Curtumes de Alcanena não escapam à crise

Alcanena é o maior centro do País em matéria de curtumes, responsável por quase 80% da produção nacional de uma indústria que emprega 4.000 pessoas, com um volume de negócios anual de 60 milhões de contos, noticia o Diário de Notícias. Mas o aumento do preço do fuel, necessário à transformação da matéria-prima, e a crise provocada pela doença das “vacas loucas” (BSE) têm levado os industriais do sector a abandonar o mercado europeu e a partir em busca de matéria- prima nos mercados dos Estados Unidos da América, África do Sul e Extremo Oriente. Ironicamente, a moda parece não se importar com a crise, já que nos últimos anos a procura de artigos de pele, quer para roupa quer para mobiliário tem aumentado substancialmente. No mercado europeu os preços da matéria-prima aumentaram 70% nos últimos dois anos. Recorde-se que só há couros quando se abatem vacas e as estatísticas comprovam que o número de abates diminuiu bastante nos últimos anos, desde que as doenças de gado bovino, com a BSE à cabeça, levaram os europeus a afastar-se do bife. No mercado extra- europeu não há muito por onde escolher, isto porque a Índia e o Paquistão proibiram a saída de matéria-prima, e o Brasil e a Argentina taxaram fortemente as exportações de couros. Como medida de saneamento da crise, algumas fábricas nacionais estão já a criar “stocks de segurança” para os próximos meses. Na Couro Azul, Pedro Carvalho, presidente da empresa, garante armazenagem para quatro meses de fornecimento de couro sem crómio (não tratado). A partir desse prazo a situação depende da evolução das crises no cenário internacional, apesar de, garante, “estarmos a reagir sempre de forma pró-activa”. Para além da BSE, outros problemas contribuem para a crise no sector dos curtumes. Luís Mota, presidente da Associação Portuguesa de Industriais de Curtumes (APIC) e da Constantino & Mota, aponta que a “desvalorização do euro face ao dólar tornou também a factura mais pesada, já que os nossos pagamentos de matérias-primas são feitos em moeda americana”. Os couros são mesmo importantes na desagregação de custos. “Cinquenta por cento do preço final é matéria-prima; aqui, ao contrário de outras indústrias, como o calçado, a incorporação de mão-de-obra não é o mais importante, sendo que no nosso caso andará à roda dos 12/15 %”, explica.