas em que as empresas podem obter apoio no Digi4Fashion, permitindo experimentar soluções digitais e validar a sua aplicabilidade ao seu negócio. O Polo presta ainda serviços para a capacitação e desenvolvimento de competências no digital, presta apoio no financiamento com recurso a incentivos nacionais e europeus, desenvolve redes de networking entre parceiros e fornecedores e apoia novas ideias de negócio.

O objetivo do projeto, que é financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e decorre até 2025, é «promover a transformação digital do sector da moda», resumiu Helena Moura.

Uma transformação que enfrenta «desafios brutais», como apontou José Carlos Caldeira, administrador do INESC-TEC, mas que conta com tecnologias não só melhores, mas também mais acessíveis em termos de custos, que «podem ser usadas para melhorar aquilo que já se faz ou podem ser usadas para fazer coisas radicalmente diferentes, de forma totalmente diferente», abrindo as portas a novos modelos de negócio, sublinhou.

De uma forma ou outra, a transição digital é, neste momento, absolutamente crítica, segundo António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE, que realçou que a indústria da moda está «a lutar contra tudo ao mesmo tempo», enfrenta «uma transformação como nunca se viu e o momento pode ser de vida ou de morte». A instabilidade dos mercados e, sobretudo, a falta de mão de obra são questões com as quais estes sectores se deparam e para as quais «só há uma solução: a digitalização». Para o diretor-geral do CITEVE, «há muito trabalho para fazer», pelo que «temos de começar».

Também Luís Guerreiro, presidente do IAPMEI, que encerrou a sessão, destacou a importância da digitalização para o futuro das empresas nacionais, reforçando a importância do trabalho colaborativo, como o que pode ser realizado no âmbito do Digi4Fashion. «Para realmente sermos competitivos num mercado global, não podemos ir sozinhos, temos de ir juntos», concluiu.