Cooperação faz a força

O Cenestap deu o pontapé de saída num projecto de cooperação para a ITV: Gaspar Sousa Coutinho explicou os objectivos, Balé Gomes enunciou o papel das medidas voluntaristas, Mário Rui Silva, Augusto Mateus enalteceram importância da cooperação

Um estudo sobre a problemática da cooperação da ITV nacional está actualmente em curso, numa iniciativa conjunta do CENESTAP e DGI. Tem como objectivo avaliar de forma articulada a questão da cooperação estratégica entre empresas do sector, bem como fomentar redes de cooperação empresarial. No âmbito do projecto, foi realizado um primeiro seminário “Rede Têxtil – Cooperar para Ganhar”. Na forma como este seminário foi estruturado, procurou-se atingir três objectivos. O primeiro tinha a ver com a divulgação do projecto. O presidente do Conselho de Administração do CENESTAP, Gaspar Sousa Coutinho, explicou quais os objectivos do projecto e qual a metodologia usada. A Direcção Geral da Indústria na pessoa de Balé Gomes, encerrou a fase de divulgação, ao explicar qual o papel das medidas voluntaristas no âmbito de um programa de incentivo ao aumento de competitividade sectorial. O segundo grande objectivo do seminário prendia-se com a sensibilização dos empresários para a cooperação, que ficou a cargo dos dois consultores do projecto, Mário Rui Silva e Augusto Mateus. Coube ao primeiro mostrar quais as condições necessárias para o sucesso das redes de cooperação, ficando para o segundo, a demonstração da importância da cooperação para a competitividade na ITV. Como terceiro grande objectivo, procurou-se motivar os empresários para a cooperação. Para tal, foram apresentados casos concretos de sucesso de redes de cooperação, pela CompeteMinho e por empresários gestores de redes de cooperação, Lanhosoinveste e TRL – Têxteis em Rede. Na conclusão do seminário falaram pelo IAPMEI, Helena Duarte e Rui Rodrigues, explicando o papel da cooperação no âmbito dos programas de política industrial.

O produto correcto para o mercado certo Gaspar Sousa Coutinho presidente CA Cenestap

Avaliar o potencial de cooperação das empresas do sector e, se possível, fomentar o início de redes de cooperação entre empresas é o principal objectivo do estudo que o CENESTAP vai desenvolver no âmbito do projecto Rede Têxtil, uma iniciativa gerida pela Direcção Geral da Indústria e que contará com as colaborações de Augusto Mateus e Mário Rui Silva, consultores do projecto.

Através de um inquérito a mil empresas pretende-se identificar as áreas de negócio com maior potencial para essa cooperação, os factores internos e externos da empresa que facilitam ou dificultam a concretização dessas alianças e, numa fase posterior, desenvolver soluções, numa perspectiva prática, através de estudos de casos nacionais e internacionais. «Se tudo correr bem, a última fase será o incentivar a criação de bases para que as futuras redes possam ser criadas e ter sucesso», explica Gaspar Sousa Coutinho. A divulgação do estudo será feita no último de uma série de três seminários, que teve o seu arranque no dia 1 de Março exactamente com a apresentação deste projecto.

«O confronto que continuamos a ter com a liberalização acelerada e com esta concorrência vai levar a mudanças que têm que ser qualitativas», sustentou , presidente do CA do CENESTAP naquele encontro, enquanto lembrava que à escala europeia o STV nacional é pequeno, apesar da sua grandeza e importância para a economia portuguesa.

E uma das vias para o sucesso no futuro é a criação de alguma dimensão que possibilite agarrar as oportunidades e avançar para a parte qualitativa, que empurre o sector para o mercado. «O futuro já não vai ser termos preço, mas antes produtos certos, mesmo com preços altos, no local certo e para o mercado certo», defendeu.

De acordo com Sousa Coutinho, a ideia deste projecto é tentar fazer perceber que, dada a pequenez do sector perante os grandes mercados e a necessidade de investir em áreas mais qualitativas, diferenciando produtos, o futuro vai obrigar a muito mais cooperação entre empresas. «O sucesso vai ter que ser de todos e menos de cada um em particular», concluiu.

A pensar em 2005 Balé Gomes Direcção Geral da Indústria

A reacção da Direcção Geral da Indústria à proposta do CENESTAP foi inicialmente de expectativa. «Pretendíamos algo mais do que um estudo, perdendo-se toda a oportunidade e toda a acção desenvolvida na sua elaboração», confessou Balé Gomes. A divulgação de casos de sucesso tornava-se então necessário e esse foi um objectivo conseguido no seminário de apresentação do projecto rede têxtil, onde enquadrou o projecto no âmbito das medidas voluntaristas do IMIT, de que é responsável. «Pretendia-se também incentivar a criação de embriões de futuras redes de cooperação, eventualmente a poderem ser desenvolvidas no QCA III», concretizou. Porquê então promover a cooperação e inclui-la nas medidas voluntaristas? A resposta de Balé Gomes remete para os investimentos que, em determinadas áreas, exigem capacidades e meios que normalmente não estão ao alcance das pequenas e médias empresas. «Diria que a chamada aposta nos chamados factores dinâmicos do sector — moda, design, inovação, qualidade —, tem que ser uma aposta nas empresas, mas reconheço que são áreas que recorrem a recursos humanos e financeiros que não estão normalmente disponíveis nas PME», esclarece. Daí que a via das alianças estratégicas de cooperação empresarial poderá constituir uma forma de ultrapassar a questão da dimensão reduzida da maior parte das empresas do sector.

Para Balé Gomes a cooperação justifica-se em áreas onde as economias de escala se tornem evidentes, sem perda efectiva de gestão e controle das empresas: «a cooperação irá permitir reduzir efeitos negativos de incerteza e turbulência que se verificam nos mercados, já que se assume uma partilha de riscos, conjuga vantagens de exploração conjunta de tecnologia, permite a obtenção das economias de escala e aumenta o poder negocial por parte dos cooperantes». Foi neste sentido que as medidas voluntaristas do IMIT apoiaram o factor dinâmico cooperação como forma de contribuir estruturalmente para a modernização do sector e para o aumento da sua competitividade. O que se pretendeu foi adaptar as empresas ao fenómeno da globalização, à concorrência internacional cada vez mais agressiva, preparando-as para o embate de 2005.

Grande défice está na cooperação horizontal Mário Rui Silva consultor do projecto

Apesar da ideia de cooperação empresarial aparecer repetidamente nos menus dos instrumentos de política industrial e de ser verdade que, em particular nos países avançados, existem experiências de sucesso em praticamente todas as actividades industriais e, em sentido lato, económicas, Mário Rui Silva alerta para a necessidade do sector estar consciente de que este é um domínio onde o grau de realização de experiências concretas, e não apenas em Portugal, tem ficado claramente aquém da vontade que transparece na arquitectura dos programas de política industrial.

Sendo certo que a questão da cooperação empresarial se coloca também ao nível das grandes empresas, o consultor do projecto Rede Têxtil considera que há uma especificidade das PME’s que a torna mais pertinente. « Uma pequena empresa não é uma grande empresa em ponto pequeno. Não tem, por exemplo, um pequeno departamento de investigação e desenvolvimento. É antes uma organização específica onde há uma impossibilidade de desenvolver internamente todas as áreas funcionais. E isso, em grande parte tem a ver com a qualidade do capital humano e secundariamente com os meios financeiros», explica. E remete para um estudo recente que aponta um diagnóstico que é claro: nessas empresas as funções terciárias com carácter estratégico estão atrofiadas ou não existem.

A cooperação pode dividir-se em hierárquica (cujo caso típico é a