Covid-19 abala ITV indiana

A indústria têxtil e vestuário da Índia está a braços com mais dificuldades provocadas pela segunda vaga mortífera do SARS-CoV-2 que está a afetar o país. Sem trabalhadores, dificuldade em cumprir as encomendas e problemas logísticos, as perspetivas são pouco otimistas para o futuro a curto prazo.

[©Ministry of Rural Development/Government of India]

«A mão de obra foi [parcialmente] embora, a produção está em baixa e a procura está a cair», descreve Sanjay Arora ao just-style.com. As fiações estão a trabalhar a capacidade reduzida, já que, indica o diretor da empresa de consultoria Wazir Advisors, 15% a 20% da sua mão de obra está infetada com o novo coronavírus.

A média de novos casos no país tem superado os 300 mil – no dia 3 de maio foram registados mais 357.229 infetados, contribuindo para um total, desde o início da pandemia, de 20,3 milhões de casos no país, e morreram, nas últimas 24 horas, mais 4.449 pessoas, elevando o número de mortos por Covid-19 para 222.408.

Este aumento nas infeções deverá impedir os produtores de têxteis e vestuário de cumprir as entregas de encomendas. «Temos boas encomendas [para exportação], mas devido à pandemia, os trabalhadores migrantes estão a abandonar os centros de produção de vestuário, sobretudo em Maharashtra, deli e Bangalore», revela Sanjay Arora.

Com os produtores de vestuário restringidos por causa da falta de mão de obra, a procura por fibra de poliéster também caiu, causando problemas de distribuição para as fiações, que têm encomendas que não foram afetadas, mas que estão com dificuldades em ser enviadas devido às interrupções na área dos contentores e transportes marítimos.

Além disso, as fiações estavam também a contar com a procura doméstica e não se focaram no planeamento dos envios – um problema tendo em conta que os mesmos têm de ser reservados com bastante antecedência, afirma o diretor da Wazir Advisors.

Questões que deverão afetar a recuperação financeira que as empresas indianas de têxteis e vestuário sentiram entre outubro e fevereiro, adverte Arora.

Kandasamy Selvaraju, secretário-geral da Southern India Mills Association, diz estar contente pelo Governo estar, pelo menos, a deixar a indústria continuar as suas operações e argumenta que alguns «trabalhadores estarão mais seguros nas fábricas do que nas suas casas», tendo em conta a densidade da população residente em muitas cidades indianas.

[©Press Information Bureau/Government of India]
Mas não espera que o Governo ajude a indústria com grandes subsídios adicionais. «No ano passado, o Governo teve de gastar 21 biliões de rupias [cerca de 236 mil milhões de euros] num fundo de ajuda e não podemos esperar que o Governo venha novamente com medidas de apoio porque não temos dinheiro», sustenta.

Selvaraju salienta ainda que a nova onda de Covid-19 está a impedir as importantes reuniões presenciais. «Nem tudo pode ser feito online. Nos têxteis, as pessoas têm de ver os designs dos tecidos», justifica.

Desafios logísticos

Ujwal Lahoti, proprietário da Lahoti Overseas, uma empresa sediada em Bombaim que fornece fio, tecido e algodão em bruto aos exportadores de vestuário indianos e a clientes internacionais na China, Bangladesh, Vietname, América Latina e Europa, concorda que a atual crise coloca grandes desafios logísticos.

Para manter a sua mão de obra, os trabalhadores muitas vezes têm de se manter na empresa para evitar infeções na rua, por isso têm de ser alimentados e alojados dentro da infraestrutura laboral. Todos os trabalhadores têm ainda de ser testados regularmente. «Organizar isto para todos os trabalhadores cá dentro é uma tarefa muito grande. As empresas estão a trabalhar com uma média de 50% de eficiência», admite Lahoti.

Cada fábrica tem alguns trabalhadores que permanecem no campus, com as empresas a precisarem de passes de viagem especiais para que a mão de obra externa possa ser trazida para dentro das instalações.

Este tipo de disrupção vai, inevitavelmente, afetar a produção e as entregas, acredita o empresário. «Vai haver prejuízos», embora os clientes da indústria têxtil e vestuário estejam a ser informados. «Todos os que podem receber as encomendas mais tarde estão a aceitá-las e os que não podem estão a cancelá-las», confirma. «As transportadoras marítimas aumentaram os preços e o número de barcos foi reduzido. A disponibilidade de contentores está também a deteriorar-se. Isso é também um grande desafio para os exportadores», sublinha o proprietário da Lahoti Overseas.

Um dos problemas logísticos é que cada estado indiano introduziu regras de confinamento diferentes.

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Chandrima Chatterjee, atual diretora de consultoria, economia e conformidade no Apparel Export Promotion Council, afirma que a maior parte dos centros de produção de têxteis e vestuário «conseguiram continuar a produção» e que as exportações dos estados mais relevantes, como Tamil Nadu, Maharashtra e Rajastão, deverão prosseguir. «Não é o cenário do ano passado», em que as exportações pararam, reconhece.

Embora a capital Deli esteja em confinamento até 10 de maio (depois de prolongado por mais uma semana), as unidades de produção de vestuário no estado de Karnataka têm autorização para operar com 50% da sua mão de obra. O confinamento, que entrou em vigor a 27 de abril, contempla uma exceção para a indústria, com todas as instalações industriais e de produção relacionadas com o vestuário a poderem operar desde que cumpram as regras de segurança para evitar contágios.

Numa declaração colocada na página do LinkedIn do Apparel Export Promotion Council a 28 de abril, o presidente desta entidade, A Sakthivel, agradece ao governo por permitir que as empresas de vestuário continuem a trabalhar. «As unidades de exportação de vestuário usam mão de obra intensiva e a maior parte dos trabalhadores são migrantes de outros estados. Fechar as fábricas tornaria difícil o seu regresso. O encerramento de fábricas teria levado ao incumprimento das encomendas de exportação junto dos compradores internacionais, perda de credibilidade e uma redução significativa nas receitas de exportação», aponta A Sakthivel, acrescentando que «a maior parte das unidades de produção de vestuário estão também a fazer têxteis médicos, kits de equipamentos de proteção individual e máscaras tanto para o mercado doméstico como internacional».