Como agir com um mau pagador?

A cadeia Matalan foi recentemente alvo das maiores críticas devido à forma como tem tratado os seus fornecedores. O fórum "Private Business" revelou, no Outono passado, que a Matalan tinha exigido um desconto de 2% aos fornecedores, para ajudar a superar «circunstâncias negociais difíceis». Talvez previsivelmente, a Matalan argumentou que se tratava de «uma contribuição esporádica» e afirmou que não era nada comparado ao que outros retalhistas cobravam aos seus fornecedores. «…a Matalan fez o que muitos outros retalhistas fazem» afirmou um porta-voz de Matalan. «Se não alcançarmos preços mais baixos, não alcançamos uma facturação mais elevada e todos ficam a perder». Mas para além do desconto, os fornecedores foram igualmente notificados que teriam que começar a pagar pelo número de facturas submetidas à empresa. Tudo isto aconteceu pouco tempo depois da Matalan apresentar lucros no valor de 36 milhões de libras esterlinas. Um outro acusado, a New Look, decidiu atrasar os pagamentos aos fornecedores em 15 dias, responsabilizando pelo atraso «o crescente investimento em novos espaços», isto é, a aquisição de 34 lojas ex-Littlewoods e novas lojas na Bélgica e na França. De igual modo, o retalhista M&S afirmou que o seu corte de 5% nos pagamentos era justificável na medida em que gerou muito negócio aos fornecedores. Outros argumentaram, todavia, que se devia ao extravagante investimento em campanhas de publicidade, com nomes como o da top-model Erin O' Connor. Esta não é, no entanto, a primeira vez que os fornecedores da M&S ficam a perder. A cadeia de retalho tinha já diminuído os preços em 3,75% em Setembro de 2004 e, em seguida, em cerca de 2,5% em Abril de 2005, no momento em que o CEO da empresa, Stuart Rose, lutava para recolocar a M&S na rota do sucesso.Pagamentos em atrasoMas estes retalhistas não são os únicos a enveredar por uma mudança no sistema de pagamento. De acordo com o Better Payment Pratice Group (BPPG), «uma minoria significante» dos retalhistas atrasa voluntariamente os pagamentos aos fornecedores, pois uma em cada dez empresas britânicas não sente nenhuma obrigação de pagar no tempo estipulado. «Costumava ser ainda pior e, depois, melhorou. Mas apenas até certo ponto», afirma Matthew Knowles da Federação de Pequenas Empresas (FPE). «A legislação ajudou, mas o tempo de pagamento estagnou agora em 46 dias». E os retalhistas parecem peritos em encontrar maneiras de evitar manter os termos de pagamento. A Tesco afirma não ter nenhum crédito de pagamento, enquanto que Matthew Knowles afirma que esta paga as suas contas a partir de uma subsidiária pequena – evitando, desta forma, publicar detalhes do crédito. «São tudo desculpas. As grandes empresas são muito boas em explorar os fornecedores». Isto conduz a uma estimativa de 10.000 pequenas e médias empresas britânicas que, todos os anos, esperam por pagamentos devidos na ordem dos 6,1 mil milhões de libras.Mas esperar pagamentos não é apenas aborrecido ou inconveniente. Uma recente pesquisa do fórum "Private Business" revelou que 60% acredita que os atrasos no pagamento limitam o crescimento da sua empresa. Acima de tudo, os pagamentos atrasados são apontados como principal causa do fecho anual de dezenas de milhares de empresas. «O BPPG acredita que esse excesso da incerteza de quando receberão o que lhes é devido é um problema crucial para as empresas, porque sem controlo da entrada do dinheiro é impossível fazer planos para as despesas quotidianas» afirma Clive Lewis, membro do grupo BPPG.Reputações arruinadas Mas, como o BPPG indica, os pagamentos atrasados não prejudicam apenas os fornecedores; mas podem também ter efeitos adversos nas empresas que os impõem. Pagar mais tarde pode arruinar as reputações das empresas – em parte porque sugere que o comprador atravessa dificuldades financeiras. Adicionalmente, qualquer mau impacto sobre os fornecedores pode significar complicações para o comprador. Além disso, uma vez que os termos do pagamento são alterados, parece haver poucas oportunidades para que os fornecedores desafiem os retalhistas. O porta-voz do fórum, Hardman Matt, sublinhou recentemente que «pouco ou nada podem actualmente fazer os fornecedores afectados, já que os retalhistas que defendem a alteração do pagamento, em caso de queixa, vão acabar por abandoná-los, o que provavelmente representará uma grande perda para o seu negócio». Matthew Knowles, da FPE, sustenta que «muitas das grandes empresas usam empresas de pequeno porte como crédito livre, mas não podem levá-las a tribunal porque correm o risco de perder o seu contrato. Não têm escolha a não ser aceitar se o contrato é grande, mesmo se tiverem que pagar. Muito poucas ousarão tornar o negócio público».Protecção do negócio Mas tal não significa que nada possa ser feito para proteger as empresas das alterações de pagamento. Clive Lewis declara que «é essencial que os homens de negócios se protejam a si próprios, mostrando menos tolerância para com os pagadores atrasados e estabelecendo uma política de gestão de crédito forte».«Isto envolve verificar as práticas dos novos clientes, estabelecer limites estritos e conservá-los, iniciar e manter um relacionamento próximo com o cliente – e rever os registos de pagamento pelo menos duas vezes em cada ano». «Os negócios existem para dar dinheiro, e não apenas para estabelecer contratos, logo é essencial pesar os prós e os contras de fazer novos negócios e isso inclui descobrir se a outra parte pagará atempadamente» adverte. Os retalhistas, por seu lado, devem manter os termos de pagamento iniciais, explicar os procedimentos aos seus fornecedores e certificar-se de que as questões processuais não atrasam os pagamentos. Coimas para os maus pagadoresEm relação a isto, o BPPG sustenta que a ameaça com uma "multa" por atraso de pagamento é potencialmente um impedimento eficaz contra este último. «Uma votação recente feita pelo BPPG revelou que metade das empresa britânicas não sabe calcular esse valor». Acrescentando que «acreditamos que o direito estatutária de juros e compensação sob a legislação do pagamento atrasado são um impedimento importante ao atrasado do pagamento e os negociantes devem fazer total uso dele». Entretanto, o FPB alertou o governo britânico para que desenvolva mais esforços no sentido de ajudar a pequena empresa a compreender os seus direitos em relação aos atrasos no pagamento e a dar prioridade à questão. Uma coisa é clara: é vital que os fornecedores e os retalhistas reconheçam igualmente a importância de respeitar os prazos de pagamento. Como o BPPG sublinha: «Pagar nos termos acordados injecta mais dinheiro na indústria; os fornecedores existentes mantêm-se mais saudáveis; as novas empresa são incentivadas a competir na arena do fornecimento; os compradores beneficiam de uma gama mais vasta de fontes de fornecimento e a economia do país torna-se mais competitiva no mercado mundial».