Designer português ganha concurso europeu

Tiago Bessa, do Modatex Porto, foi o grande vencedor do Concurso Europeu de Jovens Designers. O designer português destacou-se, perante um júri internacional, entre os 18 concorrentes de Finlândia, França, Itália, Portugal, Suíça e Reino Unido com a coleção Hermaphrodite.

Tiago Bessa

Hermaphrodite, uma reflexão sobre o termo hermafrodita e a cirurgia não consentida de pessoas intersexo, garantiu a Tiago Bessa, que está a terminar a sua formação no Modatex Porto, o prémio maior do Concurso Europeu de Jovens Designers, promovido pelo CENIT, em parceria com a ANIVEC, no âmbito do projeto ModaPortugal.

«É um tema um bocado pessoal, de como sou visto pela sociedade. É uma expressão um bocadinho com uma conotação má, contra mim, porque as pessoas questionam muito a minha ambiguidade em me exprimir com esta palavra, que às vezes é um bocado ofensiva», justifica o jovem designer.

A desconstrução de imagens de genitália ambígua e de orquídeas, plantas elas próprias hermafroditas, deram origem às formas da coleção apresentada por Tiago Bessa, que nos materiais optou por prestar homenagem às suas origens e aos tempos passados no atelier da mãe modelista e da avó costureira. «Tentei escolher tecidos mais a ver com [o vestuário de] cerimónia e depois introduzi um material que quebrasse o ar de princesa, o latex», revela.

A terminar a sua formação no Modatex Porto, o jovem designer pretende agora prosseguir os estudos num mestrado, sendo que o prémio recebido deverá contribuir para esse objetivo. «A minha expectativa é continuar para mestrado, por isso sei que vou ter que fazer outra coleção destas, então vou guardar o prémio para essa coleção», adianta ao Portugal Têxtil.

O futuro deverá, depois, passar por algum desafio profissional fora de Portugal, ganhar experiência em algumas marcas – sendo Londres e nomes como Richard Quinn e Gareth Pugh como os mais atrativos para o designer – e posteriormente criar uma marca própria. «Sempre quis isso e é para isso que estou a trabalhar», confessa Tiago Bessa.

Mais cinco designers premiados

A competição foi renhida entre os 18 designers de Finlândia, França, Itália, Portugal, Suíça e Reino Unido, numa edição que surpreendeu, Eduarda Abbondanza, presidente da Associação ModaLisboa, que encabeçou o júri. «Já vi outras edições do concurso menos arriscada do que esta – não é geral para todas as escolas, mas na maior parte sim. Gostei deste concurso», confirma ao Portugal Têxtil. «Fiquei surpreendida porque parte destas pessoas estiveram a trabalhar em confinamento. São trabalhos de final de curso e a maior parte, de alguma maneira e dependendo dos países, foi feita, pelo menos uma parte, em confinamento, em ligação digital com os professores», explica. Uma limitação que se traduziu em alguns conceitos predominantes, nomeadamente o arts & crafts, ou um lado mais artesanal. «O arts & crafts, quando as indústrias estiveram paradas, era aquilo que as pessoas podiam desenvolver nos sítios onde estavam e, portanto, todas as coleções apresentadas têm uma parte importante disso», descreve a presidente do júri.

Além de Tiago Bessa, o júri, que foi ainda composto por Tuomas Laitinen (Finlândia), Elisa Nalin (França), Dan Thawley (Itália), Philippe Pourhashemi (Suíça), Tiffany Godoy (Reino Unido) e Miguel Flor (Portugal), consagrou cinco outros designers, um por cada país (sendo que Tiago Bessa foi o vencedor também por Portugal).

Juha Vehmaanpera, da Aalto University, da Finlândia, Mathieu Goosse, do Instituit Français de la Mode, de França, Paulo Mileu, da Polimoda, de Itália, Claire Lefebvre, da Head Genève, da Suíça, e Jessica Zhou, do London College of Fashion, do Reino Unido, foram os premiados.

Luís Hall Figueiredo, César Araújo, Eduarda Abbondanza e Tiago Bessa