Crispim Abreu empenhada na descarbonização

A empresa produtora de malhas, vestuário e têxteis-lar está a investir na eficiência energética, mas também na redução do consumo de água, na reciclagem dos seus desperdícios e na digitalização para melhorar a sua pegada ambiental e contribuir para a descarbonização da indústria.

João Abreu

A Crispim Abreu tem já uma unidade fotovoltaica, mas em curso está já um projeto de expansão. «Vamos praticamente quintuplicar a nossa central fotovoltaica», revela João Abreu.

Esta aposta na produção de energia fotovoltaica está a ser acompanhada por um investimento «em alguns equipamentos produtivos que nos vão permitir melhorar a nível de qualidade e eficiência energética», acrescenta o diretor-geral da empresa, numa renovação que será transversal a várias áreas produtivas, desde a tricotagem aos acabamentos. «É o que está a ser programado para ser executado num futuro mais próximo», adianta João Abreu.

A descarbonização faz parte da estratégia da Crispim Abreu, que apesar da incerteza que paira no mundo, aponta como linhas de desenvolvimento futuras a «diversificação de mercados, que é aquilo que temos vindo a fazer, a qualidade do produto, a eficiência e a descarbonização do nosso processo produtivo – conseguir entregar um produto com qualidade, com certificação e, sobretudo, com uma pegada ecológica muito baixo», explica ao Portugal Têxtil.

Para este objetivo, a empresa já introduziu um esquema de reciclagem dos seus próprios desperdícios têxteis, que são transformados em fios e novamente em malha, a somar à eficiência energética e de água. «Quando falamos em descarbonização, falamos em todos estes vetores. E falamos também da digitalização. Queremos apostar não só na digitalização dos nossos processos internos, mas também na interação com os clientes», afirma João Abreu.

Um ano de recuperação

No ano passado, as contingências da pandemia obrigaram a Crispim Abreu a assumir um lado mais digital do negócio, sobretudo através de reuniões online. «Foi um ano muito duro, houve ali uma altura, inclusive, em que tudo parou a nível de produção, tudo se adiou», descreve. «Tivemos que fazer essa abordagem e penso que a recuperação foi boa», assinala o diretor-geral, apesar da queda nos números finais. «Conseguimos ter um volume de negócios que nos permitiu aguentar, pelo menos, a nossa estrutura», refere.

A diversificação de produto deu uma ajuda nesse sentido. «[Ter várias áreas] foi uma vantagem e é uma vantagem que nos vem ajudando ao longo dos anos, porque a flexibilidade que a empresa tem, de rapidamente mudar de tipo de produto, e toda a equipa que trabalha na empresa tem essa abertura, dá uma certa agilidade para nos conseguirmos adaptar a novas tendências no mercado. Tanto trabalhamos criança, como o mercado de homem e senhora ou têxteis-lar e, mesmo dentro desses segmentos, o mais formal e mais high-end ou uma situação mais de volume e de coisas mais básicas. No ano passado não fizemos disso grande negócio, mas logo que surgiu a pandemia, facilmente fizemos milhares de máscaras. É-nos relativamente fácil adaptar», confessa João Abreu.

Este ano teve um início «bastante positivo», sentido também no regresso às feiras presenciais, como a Première Vision Paris, mas ainda se apresenta recheado de desafios, como a instabilidade dos mercados da Crispim Abreu, nomeadamente na Europa e nos EUA. «O consumo ainda não está nos níveis que esteve. É uma situação em que o negócio está difícil em várias vertentes: está difícil na parte comercial e na parte da produção», admite o diretor-geral. «Nos últimos meses continuam a acentuar-se as dificuldades com as matérias-primas, o preço da energia e tudo o mais. Portugal tem um problema de competitividade que tem de ser abordado e tem de ser resolvido», considera João Abreu, que se mostra, contudo, confiante na capacidade da indústria têxtil e vestuário nacional. «Penso que será resolvido pelas empresas portuguesas num futuro muito próximo – temos empresas excelentes», conclui.