Vila do Conde foi mais uma vez palco para a moda nacional. Desta vez as modelos vestem-se de bilros. A tradição está na moda. A verdade é que esta é uma forma de rentabilizar uma actividade artesanal que tem tradição e uma produção ainda significativa nesta vila à beira mar. Este projecto, Amor de Bilros, paixão de Moda, foi apadrinhado pela primeira dama, Maria José Ritta, que o descreveu como sendo o casamento perfeito entre o que as mãos magnificas das rendilheiras executam e aquilo que os criadores produzem, garantindo assim a aposta de um Portugal moderno sem perder as raízes. Esta edição do Bilros02 contou com a presença de Isilda pelicano, Júlio Torcato, Katty Xiomara, Jorge Ramos, Anabela Baldaque, a dupla João Tomé e Francisco Pontes, Lúcia Duarte, Andreia Leite e Paula Rola. Para além destes o espectáculo contou com Pedro Reis, vencedor do Novos Talentos Ibéricos, Marco Mesquita, que conquistou o primeiro prémio no Sangue Novo Moda Lisboa e Luis Parada, vencedor do concurso Geração de Talentos. A passarela foi animada com a presença de várias manequins nacionais, como António leite e Susana Meireles. As modelos internacionais, a austríaca Astrid Werdning, a jugoslava Teodora Filipovic e a brasileira Erika, foram uma aposta da organização para aumentar o nível qualitativo do desfile. Tudo começou com um desafio que a Câmara Municipal fez à empresa Modanónima, para a organização anual de um evento que, juntando jovens valores e também valores consagrados da moda nacional, se pudesse apresentar um produto tão histórico e tão artesanal como são as rendas de bilros de Vila do Conde, como mais uma matéria prima e mais uma forma de execução que possa vir a ser passível de ser considerada uma boa técnica e um bom material para a utilização em moda, adianta Joaquim Amândio Santos, produtor de moda da Modanónima. Ao longo destes últimos quatro anos foram muitos os criadores convidados a apresentar as suas colecções anualmente no desfile que leva os bilros ao palco. Para além disso e com o desenrolar deste projecto, as propostas passam por passarelas mais importantes, como é o caso do PortugalFashion ou da ModaLisboa, e atravessam mesmo a fronteira. Os estilistas vão pela mão da Paula Rola para Espanha e para Dusseldorf também. A estilista Paula Rola já levou uma colecção estritamente de renda de bilros a Dusseldorf, que obteve um grande êxito, afirma o Joaquim Santos. Aliás, tudo o que a designer levou foi vendido e continua a ter diversas encomendas de lá. A meu ver, e não tenho qualquer dúvida em dizê-lo, ela é a criadora que melhor interpreta o espírito dos bilros aos longo dos anos, acrescenta. Este projecto é pioneiro no facto de dar oportunidade a novos talentos da moda nacional que, muitas vezes, despreza aquilo que deve ser a renovação do plantel de designers e por vezes não lhes dá a hipótese de participação em variados eventos de médio e de grande porte. E uma coisa é certa, têm surgido propostas muito boas, frisou o produtor de moda. Joaquim Santos frisa três dos principais objectivos alcançados neste desfile. Primeiro o facto de que tanto os jovens criadores quanto os consagrados, conseguirem provar que os bilros podem ser utilizados em prêt-a-porter das mais variadas propostas. Em segundo, a utilização de diversos materiais desde estopa ao algodão, passando nas várias edições por fio de prata, fio de ouro, fio de cobre, lã e fio de denim, provam que os bilros podem ser executados mais variadas matérias-primas. E finalmente, e este sim é um grande passo, criadores como Paula Rola, Isilda Pelicano e (na edição do ano passado) Luis Buchinho, provaram que os bilros têm capacidade de vir a ser utilizados com fins comerciais. Uma característica deste desfile é o facto de cada peça utilizada, para além de ser produzida por mãos de especialistas, é também única, não há possibilidade de escolher cor, o tamanho ou até mesmo o feitio, como quando um artigo é fabricado industrialmente. O Luis Buchinho teve um excelente aceitação com colecção que fez o ano passado. Em Nova Iorque, as pessoas ficaram doidas quando descobriram que as peças era um produto artesanal, já que pensavam que era feito numa fábrica e em grande quantidade. Quando o estilista lhes disse que era uma coisa única acharam aquilo fantástico, afirma Joaquim Santos. É esta característica que faz dos bilros uma arte que tem preços a oscilar entre os 2,5 euros, para uma pequena renda e os cinco mil euros, para um véu de noiva. Mesmo tendo em conta os preços praticados – que se definem pelo tipo de linha utilizado, sendo que quanto mais fina a renda for, mais cara fica não é possível sobreviver somente da produção das rendas. A única solução seria um aumento das encomendas, tornando assim rentáveis as horas de trabalho exigidas e na opinião dos responsáveis por este evento, a alta costura pode ser a porta que faltava abrir. Neste projecto apoiado pela Câmara Municipal, que custeia e apoia toda a execução das rendas de bilros, chegam a trabalhar dezenas de rendilheiras, sob o comando de Maria da Guia Vilas Boas vencedora de seis prémios nacionais de artesanato -, que é quem executa os bilros mais difíceis e quem normalmente coordena a actividade técnica com os estilistas. O mesmo desenho, o mesmo fio, a mesma rendilheira para executar duas peças, elas saem diferentes. Esta é a frase que Joaquim Santos caracteriza a renda de bilros, não há hipótese de não ser uma peça única, acrescenta.