O mês de Maio ficou marcado pelo debate generalizado sobre a competitividade da indústria têxtil e do vestuário em Portugal e no mundo. Iniciativas como as que permitiram este debate são de aplaudir, em especial a promovida pela Presidência da Republica que, a propósito de uma visita ao Vale do Ave, promoveu uma discussão sobre o sector, ainda que curta. No entanto a visibilidade desta visita permitiu atrair a atenção dos media para a verdadeira realidade da ITV e provar que é falsa a ideia que a imprensa tem deste sector. Recordo, que na véspera da visita presidencial, foram publicadas na imprensa nacional afirmações como, «(…) tal peso da fileira têxtil é perigoso para as gentes e para a economia regional» ou como «(…) o choque provocado, nos ano 80, pela falência generalizada da indústria têxtil e do vestuário(…)».
Os contactos da comitiva presidencial com as empresas, empresários e instituições do sector, permitiram desmentir esta visão negativa e catastrófica sobre a indústria têxtil e do vestuário. A imagem do sector saiu reforçada positivamente
Mas perante afirmações como estas, vale a pena imaginar o que seria a região do Vale do Ave, entre outras, sem a indústria têxtil. Provavelmente, seria uma região sem indústria e sem todas as actividades complementares que esta suporta, com uma população essencialmente dependente da agricultura de subsistência e da emigração. Relativamente à falência generalizada das empresas do sector relembre-se que o grosso dos 950 milhões de contos de exportações nacionais de produtos têxteis e do vestuário em 1999, são asseguradas por empresas com mais de 20 anos.
Voltando ao assunto dos Debates de Maio (tema de capa desta edição do Jornal Têxtil) saliento alguns dos comentários efectuados que sobressairam durante os períodos de intervalo sobre a necessidade ou não dos debates e da respectiva qualidade. Alguns salientaram que debates e diagnósticos já existem em excesso e o que falta é acção , outros destacaram a necessidade de uma participação e adesão mais significativa dos empresários e outros, ainda, referiram-se à qualidade, pior ou melhor, das intervenções proferidas.
Do meu ponto de vista ficou claro que debates destes são muito úteis, principalmente pelo facto de ter sido evidente a ausência de uma ideia de projecto coesa para o sector, em especial no que diz respeito ao tipo e ao planeamento de acções de competitividade a implementar.
É preciso uma visão partilhada de médio longo prazo suficientemente abrangente para que possa ter em conta a especificidade de cada sub-sector que integra a ITV e as diferentes opções estratégicas das empresas.
Estes debates podem catalisar a reflexão necessária para uma definição estratégica para o sector. Mas não bastam. É necessário que as conclusões resultem em iniciativas para a acção. No que diz respeito ao CENESTAP e ao Jornal Têxtil procuramos colaborar onde sentimos que podemos ser úteis e fazer o registo das intervenções para que as mensagens cheguem mais longe, dentro e fora do sector, mas, também, para que não sejam esquecidas.
Manuel Teixeira