Nos últimos anos, as vendas em segunda-mão têm ganho força, em parte devido à consciencialização do impacto da produção de novos artigos de moda no ambiente, mas à medida que a inflação aumenta e o custo de vida dispara, os consumidores estão cada vez mais a voltarem-se para formas alternativas de adquirirem moda, com as lojas e sites de vestuário previamente usado a conhecerem um renovado dinamismo.
Segundo o estudo “Global Apparel Resale Market & Forecasts to 2026”da GlobalData, a que o Just Style teve acesso, o mercado de vestuário em segunda-mão aumentou 109,4% entre 2016 e 2021. Em 2022, deverá crescer mais 31%, para mais de 180 mil milhões de dólares (cerca de 182,7 mil milhões de euros), e, entre 2023 e 2026, o aumento previsto é de 52%, graças ao surgimento de novos players.
O estudo da GlobalData, contudo, aponta para um abrandamento ligeiro do crescimento, à medida que o mercado se torna mais maduro nas principais regiões do globo.
A quota da Europa deverá manter-se relativamente constante até 2026, embora a Europa de Leste lidere o crescimento graças à evolução positiva da economia da região, assim como pela presença forte de plataformas online de revenda, como a Vinted.
Desde 2016, a Ásia-Pacífico registou o maior aumento no mercado de vestuário em segunda-mão, à medida que foi desaparecendo o estigma associado a este tipo de artigo. A região deverá sentir o maior aumento no período em análise (91,9% entre 2022 e 2026), considerando a sua enorme população, crescimento económico e um foco no luxo em países como China e Singapura.
Motores do dinamismo
O crescente domínio de plataformas de revenda online, como a Vinted e a Depop, tem dinamizado a subida das vendas, sobretudo desde a pandemia, quando as pessoas foram obrigadas a fazer compras pela Internet.
A lituana Vinted, que em outubro de 2020 adquiriu a maior plataforma de moda em segunda-mão da Europa, a neerlandesa United Wardrobe, opera atualmente em mais de 10 mercados e afirma ser o maior marketplace online de venda entre consumidores de vestuário usado na Europa.
Atentas a este crescimento, retalhistas e marcas estão a lançar os seus próprios projetos de moda em segunda-mão. Em fevereiro deste ano, a H&M lançou uma secção de revenda no seu website sueco em parceria com a plataforma de revenda Sellpy, onde comercializa não só peças das suas marcas, mas também de marcas terceiras, como a Asos, Nike, Zara e Abercrombie & Fitch.
De igual forma, a Primark, a Levi Strauss e a Lululemon aderiram a esta tendência, assim como a Hugo Boss, que está a lançar um serviço de revenda denominado Hugo Boss Pre-Loved em França neste terceiro trimestre.
Travões ao crescimento
Na Europa e na América do Norte, a inflação tornou-se uma grande fonte de tensão para consumidores e retalhistas, já que o rendimento discricionário está a diminuir e, como tal, as pessoas estão a retrair-se nas compras de bens não-essenciais, como vestuário e calçado. Pode ainda haver um excesso de oferta, se os consumidores decidirem tentar vender as suas roupas para ganhar dinheiro extra.
Noutras geografias, como Arábia Saudita ou Emirados Árabes Unidos, há ainda um estigma associado à compra de vestuário em segunda-mão, algo que está lentamente a mudar, sobretudo entre os mais jovens, que estão mais preocupados com o impacto no planeta de produzir vestuário novo.
O estudo sublinha, por isso, que é cada vez mais importante que marcas e retalhistas trabalhem em conjunto para alterar esta perceção negativa e destacar os benefícios em termos de sustentabilidade de comprar uma peça de vestuário previamente usada.