A uma semana da realização do 10.º Fórum da Indústria Têxtil, o Portugal Têxtil falou com o director-geral da ATP, a associação que organiza o maior encontro nacional da indústria têxtil e de vestuÁrio, sobre esta edição agendada para 26 de Novembro. Paulo Vaz revela as novidades que aguardam os participantes, anuncia os oradores e fala da importância do encontro na estratégia geral do sector. Portugal Têxtil (PT) – No limiar da 10ª edição, que papel considera ter hoje o Fórum para a ITV? Paulo Vaz (PV) – O Fórum da Indústria Têxtil mantém hoje, em pleno, a filosofia e os objectivos para que foi criado. Um espaço de debate dos temas mais relevantes e prementes para o sector têxtil e de vestuÁrio nacional, numa lógica de união naquilo que lhe é essencial, e sempre na busca de pistas que nos ajudem a reflectir sobre a nossa actividade, as suas grandes tendências futuras e auxiliar as decisões estratégicas que se tomam ao nível das empresas do seu ainda vasto tecido industrial. Houve sempre o cuidado de manter o nível dos temas, dos palestrantes e das suas comunicações muito elevado, para que todos beneficiem da sua organização e do tempo que lÁ despendem, para que não seja mais uma conferência, mas sim “a” conferência do sector. Hoje, parece ser indiscutível que se trata de um seminÁrio de elevado prestígio, onde personalidades relevantes, quer à escala nacional quer internacional, jÁ por lÁ passaram e deram o seu contributo. PT – Qual a importância deste espaço de debate? PV – O Fórum da Indústria Têxtil, que a ATP tem o orgulho de organizar, é reconhecido como uma das mais importantes conferências da actividade realizadas na Europa, algo fortemente gratificante para quem o construiu ao longo destas jÁ dez edições consecutivas. Em momentos de crise grave como o que hoje vivemos, o Fórum assume-se como o evento em que o sector se analisa e busca soluções para a sua sobrevivência futura. é o momento em que temos de fugir das nossas preocupações e urgências quotidianas para pensar mais largo e, assim, podermos encontrar a luz no fundo do túnel. Ao agregarmos aos temas mais técnicos uma dimensão política, pela qual o presidente da ATP, aproveitando a presença de responsÁveis políticos, realiza o discurso do estado do sector, estamos também a contribuir para que este apresente um discurso forte, coerente, consistente e eficaz, beneficiando a imagem do conjunto da actividade e obtendo resultados concretos dessa intervenção. As últimas edições do Fórum, apostando também nesta componente, demonstraram bem o valor e a vantagem da opção. PT – Porquê a escolha do tema Que "Private Label" na Era das Marcas» para esta edição? PV – Apesar de estarmos a viver um momento de particular dificuldade na generalidade das nossas empresas, por força do qual estas centram as suas prioridades nos temas mais imediatos relacionados com a sua sobrevivência, não podemos descurar que existe, como pano de fundo, uma mudança profunda de paradigma, que não se alterou. Quando as questões conjunturais estiverem ultrapassadas, em especial para os que resistirem, as questões mais estruturais voltarão novamente ao centro do debate. Essas questões são, indiscutivelmente, que modelo de negócio queremos para as nossas empresas, que perfil o sector terÁ que ter para suportar uma concorrência internacional especialmente agressiva e como gerir um cenÁrio de concentração da distribuição, entre muitas outras. A ITV portuguesa tem vindo a produzir algumas marcas com grande potencial de crescimento e que, acredito, poderão trazer-nos grandes motivos de satisfação e orgulho no futuro. Mas importa não esquecer que muitas outras empresas não conseguirão descolar da sua especialização bÁsica que é o “private label”. Trabalhar em “private label”, no todo ou em parte da actividade, não tem de ser necessariamente negativo ou condenado a prazo. HaverÁ muitas empresas que farão disso uma vantagem competitiva extraordinÁria, desde que interligada a um sistema que funcione como um “cluster”. é esta ligação que serÁ discutida por quem, do lado da produção e do lado das marcas, sabe profundamente do negócio e que tem uma visão do futuro para o mesmo. Acho que é um tema oportuno, e que certamente sairemos todos mais informados sobre o mesmo. PT – Quais as principais novidades programadas para esta 10ª edição do Fórum? PV – A principal novidade estÁ nos oradores convidados. Quer Javier Guerra, que construiu o êxito da marca “El Niño” e que ancorou o sucesso deste projecto na colaboração que tem com empresas de “private label” portuguesas, quer Carlos Coelho, o grande “guru” das marcas portuguesas e um dos mais importantes especialistas de marketing e branding à escala europeia, contribuirão para uma conferência interessante e muito focada em questões concretas, o que, aliÁs, os habituais participantes do Fórum esperam. Além disso, o presidente da ATP é agora o Dr. João Costa e este não deixarÁ de imprimir o seu cunho especial no discurso do estado do Sector que irÁ produzir na presença do Ministro da Economia. PT – Que importância tem, a seu ver, a presença das mais altas individualidades do Estado nesta iniciativa? PV – A presença habitual de governantes no Fórum da Indústria Têxtil é sinal inequívoco da importância que a ITV ainda reveste para o país, bem como da relevância indiscutível desta conferência e da ATP no sector. é também prova de que a ITV, como actividade tradicional, é hoje olhada com mais respeito e atenção e nela se encontra a capacidade única de incorporar modernidade, inovação tecnológica e criatividade. Foi um esforço titânico chegar até aqui, mas, pelos vistos, foi, felizmente, conseguido. A presença do Ministro da Economia, e até do Primeiro-Ministro, como jÁ sucedeu quando o Fórum completou dez anos, é também a forma oportuna e adequada de transmitir aos poderes públicos as preocupações do sector, os seus anseios e as proposta de mudança, no lugar, no momento e perante a audiência certas. A mensagem do Presidente da República, na última edição do Fórum, congratulando o sector pela capacidade demonstrada em se actualizar em permanência e vencer sempre com sucesso as mais duras provas a que tem sido submetido, é igualmente um sinal de que o poder político, interpretando o sentir da sociedade civil, reconhece a ITV como uma actividade fundamental e de futuro para o país. PT – O sistema de duplo controlo estÁ a chegar ao fim do período de vigência. O Fórum pode ser uma plataforma para a indústria concertar posições e passÁ-las aos poderes governativos? PV – O sistema de duplo controlo de vigilância das importações chinesas estÁ efectivamente a chegar ao fim da sua vigência, embora haja fortes razões para que tenha de ser mantido ou reinstaurado no futuro próximo. Os números conhecidos até ao momento são alarmantes em termos de crescimento em algumas categorias de produtos e só não são piores porque a crise de consumo na Europa e nos Estados Unidos estÁ também a afectar a indústria chinesa. Tudo isto significa que tínhamos razão desde o princípio quando defendíamos que as importações chinesas deveriam ser fortemente controladas. A posição de Portugal neste domínio tem sido exemplarmente coordenada e firme. Quer as associações sectoriais representativas do Têxtil e do VestuÁrio, com a ATP à cabeça, quer os organismos da Administração Pública, como a DGAE, quer o Ministério da Economia e os próprios representantes de Portugal junto das instâncias comunitÁrias têm defendido as posições da indústria e levado essa defesa até às últimas consequências. Se existiu um Acordo China-União Europeia e um sistema de duplo controlo, foi precisamente porque a ITV portuguesa e o Governo tiveram capacidade de se unir e defender posições comuns e coerentes. Isto foi no passado, como serÁ certamente no futuro. O Fórum não serÁ o lugar para acertar essas posições, pois elas são claras e as instâncias políticas percebem-nas bem. O problema não estÁ na concertação de posições ao nível nacional, mas depois na capacidade de impor a nossa visão e interesses à escala da União Europeia, que, como é sabido, tem uma forte maioria de países cujos interesses são bem distintos dos nossos.