À noite, Lalo Lopez, dirige-se a um pequeno estúdio de filmagens em Xangai para transmitir online. O seu trabalho é apresentar uma grande quantidade de produtos chineses que vão desde calções ciclista a aspiradores do pó, centrando-se nos falantes de espanhol que estão nos vários pontos do mundo.
Com 33 anos, Lalo Lopez descreve-se como artista, dj e youtuber e, graças a estas funções e à sua influência, faz parte do número crescente de apresentadores estrangeiros contratados por agências comerciais chinesas com o objetivo de exportar a tendência das compras online e ao vivo para outros países.
De acordo com as estimativas, as compras ao vivo representam quase 70 mil milhões de dólares na China (57,62 mil milhões de euros), já que são dezenas os influenciadores que testam produtos em direto através de transmissões nas redes sociais que, ao longo dos últimos anos, passaram a representar uma parte importante para os modelos de negócio da atualidade.
Com provas dadas do sucesso desta prática, as empresas chinesas estão, por isso, a contratar talentos estrangeiros para fazerem estas apresentações de produtos, com o objetivo de abarcar um público mundial.
Lalo Lopez, que agora vive na China, é exemplo disso e foi contratado pela Linkone Interactive, uma agência de marketing sediada em Pequim, que decidiu apostar no criativo, quando percebeu a dimensão dos vídeos realizados por ele para o Youtube e para o Instagram.
«É mais fácil para mim dirigir-me a um público de língua espanhola, porque partilhamos as mesmas raízes culturais», explica Lalo Lopez à AFP, que pode receber até 226 dólares por uma única sessão.
A influência e os resultados das pessoas que trabalham com o digital têm vindo já a ser reconhecidos pelas empresas, motivo pelo qual a Linkone Interactive está a formar apresentadores estrangeiros há quase dois anos, segundo Zhang Zhiguo, CEO da agência, que soma cerca de 50 influenciadores, metade deles a viver na China, para atingir mercados como os EUA, França e Espanha.
Mercado de milhões
O live shopping é mais uma extensão do comércio eletrónico que a imprensa estatal chinesa está a divulgar para combater a pobreza nas áreas rurais. Desta forma, será possível, por exemplo, apoiar o trabalho dos agricultores, que passam a ter a oportunidade de vender produtos, como chá, online.
A comprovação do sucesso das compras ao vivo chegou em junho quando as empresas que integraram o festival de compras da plataforma chinesa Taobao geraram vendas superiores a 14,9 milhões de dólares.
Desde 2016, o sector de retalho tem visto resultados quando o Taobao e a JD.com lançaram os primeiros websites de compras ao vivo, que deverão, este ano, gerar mais de 150 mil milhões de euros, segundo um estudo da KPMG e da AliResearch, uma filial da gigante chinesa Alibaba.
Investir recursos
Rapidamente, nas palavras de Zhang Zhiguo, uma transmissão passou de captar «algumas centenas de espectadores» para ser «normal ter vários milhões de visualizadores».
«Depois do sucesso das sessões ao vivo no website de vídeo Douyin e no Taobao, as empresas chinesas estão prontas para tentar a sua sorte e investir recursos nisso», assegura o diretor de planeamento.
As compras ao vivo continuam a ser secundárias em países como a França, mas estão a emergir noutros mercados, como é o caso da Rússia, aponta Alice Roche, apresentadora de Xangai, que transmite em inglês e francês. «As compras ao vivo são uma nova forma de consumir. Dentro de alguns anos, será a principal forma das pessoas escolherem os produtos», acredita.
