Mesmo com estilistas e designers de grande qualidade, a indústria de vestuário portuguesa ainda baseia 70 % da sua produção na subcontratação, respondendo a encomendas de confecção a feitio para marcas estrangeiras, noticia o Diário de Notícias. Ou então, como afirma Maria João Aguiar, especialista de moda e organizadora da FilModa, os industriais acabam por copiar as tendências internacionais, inspirando-se nos catálogos de colecções, em vez de apostar na criação própria e nos designers nacionais. Na visão de alguns estilistas, como Fátima Lopes, não é só a falta de interesse por parte da indústria em procurar talentos portugueses – por considerarem muito elevado o preço a pagar a um designer – mas também a discriminação e a falta de confiança nos estilistas ou designers nacionais, privilegiando-se assim, por exemplo, os designers italianos. Apesar do sector têxtil continuar a ser responsável por 20% das exportações nacionais, o que se traduz em cerca de 930 milhões de contos anuais, a indústria continua a esquecer-se dos trunfos nacionais, adianta aquele diário. Mesmo depois de ter beneficiado de várias centenas de milhões de contos de apoios comunitários para a inovação do sector, não houve qualquer mudança no sentido de apostar no design e na comercialização. “Os milhões de contos que chegaram ao sector não se traduziram numa alteração substancial nem da mentalidade nem do sistema de organização das empresas” esclarece Rui Teixeira Mota, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Vestuário (APIV). Este considera que “o individualismo continua a ser o principal inimigo das empresas portuguesas, a par de uma organização do Estado que ainda não confere às associações sectoriais um efectivo papel de parceiro estratégico para a modernização da economia”. Segundo Rui Mota, a solução para ultrapassar as insuficiências da reduzida dimensão passa pela interacção entre empresas de uma mesma região, através da criação de uma fileira com empresas complementares umas às outras, à imagem do que sucede, por exemplo em Como, Itália, onde existem empresas só vocacionadas para a produção, que compram serviços de design a ateliers destinados a novas criações, que por sua vez vendem os seus serviços a um leque alargado de empresas. Estas situações não são vistas em Portugal, mesmo nas zonas de mono-indústria como a do Vale do Ave ou da Covilhã, onde as empresas caem no círculo vicioso da subcontratação, tornando-se “capatazes dos empresários da Europa”, acrescenta. Para tentar inverter esta situação, a APIV apresentou ao Ministério da Economia um projecto para a criação de um centro de moda nacional, que agrupa todo o tipo de entidades relacionadas com o sector, desde as associações empresariais, escolas de design, universidades até aos criadores, de forma a “pôr toda a gente a falar a mesma linguagem”. Prevê-se que haja luz verde para avançar até ao final do ano. Um outro projecto, desta vez apresentado ao ICEP, prevê a apresentação no estrangeiro, de uma série de colecções de tecidos, design e confecção portugueses, em articulação com a Associação dos Industriais de Lanifícios e o centro de pesquisa de tecidos na Universidade da Beira Interior.