A Europa, com especial destaque para Espanha, continua a ser o grande cliente da empresa familiar. «Tem grupos muito grandes que a Crispim Abreu trabalha desde sempre», revela o diretor-geral João Abreu. «Mas também trabalhamos com marcas de outros países europeus, como Itália, Inglaterra e França», afirma. Este último, de resto, «continua a ser uma aposta para nós», assim como os EUA. «Há um trabalho que tem vindo a ser feito nos EUA e que está a crescer», explica João Abreu, que destaca o facto de, do outro lado do Atlântico, haver «muitas empresas grandes e muitas marcas com grande potencial de crescimento. Pensamos que, nos próximos anos, pode haver mudanças ao nível do comércio mundial e Portugal pode beneficiar disso. Estamos a tentar abrir algumas portas, pequeninas para já, mas que estão a dar os seus passos».
Este ano, indica João Abreu, os mercados externos estão a desacelerar. «Notou-se uma quebra, penso que foi generalizada na indústria, na procura de produto em Portugal», aponta, dando seguimento a uma tendência já sentida em 2018. «Especula-se que existe uma quebra do consumo de têxteis e vestuário, não sei se será esse o motivo ou se será apenas a deslocalização de produções para outras geografias, onde seja mais vantajoso produzir», admite.
No entanto, o diretor-geral da Crispim Abreu acredita que a empresa, à semelhança da generalidade da indústria têxtil e vestuário portuguesa, está bem posicionada junto dos clientes. «Temos empresas que são muito resilientes e inovadoras em Portugal e com um grau de sofisticação que as marcas gostam muito, com muito design. A diminuição do volume de compras não está muito relacionada com o trabalho que as empresas fazem, nem com questões de sustentabilidade ou inovação. Está simplesmente relacionada ou com a questão do preço ou com a procura», assegura.
Apostas reforçadas
Atualmente, a Crispim Abreu exporta cerca de 99% da sua produção, que se divide entre as malhas, os têxteis-lar e o vestuário. Internamente tem processos de tricotagem, tinturaria, estamparia convencional, estamparia digital, corte, confeção e embalagem, assegurados por cerca de 315 colaboradores – 215 afetos à empresa epónima e 100 à empresa de confeção Polo – Indústrias de Vestuário, que faz também parte do grupo. Nesta última está atualmente a ser implementado um plano de modernização, que inclui a renovação do parque de máquinas e a modernização do layout. «Na parte da produção de malhas, os últimos investimentos que temos feito têm sido ao nível do controlo de qualidade», assinala João Abreu, que sublinha, contudo, «que estamos sempre a investir em maquinaria».
Os investimentos têm sido realizados também ao nível da melhoria da sustentabilidade, com processos de reciclagem de água, aproveitamento de águas quentes e vapores e instalação de uma central fotovoltaica. «A grande pegada, pensamos nós, é ao nível da tinturaria, daí que o nosso foco tem sido muito na questão da redução do consumo de água», reconhece.
Os produtos têm também incluído fibras mais sustentáveis. Na nova coleção de malhas para o outono-inverno 2020/2021 constam algodão orgânico e reciclado, poliéster reciclado e viscose EcoVero, inseridos em propostas «mais pesadas e estruturadas», descreve João Abreu.
Depois de uma «pequena quebra» no volume de negócios de 2018 face ao ano anterior, os desafios deste ano são encarados com naturalidade pela Crispim Abreu. «Este ano nota-se uma quebra em relação ao ano passado. Mas estamos habituados porque, como já passamos por muitos altos e baixos, para nós é uma situação natural, não gera qualquer tipo de pânico nem stress. As pessoas, às vezes, pensam que as coisas têm de estar sempre em crescimento. Nós não. Temos uma estrutura que está em linha com o volume de faturação. Tudo o que for daí para cima, muito bem, mas não estamos particularmente em pânico, apesar deste ano ter sido muito difícil, para nós especialmente, mas para o sector também», adianta.
Isso não implica que a empresa cruze os braços, pelo contrário. «Vamos continuar a apostar nas feiras internacionais, em inovar no produto, em fazer apresentações aos clientes o mais possível», enumera. «Mas ao nível daquilo que a empresa faz, e faz muito bem, e os processos que a empresa desenvolve internamente, ao nível da sustentabilidade, por exemplo, não é para alterar, é para continuar nessa senda», garante o diretor-geral da Crispim Abreu.