Consórcio estuda stress em militares

O projeto STRESSENSE conseguiu identificar moléculas que poderão servir de biomarcadores de stress, com os resultados a deverem permitir, numa fase posterior, desenvolver sensores aplicados a têxteis para ajudar a monitorizar militares e não só.

Cristina Cordas

Como revelou na sua apresentação na iTechStyle Summit ‘22 Cristina Cordas, investigadora do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV) na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, o projeto, que conta ainda com o contributo do CITEVE e do CINAMIL – Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Academia Militar, tem como propósito central «a deteção de biomarcadores de stress de forma não invasiva e em sito, ou seja, podermos monitorizar, a qualquer momento, como é que está o estado de stress de cada indivíduo e o objetivo final será, naturalmente, a obtenção de um sensor e a sua integração em têxteis».

A ideia era detetar o stress «sem usar biossensores ou sensores caríssimos em que temos de determinar cada uma das moléculas individualmente. Então, o objetivo era utilizar conjuntos de biomoléculas, relacionadas umas com as outras, que nos pudessem dar uma ideia do nível de stress em termos de, vamos imaginar, pouco ou nada stressado, stressadíssimo e a rebentar de stress, digamos assim. São esses conjuntos que tentámos determinar», revelou.

O projeto permitiu analisar e detetar 26 moléculas que se encontram no suor com capacidade para serem biomarcadores, com os resultados das análises ao sangue a confirmarem as conclusões retiradas com base no suor. «Foi a primeira vez que conseguimos determinar essas variações [entre repouso e exercício] no suor e o facto da mesma variação ocorrer no sangue, de certa forma valida a metodologia que estamos a usar», indicou a investigadora. «A tendência é mais ou menos a mesma em várias moléculas e, portanto, isto permitiu-nos escolher conjuntos de moléculas, tal como era o objetivo inicial, para obter, então, um sensor de stress de baixo custo e passível de ser integrado em têxteis», acrescentou.

A investigação foi realizada com recurso a voluntários do exército, uma população muito controlada, que foi essencial para a obtenção e deteção destes biomarcadores. «A composição do suor depende de imensos fatores, não só individuais, mas também ambientais, e o facto de usarmos voluntários da Academia Militar significa que estamos a usar voluntários que são cadetes internos e que, do ponto de vista ambiental e alimentar, têm as mesmas condições. Portanto, eliminamos uma série de fatores que possam trazer variabilidade», explicou Cristina Cordas.

Aplicação em diferentes áreas

Embora o projeto tenha espoletado o interesse do Exército, até porque uma maior informação sobre o stress a que os indivíduos estão submetidos pode ajudar a «evitar incidentes, a melhorar a performance geral dos militares em campo e a evitar situações de tal forma stressantes que possam levar, depois, a síndromes de stress pós-traumático», os resultados poderão ser usados noutras áreas. «Pode ter implicações muito importantes na sociedade, não só para o desporto de alta competição, mas também porque a obtenção de novos biomarcadores é importante igualmente para obter sensores para doenças e para monitorizar o estado geral de bem-estar e de saúde da população», salientou a investigadora.

Em suma, apontou Cristina Cordas, «conseguimos descobrir uma série de moléculas com potencial para serem biomarcadores de stress, mas que podem ser facilmente aplicadas a outro tipo de condições e até doenças. Conseguimos ter uma boa correlação entre conjuntos que permite simplificar o sensor e baixar o custo. Conseguimos fazer isto através de um fingerprint eletroquímico, portanto, fazendo por regiões de aplicação. Estamos agora a tentar testar e fazer a prova de conceito que, infelizmente, não foi possível conseguir devido aos atrasos do covid e, naturalmente, precisaríamos de um pouco mais de campanhas de campo para conseguirmos ir um pouco mais além e distinguir mesmo a parte emocional da parte física».