No Modatex, afirma o formador João Melo, «existe uma alma, uma proximidade que permite criar trabalhos e desenvolver formandos que, para além de tecnicamente saberem construir as coisas, confecionarem as coleções, com as mãos deles – ou seja, conseguem fazer o processo do princípio ao fim –, são incutidos com a ideia de que podem e devem ter algo a dizer. Os nossos formandos são incentivados a serem insatisfeitos com o que já existe, a trabalhar, de facto, num futuro e a projetar novos horizontes».
Essa ideia ficou bem vincada na coleção que Andreia Reimão levou ao espaço Bloom do Portugal Fashion. «No meu trabalho sempre gostei de questionar o que era mesmo a masculinidade, explorar o que representa o homem na sociedade e focar-me no menswear. Os códigos masculinos sempre foram muito rígidos, por isso acabei por me focar nessa ideia, fui buscar aquela ideia de homens de negócios, mas inspirei-me num fenómeno que está a acontecer bastante no Japão, que é a cultura de ir beber com os amigos depois do trabalho e acabarem bêbedos no meio da rua, um bocado torcidos, às vezes despidos», explica a jovem designer finalista do Modatex, que pretende agora «ganhar experiência» e «mostrar o meu trabalho onde for possível».
Para Maria José Sacchetti, docente da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, experiências como as do Bloom são «sempre boas para os alunos» e complementa o ensino. «A faculdade tem sempre a obrigação de expor o trabalho dos alunos em todos os possíveis eventos e, inclusivamente, incentivamos os alunos à participação em concursos internacionais para que o seu trabalho seja exposto», garante.

Até porque, como salienta Tânia Nicole Fonseca, professora da ESAD – Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, a presença em eventos deste tipo permite que os alunos percebam «como se organiza um desfile, como têm de coordenar as manequins e tratar do styling. Só isso já lhes começa a dar alguma experiência do que poderá vir a ser depois o mercado de trabalho para eles». Uma experiência pela qual Nicole, que é igualmente designer, já passou. «Representei a ESAD [no Bloom] há alguns anos e depois acabei por criar a marca. Foi importante e para quem quer seguir a criação de uma marca – nem todos querem, alguns querem trabalhar para empresas – acaba por ser um bom ensaio do que poderá vir no futuro», esclarece.
«Quando entrei na ESAD, já tinha visualizado na minha cabeça estar no Bloom», confessa Joana Guimarães, que leva muitos ensinamentos da passerelle. «Fiquei a saber que as coisas realmente acontecem mesmo rápido no backstage. Já me tinham dito, mas não tinha noção que era tão em cima da hora que iam estar a chamar modelos que ainda não estavam vestidas. Foi tudo muito rápido, mas foi uma experiência muito boa», assegura a jovem licenciada em Design de Moda da ESAD, que está atualmente a estagiar na marca Ana Sousa.

Para João Melo, a apresentação dos trabalhos ao público permite igualmente um distanciamento crítico. «Para além do que as pessoas vão dizer sobre a coleção, eles ficam perante a sua coleção, apresentada à sua frente e acho que isso lhes dá, muitas vezes, a capacidade de evoluir para o futuro», acredita.
O próximo passo para aproximar estes novos talentos emergentes da indústria e do público pode passar por iniciativas mais comerciais, como sugere Maria José Sacchetti. «O que pode faltar é estas peças [dos alunos] irem para uma espécie de showroom, oferecer, de alguma forma, a possibilidade de a audiência poder ver as peças mais de perto, depois até comprá-las, ter algum contacto com os designers», considera.