O parceiro paquistanês, que está envolvido na indústria no denim, para a qual fornece fechos, botões e etiquetas, adquire as matérias-primas à Crafil e usa as mesmas máquinas de bobinar que a Crafil, mantendo os elementos que tornam a marca conhecida internacionalmente. «As caixas são iguais, o timbre é o mesmo, a etiqueta é igual», explica Vítor Alves, sócio-gerente da Crafil.
Embora reconheça os riscos de passar o conhecimento para uma empresa externa no Paquistão, Vítor Alves acredita que esta era a única forma de se expandir na Ásia. «Nunca iríamos, ou iríamos demorar muitos anos, a chegar à Ásia. Sabemos que os contratos valem o que valem, mas nesta fase é vantajoso, porque neste momento a Crafil já pode dizer que é conhecida mundialmente. Vendemos para a Europa, para África [onde tem um armazém na Tunísia] e esta parceria vai permitir vendermos para o Camboja, o Vietname, a China…», enumera.
Países onde produzem as grandes marcas como a Tommy Hilfiger e Calvin Klein, que são clientes da Crafil, tal como a Levi’s, a Hugo Boss ou, em Portugal, a Salsa e a Tiffosi. «Neste momento o mercado mais importante é a Tunísia, porque é um dos países onde as grandes marcas internacionais, incluindo as europeias, produzem, porque permite uma resposta muito rápida para a Europa», aponta Vítor Alves.
Desde há seis anos, a aposta da Crafil, fundada em 2004, é contactar e vender diretamente para as marcas, uma estratégia que tem dado resultado. «O ano passado, a exportação representava 65%. Este ano deve ultrapassar os 70%», revela ao Portugal Têxtil.
Investimentos sustentáveis
Em 2018, a Crafil mudou para umas novas instalações, com 1.800 metros quadrados, que representaram um investimento de cerca de um milhão de euros. «Desde que mudamos para lá continuamos a fazer investimentos em maquinaria – ainda recentemente compramos mais duas máquinas de bobinar novas e uma máquina de etiquetar automática», exemplifica o sócio-gerente.
A parte produtiva – que inclui o tingimento, bobinagem e embalamento – deverá sofrer mais uma mudança, com o desenvolvimento de um novo processo de tingimento, batizado Waterless, que vai permitir uma economia de água de quase 99%. «Temos uma relação de banho já muito curta. Mas mesmo assim, a relação de banho que temos, por cada quilo de linha, anda nos 29 litros de água. Com este processo só vamos gastar 200 ou 300 mililitros de água», explica.
Atualmente, a Crafil está a desenvolver, juntamente com um construtor de maquinaria, um protótipo de máquina, que deverá ficar concluído no primeiro semestre do próximo ano. «Vai ser feito ainda numa escala pequena – em princípio já temos dois clientes premium, marcas mundiais, que estão a espera do produto», adianta Vítor Alves.
A sustentabilidade não é, contudo, uma matéria nova para a Crafil, que conta já na sua oferta com o Denimfil Eco, um fio com 100% poliéster reciclado pós-consumo e certificado. «Foi o primeiro desenvolvimento que a Crafil fez na questão da sustentabilidade – iniciámos em 2014 e começámos a comercializar em 2015», conta Vítor Alves, que acrescenta que as linhas com conteúdo reciclado representam atualmente cerca de 15% das vendas. «Mas nos próximos quatro a cinco anos pretendemos que chegue aos 30% a 40%. E temos noção de que o tingimento sem água vai ser a cereja no topo do bolo», acredita.
A meta de um crescimento de 6% ao ano tem sido consecutivamente ultrapassada – em 2018, o volume de negócios da empresa subiu 16%, para 2,3 milhões de euros, e este ano deve terminar com um crescimento a dois dígitos, para um valor superior 2,5 milhões de euros. «Isto vai permitir que, em dois anos, a Crafil vá crescer o que estava estipulado crescer em cinco anos», conclui o sócio-gerente.