Desafios do Agoa

A mais recente edição da feira Source Africa decorreu na Cidade do Cabo em junho último, focalizando principalmente o African Growth and Opportunity Act (Agoa), em vigor de 2000 a 2015, com muitos participantes a procurar compreender como explorar melhor o acordo de comércio preferencial com os EUA. Embora o Agoa na sua forma atual termine no próximo ano, existe um grande apoio entre os partidos em Washington para a sua renovação, de acordo com Steve Lamar, vice-presidente executivo da American Apparel & Footwear Association (AAFA). «A questão não é se será renovado, mas como será renovado», afirmou Lamar, acrescentando que as complicações que se tornaram evidentes durante a primeira fase do acordo necessitam de ser resolvidas. As exportações da África para os EUA sob o Agoa cresceram 500%, passando dos 8,15 mil milhões de dólares em 2001 para os 53,8 mil milhões de dólares em 2011, dos quais a indústria têxtil e vestuário somou quase mil milhões de dólares. Apesar deste crescimento, a participação africana no mercado americano equivale a apenas 1%, ou seja, há uma grande oportunidade para os fabricantes africanos aumentarem as suas exportações para os EUA, reconhece a organização do Source Africa. Além disso, o aumento dos custos de produção na China, que produz a maioria do vestuário e calçado do mundo, e a sua crescente necessidade de responder à procura interna significam que os retalhistas norte-americanos devem procurar outros lugares onde colocar as encomendas. Len Pesko, associado do Modern Pulse Consulting Group, revelou que as vendas de calçado nos EUA valiam 60 mil milhões de dólares por ano e que, em 2013, 82% foi comprado na China, mas esta proporção ficou abaixo dos 86% verificados há alguns anos atrás. Steve Lamar explicou que ao longo dos últimos 12 meses os seus membros estavam a evidenciar um maior interesse em aprovisionar-se África, mas aguardam para ver o que o Governo dos EUA irá fazer com o Agoa na sua próxima edição, antes de assumirem compromissos concretos. Lamar referiu ainda que a AAFA gostaria de ver o AGOA ampliado por 15 a 25 anos – ou até mesmo de forma permanente – e abranger todos os países que estão atualmente envolvidos. Uma razão pela qual os produtores têxteis africanos ainda não aproveitaram totalmente o AGOA é porque não podem fabricar os volumes de mercadorias procurados pelos retalhistas americanos, assegurou Tony Wardle, diretor de operações da empresa sul-africana Gelvenor Textiles, com sede na província de KwaZulu-Natal. Defendendo uma diversificação das empresas africanas para os mercados especializados, Wardle apontou que a qualidade do fio e a tecnologia utilizada pelos fabricantes africanos de têxteis para produzir os seus produtos era muito boa, mas as empresas ainda se esforçavam para causar impacto no mercado norte-americano. Esta noção da diversificação no sentido de mercados da especialidade também foi apoiada por Mercedes Gonzalez, diretora da empresa americana Global Purchasing Companies, que admitiu que a África nunca seria a nova China em termos de refletir a capacidade de fabricar produtos em massa. Gail Strickler, representante comercial assistente dos EUA para os têxteis, não adiantou quando o novo acordo Agoa se tornaria uma realidade, mas sugeriu que era apenas uma questão de tempo e disse aos delegados que o desenvolvimento de cadeias de aprovisionamento regionais em África garantiria que as empresas seriam mais capazes de beneficiar com o acordo. Quando questionado sobre quais os produtos em que as empresas africanas devem concentrar-se na exportação para os EUA, Strickler indicou que no âmbito do Agoa as melhores oportunidades colocam-se nos produtos mais taxados provenientes de outras origens, aumentando a vantagem competitiva do Agoa. «Mantenham-se longe do fast fashion, onde as tendências mudam rapidamente. Talvez olhar para uniformes e roupa de bebé», explicou. Gail Strickler insistiu que para ter uma cadeia de aprovisionamento regional verdadeiramente competitiva, as empresas precisavam de acesso a água, eletricidade a um preço acessível, tecnologia, matérias-primas, bem como estabilidade política e económica. As empresas só iriam instalar equipamentos caros nos países africanos onde acharem que o investimento é seguro, sustentou a responsável. Strickler alertou ainda as empresas africanas que a responsabilidade social das empresas no sector também está a tornar-se cada vez mais importante para os compradores dos EUA, especialmente desde o colapso do edifício Rana Plaza no Bangladesh no ano passado. Comentando sobre outros acordos comerciais que melhoram as margens de lucro das empresas, a representante comercial assistente dos EUA para os têxteis referiu que o novo Acordo de Facilitação de Comércio da Organização Mundial do Comércio detém benefícios potencialmente significativos para os exportadores africanos, com a abolição das taxas transfronteiriças.