Do início da empresa, que começou com três pessoas, ficou o know-how acumulado em mais de três décadas de história, mas a Cordeiro Campos & Ca cresceu e alterou o seu core business para servir um mercado mais exigente, de elevada qualidade. Depois de trabalhar a feitio para grandes empresas portuguesas – como a Tebe e a Impetus –, em 1987, a Cordeiro, Campos & Ca começou a explorar os mercados externos.
«Começámos com Inglaterra», revelou o sócio-gerente Mário Campos, num artigo publicado na edição de setembro do Jornal Têxtil. «Depois, a partir da década de 90, contactámos diretamente com a Inditex e criámos uma empatia muito forte. Durante uma década trabalhámos quase em pleno para eles. Deu para evoluirmos em termos financeiros», admitiu.
A exigência de preços cada vez mais baixos por parte da gigante espanhola levou, contudo, a Cordeiro, Campos & Ca a procurar novos clientes. «Tivemos a oportunidade de começar com clientes já diversificados em França, Holanda, Bélgica, com marcas, algumas pouco conhecidas, que depois foram crescendo, e nós com elas», acrescentou.
«A política da empresa foi sempre aceitar encomendas pequenas, muitos modelos. Os nossos colaboradores habituaram-se a fazer modelos muito sofisticados, que muitas empresas não aceitavam, com muitas cores, o que era de uma dificuldade enorme», explicou ao Jornal Têxtil Anabela Carvalho Campos, outra dos quatro sócios-gerentes da empresa familiar.
«Fomos ganhando quota de mercado e reconhecimento. A partir de 2003 e 2004, começámos a trabalhar a alta gama. Em 2013 foi realmente o salto quantitativo, mesmo em número de trabalhadores, e começámos a ter o reconhecimento dessas grandes marcas, que atualmente já nos procuram para trabalharmos em conjunto», referiu Mário Campos.
A crise que se fez sentir no sector no início do milénio acabou por funcionar a favor da Cordeiro, Campos & Ca e dar impulso ao crescimento. «A nossa grande dificuldade era com as tinturarias e estamparias, porque tínhamos encomendas pequenas, com muitas cores. Às vezes quase me punha de joelhos para me fazerem o trabalho. As tinturarias tinham clientes que colocavam toneladas de malha para a mesma cor. Connosco era ao contrário – era pouca malha para ser bem utilizada, para ter valor acrescentado. Não é tão rentável para uma tinturaria. Quando veio a crise, tivemos essa facilidade. O que nos preocupava tanto acabou por nos facilitar e aí crescemos bastante», reconheceu o sócio-gerente José Augusto Santos.
Atualmente, a empresa conta com 25 clientes, entre grandes marcas e nomes emergentes na moda, sobretudo em mercados como França e Inglaterra, assegurando uma produção anual entre 300 e 350 mil unidades. «Mas são peças com valor acrescentado superior», sublinhou Mário Campos.
Investir no crescimento
As instalações sofreram grandes mudanças nos últimos anos, ocupando atualmente uma área de 3.500 metros quadrados, num investimento na ordem dos 5 milhões de euros. Em fase de execução está já um novo investimento, no valor de um milhão de euros, que irá adicionar 1.000 metros quadrados, destinados a um novo armazém.
A necessidade de resposta à procura, que implica ainda hoje a subcontratação de 80% da produção, levou ainda a Cordeiro, Campos & Ca a adquirir, há três anos, uma unidade de confeção adicional. A Cool Cotton, como foi batizada, encontra-se localizada em Vila Verde, tem cerca de 30 costureiras e está a ser igualmente remodelada para garantir condições semelhantes às da empresa de Barcelos, num projeto de investimento na ordem dos 4 milhões de euros, dividido em duas fases. «Numa primeira fase serão investidos 2 milhões a 2,5 milhões de euros, para daqui a um ano. A segunda fase é a cinco anos», adiantou Mário Campos.
Certificação e sustentabilidade
Com um negócio feito de pequenas quantidades, a tónica na qualidade faz-se sentir na própria organização, com a certificação a ter um papel fundamental na afirmação da empresa no contexto internacional. «Recentemente, conseguimos a certificação da qualidade pela APCER, de acordo com a norma ISO 9001:2015 e temos a certificação STeP, que é uma norma europeia que serve para todos os países. Fomos, a nível nacional, a empresa que conseguiu a melhor pontuação», afirmou Laurinda Campos, responsável pelo departamento de qualidade.
A sustentabilidade é outra questão prioritária para a empresa, que recentemente instalou 456 painéis fotovoltaicos, o que permitiu reduzir a fatura de eletricidade em cerca de 40%, e toda a iluminação da empresa é feita com lâmpadas LED.
Investimentos todos eles pensados para criar condições para a continuidade da empresa familiar, que em 2016 registou um volume de negócios de 14,5 milhões de euros.
Com o futuro, em termos de administração, assegurado – a segunda geração, Gilberto e Mário Nélson, filhos de José Augusto Santos e Carolina Campos, veste já a “camisola” da Cordeiro, Campos & Ca – os objetivos da empresa passam sobretudo pela consolidação.
«É a empresa ter uma gestão capaz de se gerir sozinha. Não é autogestão, mas antes criar uma política organizativa de forma a não estar dependente dos meios humanos para a gerir, que vêm somente verificar que as coisas estão a fluir corretamente. E crescer sempre», concluiu Mário Campos.